Eu sei, a eletrificação dá medo. Pensar que os carros a combustão que tanto amamos chegarão ao fim em breve é algo dolorido para quem gosta de carro. Ainda mais em modelos emblemáticos e esportivos como os da Mini. Mas calma que o Countryman Cooper SE mostra que essa eletrificação pode não ser tão ruim assim.
Até 2030 a Mini se tornará uma marca de carros 100% elétricos. Então esqueça dos modelos John Cooper Works com 306 cv emitindo um ruído grosso pelo sistema de escape. Daqui para frente será silêncio total. Porém isso vai tirar o espírito Mini? Já adianto: não. Pelo menos na eletrificação parcial do Countryman Cooper SE de R$ 289.990.
Grudado na tomada
A grande questão sobre os carros da Mini nunca foi a potência de números invejáveis. Eles são carros bons de dirigir. Que entregam muita diversão ao volante, até mais do que suas dimensões compactas deveriam permitir.
Sendo o mais corpulento dos Mini, e ainda eletrificado, o SUV Countryman poderia até fugir e muito do modus operandi da casa. Mas não é assim. Ele mantém a sensação de kart presente em outros modelos da marca. A direção, por exemplo, é extremamente direta: apontou para a curva e ele vai com tudo.
Com assistência elétrica, ela é excessivamente pesada nas manobras, fazendo parecer que o Countryman é um mamute de 3 toneladas. Enquanto, na realidade, ele tem 1.715 kg – próximos aos de um Renegade diesel. Já em velocidade, o peso se ajusta à condução mais esportiva do SUV compacto.
Esse comportamento veloz é visto também nas curvas. O Countryman agarra no asfalto com ímpeto e força. É difícil fazer com que seus pneus 225/45 R19 cantem, enquanto a carroceria se mantém firme e longe do limite. É mais provável que o cérebro desloque do lugar do que o Mini perca a trajetória em curva.
Combinados e divididos
Isso tudo é auxiliado também pelo sistema de tração integral ALL4. Diferentemente de outros Mini, no entanto, a força nas quatro rodas só é possível porque o motor elétrico é instalado na traseira. Já o motor a combustão impulsiona apenas as rodas dianteiras.
Na frente, um 1.5 três cilindros turbo de 136 cv e 22,4 kgfm de torque. Lá atrás, um elétrico de 88 cv e 16,8 kgfm e torque. A junção de forças faz com que o SUV compacto tenha 224 cv e 39,3 kgfm de torque disponíveis no pé do motorista. E a resposta é prontamente instantânea.
O torque do motor elétrico é entregue na hora como se uma luz fosse acesa. Não é uma patada violenta como o torque das versões JCW, mas ainda assim forte o suficiente para tirar um sorriso do rosto. Com o pé no porão, os dois motores entregam o máximo de potência e torque para chegar aos 100 km/h em 6,8 segundos.
Além do torque instantâneo, o motor elétrico permite baixar o consumo do 1.5 turbo. Segundo o Inmetro, o Countryman Cooper SE faz 22,3 km/l na cidade e 23,6 km/l na estrada. Em nossos testes o modelo teve médias de consumo que chegavam a mais de 50 km/l, mas por culpa do uso extenso do motor elétrico.
Vale lembrar que o Countryman híbrido tem diversos modos de condução diferentes. Para o carro como todo, existem as opções Green (reações dos pedais mais mansas e ar-condicionado com eficiência reduzida), Mid (normal) e Sport (uso dos motores combinados a todo tempo).
Já para gerenciamento de bateria há opções eDrive Auto (o próprio carro gerencia como melhor usar os dois motores), eDrive MAX (motor elétrico é usado com prioridade) e eDrive SAVE (motor elétrico é usado somente em arrancadas e o combustão carrega as baterias).
Gerenciamento de forças
Vale ainda destacar a suavidade da transmissão automática de seis marchas do Countryman. Ela a todo tempo trabalha com suavidade e não se faz presente na condução do SUV compacto híbrido. Mesmo em ritmos mais fortes, a transmissão faz trocas rápida e praticamente não perceptíveis.
Já a suspensão surpreende pelos padrões da Mini. Em geral, os carros da marca são conhecidos por destruir obturações e necessitar de uma fisioterapia para a coluna após uma volta em ruas esburacadas. O Countryman não. De fato, é um carro mais durinho e firme, mas não chega a ser algo insuportável no dia-a-dia como a perua Clubman John Cooper Works.
