Vou ser direto e reto nessa avaliação do Renault Megane E-Tech. Esse é o melhor carro que a marca francesa já vendeu no Brasil. Ainda bem que o novo Kardian foi fortemente influenciado por ele. Mas não dá para recomendar a compra do por R$ 279.900 quando existem modelos equivalentes por R$ 100 mil a menos.
Sei que é uma maneira dura de começar a avaliação de um carro que é verdadeiramente muito bom. Mas, honestamente, o único problema de verdade que o Renault Megane tem no Brasil é ser mal precificado. Com BYD Dolphin Plus saindo por R$ 179.800 tendo porte e equipamentos semelhante, mas mais autonomia e potência, a situação é tensa.
O problema se agrava quando consideramos que a Renault agora posiciona o Megane como um SUV elétrico, não mais um hatch como antigamente. É território onde ele tem de enfrentar BYD Yuan Plus de R$ 229.800 e Peugeot e-2008 por R$ 159.990. Dois modelos que até perdem para o Renault em alguns critérios, mas são bem semelhantes.
Bela beleza
Ok, já falamos suficientemente do maior problema que o Renault Megane tem no Brasil, hora de explorar suas qualidades – que não são poucas. É inegável o quão bonito esse carro ficou. Agora um SUV, ele ganhou capô reto e bem marcado, arcos de roda decorados por plásticos preto,s carroceria musculosa e alta, mas vidro baixo com linha de cintura alta.
A postura de carro esportivo é nítida, exalando personalidade. A dianteira é decorada por faróis finos que descem delicadamente ao para-choque por meio de um facho de LED. Ao destrancar o carro, eles fazem um show de luzes. No Brasil, todo Megane tem teto preto, o que ajuda a dar mais sofisticação.
A traseira tem lanternas conectadas com iluminação 3D feita por feixes de LED. Completa o conjunto a presença de rodas de liga-leve diamantadas de 18 polegadas. Pena que a Renault só trouxe duas opções de cinza e um azul escuro para o Megane. Lá fora ele tem um belíssimo tom de vermelho e um branco com detalhes dourados que dão um toque ao SUV.
Por dentro, o acabamento é bom e poderia ter sido repicado com mais proximidade no Kardian. Ele tem uma faixa gigante de tecido no painel, acompanhada por uma sessão de alcantara. As portas são forradas em couro, mas há plástico duro na parte superior, enquanto os porta-objetos recebem carpete.
É interessante que a Renault optou por usar couro em zonas de alto contato, como volante e apoios de braço, além das quinas dos bancos. Contudo, o centro dos assentos traz tecido cinza bastante confortável. Vale lembrar que uma boa parte do interior do novo Megane traz materiais reciclados e recicláveis na sua concepção.
Minimalismo organizado
Um dos pontos que mais surpreende na cabine do Megane, além do visual elegante, é a ergonomia. Quase tudo é fácil de alcançar e bem pensado. Temos comandos físicos para o ar-condicionado e algumas funções da central. O volante parece ter botões touch, mas eles são físicos. Já ao lado esquerdo, o motorista tem acesso fácil a comandos de condução.
O console central é modular e traz nichos que podem ser personalizados pelo motorista. O descansa-braço esconde um grande porta-objetos e as duas entradas USB-C que são responsáveis pela conexão do Android Auto e do Apple CarPlay. Mas, se o motorista preferir, pode espelhar o celular sem fio e usar o carregador por indução abaixo da central.
Por falar nisso, as telas do Megane são muito boas em qualidade de imagem e rapidez de uso. pena que a Renault optou por trazer a central multimídia menor para o Brasil. O painel de instrumentos é fácil de usar, mas carece de mais recursos e personalização, contando apenas com duas opções de telas e cores sempre conjugadas ao modo de condução.
Só que toda esse acerto ergonômico vai para os ares por conta do excesso de coisas no lado direito do volante. A Renault deixou a manopla de câmbio paralela à haste do limpador e próxima demais dos comandos de som. Para controlar o rádio, havia espaço no volante, enquanto os comandos do limpador comumente são acionados sem querer ao engatar a ré.
