Há uma verdadeira revolução dos carros elétricos acontecendo no Brasil. Depois de o expor o quão caro os subcompactos elétricos eram e de o Volvo EX30 causar um rebuliço no mercado seis meses antes de ser verdadeiramente lançado, a Renault chega com o Megane E Tech. Pilar de uma enorme mudança da marca, ele tem papel de destaque.
Ele é o primeiro carro da Renault no Brasil com o novo logotipo, assim como inaugurar a nova linguagem de design Sensual Tech, a qual estará presente também no Kardian, o novo SUV compacto brasileiro. Ou seja, é dele o papel de inaugurar uma nova Renault, que quer se desvencilhar da imagem de Dacia do Brasil. Mas o problema são os rivais.
De hatch para SUV
Parte da grande revolução que o Megane E Tech provocou é própria. Afinal, ele que já foi hatch, sedã, perua, conversível e até minivan (com sobrenome Scénic), agora passa a ser um SUV elétrico. As medidas são bem próximas às de um Volkswagen T-Cross, marcando 4,20 m de comprimento, 1,76 m de largura e 1,51 m de altura, com 2,68 m de entre-eixos.
Para compor o visual de utilitário, ele traz parte inferior da carroceria em preto brilhante, capô reto e rodas grandes (especificamente de 18 polegadas para o Brasil). Em suma, é um carro verdadeiramente bonito e que impressiona aos olhos, especialmente pelo conjunto de faróis e lanternas traseiras.
Por dentro, o Megane E Tech traz elementos visuais modernos, com linhas horizontalizadas e clean, quase como uma escola Volvo de design, mas com certo ar de Peugeot. Isso se dá por conta do volante quadrado e das costuras verdes nos bancos, normalmente encontradas nos modelos elétricos do leão. Mas também pelo tecido do painel, parecido com o do 3008.
A tela do painel de instrumentos é configurável e muda de cor de acordo com o modo de condução selecionado. Já a central multimídia não veio para o Brasil em seu maior formato, mas a tela de 8 polegadas presente é mais do que suficiente e é rápida de usar, com menus claros e tem qualidade bem além da média.
Lados opostos
Apesar de ter assumido o posto de SUV, o Renault Megane E Tech te permite dirigir baixo como um hatch. A regulagem dos bancos é feita de maneira manual, enquanto a maioria dos rivais traz sistema elétrico. Contudo, os bancos são confortáveis e achar uma posição para guiar é muito fácil.
Na traseira, o espaço é bem apertado, especialmente para as pernas. Por conta das baterias, o piso é alto, fazendo com que o passageiro fique com o joelho excessivamente elevado, causando desconforto. Além disso, a cabeça raspa no teto, enquanto a linha do vidro deixa as coisas um tanto quanto claustrofóbicas.
Em compensação, o porta-malas é enorme: são 440 litros e um espaço extra de 32 litros para colocar cabos e outras quinquilharias. É , ainda que seja uma área bem funda, mas bem aproveitada. O porta-malas, vale lembrar, não tem abertura elétrica.
Inesperado refinamento
Um dos pontos que mais chamou atenção no Megane E-Tech é o nível de refinamento na construção quando comparado a outros modelos da Renault no Brasil. O SUV elétrico tem isolamento acústico primoroso, rodando silencioso a todo tempo e cortando até ruídos de pneu.
Além disso, a suspensão filtra muito bem as superfícies ruins do asfalto. Não chega ao nível de robustez do Duster, mas não é o tipo de carro que reclama de valetas e buracos na via, absorvendo bem os impactos do queijo suíço que chamamos de asfalto no Brasil. Nas curvas, mantém o Megane firme como o hatch que um dia ele foi.
A direção também merece destaque. A calibração é bem neutra, nem tão dura e esportiva, mas não tão molenga e boba. Contudo, é bem rápida e direta. Ela necessita de menos voltas para fazer a mesma curva quando comparado a outros carros de porte semelhante. Ou seja, mesmo com a mudança de ares, mantém seu lado esportivo.
Eletrificação apimentada
Com 220 cv e 30,6 kgfm de torque, o Renault Megane E-Tech é mais potente que o BYD Yuan Plus (204 cv e 31,6 kgfm), mas tem menos torque. Já comparado ao Volvo XC40 de entrada, o Renault perde, já que são 231 cv e 33,6 kgfm. Essa faixa de potência e torque é uma zona confortável para os elétricos.
Afinal, são números suficientes para fazer com que uma tocada mais animada, mas não suficientes para te fazer passar mal com uma aceleração. É divertido e muito mais rápido que um equivalente a combustão, tendo como grande destaque a instantaneidade com que o Megane entrega toda força e acelera sem dó.
No modo Eco, o acelerador fica bem anestesiado, dando a impressão de que ele é fraco. Mas basta voltar ao Comfort ou no Sport, que o humor do Megane muda. A regeneração é feita em quatro estágios selecionados pelos paddle-shifts, que deveriam ser obrigatórios em todos os carros elétricos. Funciona instantaneamente e ajuda a estender a autonomia.
Oficialmente, a Renault declara 337 km de autonomia no ciclo do INMETRO. Contudo, medições gringas mostra 495 km na cidade e 463 km na estrada. Como o ciclo brasileiro é pessimista demais, dá para dizer com facilidade que o Megane passa dos 400 km de autonomia sem dificuldade.
Veredicto
Bem equipado, muito bonito e bom de andar, o Renault Megane E Tech é uma escolha fácil no segmento. O problema é o preço: por R$ 279.900, ele fica posicionado entre o Volvo XC40 e o BYD Yuan Plus, mas oferecendo menos espaço interno e refinamento. É uma alternativa muito justa aos dois, mas verdadeiramente uma alternativa.
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