A Renault é uma marca de fases no Brasil. Começou como importada, se nacionalizou com a Scénic e com uma linha bem europeia, mas só ganhou força no mercado ao apelar para modelos da Dacia. Cansada de ver as pessoas comprando seus carros através de planilhas, ela quer mudar o estigma com o novo Kardian.
Construído sobre a nova plataforma modular RGMP (Renault Group Modular Platform), o Kardian é o primeiro e menor modelo dessa nova fase da marca por aqui. Ao invés de focar em carros de baixo custo, sedutores apenas pelo lado racional, ela vai focar em lucratividade com carros melhores e mais interessantes.
Alma de Sandero, tempero de Megane
Um dos pontos mais fortes sobre o novo Renault Kardian é sua dirigibilidade. Ele é daquele tipo de carro que pode não ser tão atraente aos olhos ou até pelo preço (especialmente porque custa o mesmo de um Duster ou de um Tiggo 7 Sport), mas encanta pelo acerto dinâmico pensado em agradar ao brasileiro.
O Renault Kardian tem muito chão, surpreendentemente. A Renault já havia mostrado com Oroch e Duster que é possível fazer um carro alto que faz curvas bem, e isso segue no Kardian. Em estradas sinuosas, o SUV compacto se mantém firme e em linha.
Ao mesmo tempo em que absorve muito bem os impactos causados por buracos e imperfeições. Na terra, ele passa em alta velocidade por pedregulhos e cascalhos como se não sentisse. É interessante notar que ele tem a robustez que sempre foi inerente ao Duster, mas uma pegada que não está longe do Sandero RS.
Casamento bom, mas polêmico
Há outra característica a qual a Renault vem surpreendendo nos últimos tempos: casamento de motor e câmbio. O 1.3 TCe quatro cilindros turbo é um motor muito bem pareado ao câmbio CVT. E agora como o 1.0 turbo e a transmissão de dupla embreagem com seis marchas, a junção novamente foi bem feita.
O motor e o câmbio se comunicam bem, mostrando reações rápidas da caixa automatizada de dupla embreagem junto ao tricilíndrico turbinado. São 125 cv, potência intermediária entre VW Nivus e Fiat Pulse. Contudo, o torque de 22,4 kgfm é maior do que o dos dois rivais.
A escolha da Renault em adotar uma transmissão de dupla embreagem é polêmica, especialmente por conta do receio do público quanto a essa caixa por conta do histórico do Powershift da Ford. Mas a marca garante que já existem 1,3 milhão de carros com esse câmbio na Europa e, por ser banhada a óleo, é mais robusta.
Seu funcionamento é ótimo, garantindo trocas espertas e nos momentos corretos. Comparado ao câmbio do Nivus, que é um automático tradicional, mas insiste em trocar de marcha na hora errada, o Kardian não se comporta assim. As trocas são suaves e o no tempo certo, segurando marcha quando é necessário somente.
O acerto dinâmico, junto ao motor e câmbio do Kardian o tornam bom de dirigir. Ainda fica um passo atrás do Nivus em prazer ao volante, mesmo com o câmbio ruim do VW. Só que, no consumo, o Renault ganha. Com gasolina são 13,1 km/l na cidade e 13,9 km/l na estrada, com etanol faz 9 km/l e 9,7 km/l respectivamente.
Evoluções de família
Com o Duster de segunda geração, a Renault já havia provado que era possível fazer um interior com plásticos de boa qualidade e visual agradável. No Kardian, ela foi um pouco além, adotando materiais macios no painel e elementos que ajudam a agregar valor.
Claro que ainda está longe de um acabamento ótimo, mas para a faixa de preço e categoria, o Renault acerta com o uso de plásticos duros de qualidade e bem montados. As texturas são interessantes, trazendo elementos preto brilhante em partes de pouco toque, além de uma faixa luminosa e sessão de couro no painel.
O console central alto ajuda nessa sensação de sofisticação extra que a Renault quer passar no Kardian. Ele traz porta-copos e dois porta-objetos grandes. A manopla de câmbio estilo joystick feita em borracha poderia ter recebido couro, enquanto o freio de estacionamento eletrônico é algo que só o Pulse Abarth tinha na categoria.
Atualizações futuras
Agora se há um ponto forte a criticar no Renault Kardian são suas telas. A central multimídia tem tela de definição horrível, lavada, com película fosca que atrapalha a visão, além de ter pedido arrego no calor forte que fazia no dia do test-drive do modelo em Gramado, RS.
Ela conta com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, suplantados por um carregador de celular por indução com refrigeração feita pelo ar-condicionado. Só que isso não compensa a qualidade da tela bem aquém do esperado. As câmeras, posicionadas nos cantos do carro, não formam imagem 360º e ainda tem péssima definição.
Já o painel de instrumentos é apenas ok. Totalmente digital, ele tem tela inclinada demais, poucas funções, mas a leitura é fácil e rápida. Merecia um painel melhor, visto a função de agregar valor à Renault que o Kardian tem nesse momento delicado para a marca.
Amplitude
Se há um ponto no qual o Renault Kardian se destaca perante seus concorrentes é na cabine. Por dentro, o SUV compacto da marca francesa tem espaço farto, tanto para quem senta à frente, quanto para os passageiros traseiros. O porta-malas leva 358 litros na medição VDA ou 410 litros na medição que a rival Stellantis usa.
Na frente, o motorista conta como item de série em todas as versões, o ajuste de profundidade e de altura do volante. Ele tem ajustes amplos, possibilitando encontrar com facilidade a posição correta. O banco também tem amplo ajuste de altura, permitindo que motoristas de vários portes se encontrem confortáveis.
Veredicto
Ainda que tenha de enfrentar o preconceito do brasileiro com a transmissão de dupla embreagem, o Renault Kardian é um bom recomeço para a marca. Assim como Sandero e Logan marcaram uma fase importante, o SUV será lembrado por mudar tudo ali dentro. E também por ser muito bom de dirigir.
O preço está dentro do esperado para a categoria, assim como a lista de equipamentos e a performance. Só que a grande questão do Kardian é que finalmente a Renault tem um carro que faz as pessoas irem até a concessionária para ver algo, não somente comprar carros baseados em contas nas planilhas.
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