Antes do projeto da Fiat Toro existir, nenhuma outra fabricante pensava em fazer uma picape monobloco derivada de um SUV para preencher o espaço entre as compactas e as médias. Nem mesmo a Renault que, apesar de ter lançado a Oroch antes, só o fez porque soube do projeto da Fiat. Mas ela não parecia ter encontrado seu lugar no mundo.
Menor que a Fiat Toro e com preço próximo da Strada, a Renault Oroch sempre pecou por não ter câmbio automático de verdade (dá para desconsiderar o automático de quatro marchas pois ele estava longe de ser decente) e pelo acabamento ruim. A produção limitada também a atrapalhava. Mas agora a Renault quer e vai mudar o jogo.
A Oorch pediu divórcio do Duster e tirou seu nome do documento. Uma jogada inteligente, porque ninguém a chamava de Duster Oroch, além de diferenciar os dois modelos. A picape ganhou para-choques exclusivos, interior renovado com elementos de todos os SUVs da marca e novos motores. Para mais detalhes sobre a mudança, confira o texto clicando aqui.
Lugar ao sol
Vou me ater às impressões que a nova Oroch passou e finalmente parece que a Renault encontrou um lugar para ela. Ao invés de tentar brigar com a Toro, a picape vai enfrentar as versões de topo da Strada com as variantes 1.6 e provocar uma bela dúvida em quem pensa em uma Toro Endurance ao ver a Oroch Outsider, como a testada aqui.
O porte é justamente intermediário entre elas e o acabamento também. Os materiais tem qualidade semelhante aos usados no Duster: são plásticos, mas bem montados e de qualidade. É um resultado bem superior ao Captur, que tenta disfarçar sua qualidade de Kwid com uma superfície macia ao toque na parte superior do painel.
Problema foi a mistura de volante de Sandero, com painel de instrumentos de Captur e peças de Duster. A salada mista até funciona, mas fica a impressão de que a Renault quis economizar o máximo que poderia, sem usar plásticos de qualidade ruim. A vantagem foi o acesso a tecnologias como a central multimídia que agora tem Android Auto e Apple CarPlay sem fio.
Ergonomia ruim continua com volante sem ajuste de altura e banco com espuma muito dura na lombar. Há ainda três lugares diferentes que precisam ser acessados para operar o piloto automático: botão no painel do lado esquerdo, teclas do lado esquerdo do volante e outras teclas do lado direito. Uma complicação desnecessária.
Robustez e chão
A mistureba na cabine também foi vista no comportamento da Oroch, mas dessa vez por um lado positivo. Ela tem a reconhecida robustez do Duster, enfrentando ruas esburacadas, valetas e imperfeições sem dificuldade. A suspensão absorve bem os impactos e mostra um trabalho silencioso e bem isolado. Aguenta o tranco como poucos carros de mesmo preço.
Do Sandero RS veio o apetite pelas curvas. É notável como essa picape gosta de fazer curvas fortes e se manter estável e centrada. Vai melhor que o Duster e se aproxima de um hatch, não balançando excessivamente e sem cantar seus novos pneus Michelin.
A direção eletro-hidráulica contribui para a velocidade nas reações, mas é desnecessariamente muito pesada nas manobras, além de tremer no fim do curso. Rodando, porém, assume um peso adequado e bom para uma tocada mais apimentada.
Reforços estruturais e mudanças na plataforma, feitas para o Duster, mostraram resultado na Oroch bem mais do que o que foi visto no Captur reestilizado.
Estrela da família
Mas o que merece verdadeiro elogio à Renault Oroch é o acerto maestral do motor 1.3 turbo com o câmbio CVT. Mesmo conjunto visto em Duster e Captur, o quatro cilindros turbinado entrega saudáveis 170 cv e 27,5 kgfm de torque. Por ser mais leve que a Toro, mesmo com menos potência, chega ao 100 km/h em 9,9 segundos, quase 1 segundo antes da rival.
O câmbio CVT trabalha esperto e sobe a rotação do motor sempre que necessário, mas sem o efeito enceradeira. Ele simula trocas de marcha em momentos de acelerações mais fortes, enquanto no dia-a-dia controla bem os níveis de rotação do motor para não irritar o motorista e aproveitar o torque em baixa do motor 1.3 turbo.
É o melhor acerto entre os carros com CVT no Brasil. Pena que o consumo seja alto: 7,8 km/l na estrada e 7,4 km/l na cidade com etanol. Na gasolina ela melhora: 11 km/l na estrada e 10,5 km/l na cidade.
Veredicto
As mudanças na Renault Oroch vão bem além do que os olhos veem. Apesar dos problemas de ergonomia, ela é muito mais gostosa de dirigir do que teria direito por seu preço e origem mais franciscana que da Fiat Toro. É agora uma real alternativa para quem acha a Strada muito pequena e simples, mas está longe do orçamento para uma Toro mais completa. Basta que o potencial que ela tem para vender bem mais do que antes se concretize no mundo real.
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