Tipicamente francês
Um ponto que parece ser comum aos carros franceses raiz (não aos derivados da Dacia como Sandero, Logan, Stepway e Duster), é a segunda fileira apertada. No Megane, quem senta atrás tem de enfrentar um piso muito alto e falta de espaço para a cabeça. Além disso, a curvatura do teto faz ele ficar um tanto claustrofóbico.
Por outro lado, os passageiros da frente não tem problemas quanto ao espaço. Já o porta-malas, de 440 litros, é enorme, sendo maior até do que de alguns sedãs. A questão só é que ele é bem fundo, exigindo um esforço extra para colocar e retirar as cargas. Seria interessante se tivesse um divisor como o BYD Dolphin Plus tem.
Elegância de Paris
Na hora de dirigir, o Renault Megane E-Tech apresenta uma elegância de condução que há tempos não vemos em um carro da marca por aqui. São 220 cv e 30,6 kgfm de torque providos por um motor elétrico posicionado na dianteira. Em modo normal, ele acelera linearmente sem sustos.
Já em Eco, fica manco, como se cortassem metade dos cavalos. Já em Sport, ele entrega força bruta com acelerações vigorosas e fortes. É incrível como cada modo de condução verdadeiramente transforma o comportamento desse Renault. São precisos 7,4 segundos para chegar aos 100 km/h. Ou seja, é rápido, mas não bruto.
A bateria de 60 kWh é capaz de levar o Megane a 337 km, segundo o ciclo INMETRO. Contudo, durante os testes, mesmo usando severamente na estrada, ele beirou os 400 km com uma carga. Compatível com carregadores de 130 kW, ele tem carga rápida garantida, recuperando toda bateria em meia hora em carregadores rápidos.
Há de lembrar também que ele conta com aletas atrás do volante para controlar o sistema regenerativo. Ele conta com quatro graus de recuperação, sendo o último forte como o freio. É possível controlar muito bem o carro por eles, mas falta um modo totalmente solto, que ajuda muito a economizar bateria na estrada.
Legado do Megane
Apesar de ter ficado mais alto e assumido a postura de SUV, é interessante como o Megane ainda se comporta como um hatch. O piso da cabine é alto, tornando a posição de dirigir baixa, mas com visão mais alta. Como as baterias ficam no solo do carro, a dinâmica ficou interessante, pois o centro de gravidade não subiu tanto.
Nas curvas, ele ataca como antigamente, mantendo a compostura e um controle exemplar de hatch médio. A direção é bem calibrada, ficando em um ponto mais neutro: não é excessivamente pesada, muito menos boba e molenga. É uma calibragem que pende mais para a esportividade e que certamente agrada aos brasileiros.
Os sistemas de auxílio de condução são bem feitos, com piloto automático adaptativo funcionando de maneira linear, enquanto o sistema de manutenção em faixa consegue manter o Megane no lugar. Não é tão bem calibrado quanto os carros da Honda e da Volvo, mas já é melhor do que os BYD e GWM.
Topo com topo
Vendido no Brasil em configuração bem completa, o Renault Megane conta com ar-condicionado digital de duas zonas, piloto automático adaptativo, frenagem autônoma de emergência, assistente de manutenção em faixa, câmera traseira auxiliar no retrovisor (essencial, porque a visão traseira é ruim) e chave presencial.
Há ainda seis airbags, controle de tração e estabilidade, farol alto automático, alerta de ponto cego, câmera de ré com definição péssima, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, volante com ajuste de altura e profundidade, freio de estacionamento eletrônico, retrovisores elétricos e aquecimento nos bancos dianteiros.
Veredicto
É um fato mais do que nítido que o Megane é o melhor carro que a Renault já trouxe ao Brasil. Ele é divertido de dirigir, tem interior refinado, é inegavelmente muito bonito, tem boa potência e autonomia suficiente. É um carro que precisa ser espelho para os novos Renault e, felizmente, já influenciou o Kardian.
Só que não é possível justificar seu preço de R$ 279.900 perante uma concorrência que oferece o mesmo por R$ 100 mil a menos (ou até valores mais baixos). No final das contas, o Megane servirá muito como um carro de imagem para a Renault: aquele que é referência, mostra do que a marca é capaz de fazer, mas que ninguém vai comprar.
Você acha que o Renault Megane teria mais chances no Brasil com um preço mais baixo? Conte nos comentários.
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