Em geral, conforme o tempo passa, os carros não necessariamente melhoram. Existem marcas que vão tirando itens de série e equipamentos, além de simplificar seus modelos. Enquanto outras vão fazendo melhorias silenciosas que, vez ou outra, culminam em uma reestilização. E foi exatamente isso que aconteceu com o Toyota Corolla Cross.

Nascido para ser um projeto de baixo custo do sudeste asiático, o Corolla Cross fez tanto sucesso que ganhou o mundo. E isso teve um benefício direto. Afinal, para atender à Europa, EUA e Japão, ele precisou se sofisticar. No final das contas, quem ganhou com isso foi o Brasil, que herdou muitas melhorias no modelo em sua primeira reestilização.

Como as impressões ao dirigir no não foram suficientes, recrutei o Toyota Corolla Cross na versão XRX 2.0 aspirada para uma avaliação mais minuciosa. Por R$ 191.790, ela se posiciona como a variante topo de linha com motor não híbrido, se deixar o esportivado GR-Sport de fora. Aliás, esse é o modelo com melhor custo-benefício.

O que era claro

Para aproveitar a nova safra, a Toyota trocou a embalagem do Corolla Cross. Por fora, ele ganhou novo para-choque dianteiro com um friso cinza que conecta os novos faróis full-LED com seta sequencial. A mudança é sutil, mas suficiente para tirar o aspecto genérico que o modelo tinha e alinhá-lo melhor a outros Toyota.

Na traseira, as lanternas receberam novo arranjo de luzes, mas a polêmica marmita segue lá. O catalizador do escapamento é muito aparente e, mesmo pintado em preto, não deixa de ser presente. Rodas de liga-leve são novas, enquanto por dentro ele recebeu couro preto no painel (antes era bege) novo painel de instrumentos, central revista e freio eletrônico.

É preciso falar, especialmente, do freio. O Corolla Cross sempre teve esse recursos em mercados mais desenvolvidos, enquanto aqui tinha de usar o indecente freio de pé. Uma louvável alteração da Toyota que trouxe ao modelo mais comodidade até que o Corolla sedã, que usa freio de mão regular.

O que não parecia claro

Só que algo mudou no Corolla Cross mais do que aparenta. A Toyota nem fala sobre isso, mas é nítido que a qualidade do modelo está bem melhor do antes. As portas dianteiras, ao serem abertas ou fechadas, não fazem mais o som oco e barato de antes. O mesmo vale para o isolamento acústico, que está melhor.

Mas talvez o maior destaque seja a rodagem. Tudo bem que ele não tem suspensão traseira multi-link como o Corolla Corolla, mas o Cross se aproximou mais do irmão. Ele roda mais sólido, mais confortável e melhor. Parece que o conjunto de suspensão ficou mais sofisticado, mesmo sem ter sido mudado.

Como resultado, ele se tornou o tipo de carro que é muito confortável para rodar o dia todo, mas sem ficar entediado. Claro que não é o SUV médio mais divertido do mercado, mas é competente e bom de rodar. Boa parte desse bom comportamento se deve também ao conjunto mecânico.

O SUV é equipado com motor 2.0 quatro cilindros aspirado de 175 cv e 20,8 kgfm de torque. Fica devendo em torque para rivais como Jeep Compass com seu motor turbo de 185 cv e 27,5 kgfm. A potência passa os 150 cv do motor 1.4 TSI do Volkswagen Taos, mas ainda fica atrás em torque o VW entrega 25,5 kgfm.

Tem sede, mas anda

O 2.0 aspirado é ligado a uma transmissão automática do tipo CVT com dez marchas, sendo a primeira física. Ou seja, ele tem uma primeira marcha de fato, que faz com que o Corolla Cross arranque com vontade e não faça o câmbio patinar. Depois, entra no CVT de fato e simula muito bem dez marchas ao acelerar acima de meio pedal.

Ironicamente, quando você está a todo vapor, ele deixa de simular marchas, fazendo a maior gritaria e segurando o motor com giro alto para acelerar mais rápido. Isso faz com que o Corolla Cross trabalhe na melhor faixa de torque e chegue aos 100 km/h em 9,8 segundos. Ele anda muito bem, contudo, o consumo não é baixo.