Retrô chique moderninho
Na linha 2021, o Mini Coutryman passou por mudanças visuais que deixaram o SUV mais moderno visualmente. Ele ganhou novos para-choques e a grade frontal perdeu a cara de bulldog triste. É ainda um estilo ame ou odeie, mas não há como negar ser icônico por relembrar o Cooper do Mr. Been.
Na traseira, as lanternas com desenho da bandeira britânica são um charme à parte. Mas há de notar os exageros da versão Cooper SE. O emblema elétrico na traseira é grande demais, assim como o bocal de abastecimento elétrico na lateral. Acaba por chamar atenção em excesso para algo que era para ser somente um detalhe.
Já por dentro, a Mini parece estar seguindo pelo mesmo padrão da BMW em seus últimos lançamentos. É um visual agradável, mas que passa um pouquinho do ponto em alguns elementos e beira o cafona. Exemplo é a luz interna que vai além de discretos filetes nas portas e vai até ranhuras no painel. Ela pode ficar mudando a tonalidade, ainda por cima.
Outro ponto é a central multimídia instalada em um gigantesco círculo no centro do painel. A ideia era remeter ao velocímetro central do Mini original. Mas a tela ficou relativamente pequena e há muitos elementos plásticos em torno sem função. Penalidade também para a central por ser confusa de mexer e ter GPS com mapas bagunçados.
Pena por ter uma tela de ótima definição e boa velocidade de atuação. Outra falta é não ter Android Auto. Essa era uma falha que os carros da BMW também compartilhavam, mas que foi sanada recentemente. Do lado tecnológico ainda há painel de instrumentos totalmente digital que acompanha o volante nos ajustes.
Em questão de acabamento, o Countryman entrega esmero e muito cuidado. Há várias superfícies macias ao toque e couro em diversas partes do painel. Ponto positivo para os bancos confortáveis e com costuras tipo diamante, que acrescentam requinte.
Lá atrás o espaço é apenas suficiente, mas melhor que outros carros da Mini. O lado familiar fica por conta da inclinação ajustável do assento traseiro em diversas posições. Porta-malas de 405 litros é grande e conta com abertura elétrica. O funcionamento da abertura por aproximação é fácil e funciona na grande maioria das vezes.
Topo do top
Avaliado na versão topo de linha Cooper SE Top, que fica abaixo apenas da esportiva John Cooper Works, esse Countryman vem lotado de itens de série. Estão lá os faróis full-LED, sensor de chuva e luminosidade, chave presencial, teto panorâmico, bancos dianteiros elétricos com aquecimento, retrovisor elétrico, câmera de ré e sensor de ré.
Engrossa a lista de equipamentos a presença de head-up display colorido, ar-condicionado digital de duas zonas, frenagem autônoma de emergência, monitoramento de pressão dos pneus, controle de tração e de estabilidade e luzes diurnas de LED.
Por ser um carro tão caro e concorrer diretamente com o Volvo XC40, que também é híbrido, algumas coisas fizeram falta. O Countryman poderia ter piloto automático adaptativo ou algum outro recurso de segurança ativa além da frenagem de emergência. Já um sensor de estacionamento dianteiro, apesar de suas dimensões contidas, também poderia fazer parte do pacote.
Veredicto
Divertido de dirigir, com interior esmerado e com consumo de carro popular, o Mini Countryman Cooper SE Top mostra que o futuro não é tão ruim assim quanto se pensa. Ele ainda mantém o espírito da marca e entrega sorrisos no rosto do motorista tal qual um Cooper entrega.
O que esbarra na vida do Countryman é seu preço. Quase R$ 300 mil por um modelo menor e menos equipado que um Volvo XC40 híbrido é um tanto quanto complicado. O Mini é uma escolha melhor se a diversão ao volante é prioridade máxima. Agora se a escolha é por um SUV híbrido, melhor olhas na concessionária escandinava.
>>Mini Cooper SE elétrico já está em pré-venda por R$ 239.990
>>Comparativo: A35 AMG e Clubman JCW na disputa dos 306 cv
>>Avaliação: Mini Clubman JCW não é o tipo tradicional de perua, ainda bem