Oficialmente a Toyota declara 11,6 km/l na cidade e 13,3 km/l na estrada com gasolina. Contudo, o Corolla Cross não passou de 8,5 km/l na cidade e 9,8 km/l na estrada com esse combustível. Ao todo, ele rodou 845 km durante nossos testes e precisou de dois tanques e meio para isso. 

Atualização eletrônica

Uma mudança mais do que bem vinda no Toyota Corolla Cross 2025 está no sistemas eletrônicos de auxílio à condução. O piloto automático adaptativo agora freia totalmente o SUV e volta a acelerar ao apertar de um botão. Antes ele era desativado em baixas velocidades. 

Além disso, a marca atualizou o sistema de manutenção em faixa com um funcionamento mais linear e suave. A frenagem autônoma de emergência ganhou a companhia de um sistema de auxílio em manobras. Caso o sensor de estacionamento dianteiro ou traseiro detecte um obstáculo perto e o motorista acelera, o carro freia sozinho.

Há ainda alerta de ponto cego, alerta de tráfego cruzado, farol alto automático e, se o pior acontecer, ele conta com seis airbags de série. A versão topo de linha ainda recebeu porta-malas com abertura elétrica (que faz um irritante som de microondas quando funciona), teto solar elétrico e banco do motorista com regulagem elétrica. 

A lista de itens de série traz ainda carregador de celular por indução, central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, painel de instrumentos totalmente digital, chave presencial, câmera de ré, ar-condicionado digital de duas zonas, auto-hold, sensor de chuva e farol, além de retrovisor fotocrômico.

Legado Corolla

No interior, além da mudança de cores de revestimento, o painel de instrumentos totalmente digital é o grande destaque. Ele tem tela de ótima definição, mas é um pouco confuso e burocrático para mexer. Ele traz quatro visuais de mostradores diferentes com três layouts diferentes para cada. 

A central multimídia melhorou muito em relação ao que era antes, mas ainda não é referência. A conexão com o CarPlay, mesmo via cabo, é inconstante e a central comumente trava. A tela é de definição apenas ok e a interface é um tanto quanto antiquada. Só que é uma melhora de fato.

O acabamento interno é referência, mas abaixo do Jeep Compass. O Corolla Cross tem encaixes muito bem feitos, superfícies macias até na porta traseira, além de um visual moderno. O couro usado nos bancos tem boa qualidade, assim como o do volante. Não é tão bom quanto do Honda ZR-V, mas tem montagem melhor que do rival.

O espaço interno é bom. Na frente, o motorista conta com regulagem elétrica para o banco, além de volante com ajuste de altura e profundidade. Na traseira, uma pessoa de 1,87 m de altura se senta atrás de um motorista de mesmo porte, mas raspando o joelho no banco dianteiro. O encosto traseiro pode ser regulado em duas inclinações diferentes.

Os passageiros traseiros contam com saída de ar e duas entradas USB para carregamento de celular. Além disso, há porta-copos nas portas, posicionados de maneira bem inteligente. Já o porta-malas apresenta 440 litros de capacidade, dentro da média da categoria. Ele conta com nichos laterais e ganchos para pendurar sacolas, vale ressaltar. 

Veredicto

Assim como o Toyota Corolla sedã, o SUV Corolla Cross encanta pela competência com a qual entrega tudo. Ele não tem enormes destaques, não é referência na categoria em nada específico, mas não é ruim em nada. É uma compra extremamente segura pela confiabilidade dos nomes Toyota e Corolla, mas também por ser um carro bem feito.

A reestilização fez muito bem ao modelo, muito mais do que os olhos deixam transparecer. Ele deixou de ser um SUV sem graça e genérico para trazer mais personalidade e pequenas melhorias que te encantam no dia-a-dia. O segundo lugar na categoria de SUVs médios nunca fez tanto sentido a ele como faz agora. 

Você teria um Toyota Corolla Cross em casa? Conte nos comentários.

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