Em 2008, a Renault fez um movimento importantíssimo que a fez descolar de Peugeot e Citroën. Na época, as francesas tinham pós-venda ruim e má fama no mercado. Mas a chegada do Logan ao mercado mudou completamente a marca. Agora com o , a Renault repete esse movimento, mas de outro jeito. 

Logan, Sandero, Duster e Oroch representam uma fase Dacia da Renault, focada em baixo custo, carros bem robustos e preço baixo. Algo bem diferente do que acontecia com Clio, Megane, Fluence e tantos outros Renault originais. Agora, em 2023, a Renault do Brasil encontrou com o Kardian seu meio termo: nem tanto Dacia, nem tanto Renault França.

Origens compartilhadas

Diferentemente do que acontecia antes, onde o Sandero da Renault era só uma variante de visual levemente diferente do Dacia Sandero, o Renault Kardian é um carro totalmente novo. Ele tem algumas semelhanças ao modelo europeu, como vidros idênticos e estrutura da porta igual. Mas todas as peças de carroceria são diferentes, sem contar a plataforma.

Chamada de RGMP, a base do Kardian servirá a todos os novos modelos da Renault do Brasil nos próximos anos, sendo o Kardian o menor deles. É um contraste com a plataforma CMF-B, cujo maior modelo da base é uma perua aventureira do Sandero. Essencialmente, as bases são próximas, mas não idênticas.

Só que a essência Dacia ainda está presente nele. O Renault Kardian é um carro muito robusto. A marca francesa soube bem como trabalhar esse ponto, especialmente na suspensão. Ao andar com o SUV compacto na terra, ele se sente em casa, pulando pouco e absorvendo muito bem as irregularidades.

Já no asfalto, ele faz um aceno para seu finado irmão Sandero RS. É um carro ótimo de curva, surpreendentemente melhor até que o Volkswagen Nivus. Ele gruda no asfalto e vira como se fosse um hatch baixo, não um modelo levantado. A direção firme e rápida também ajuda (e muito) nisso.

Bem vindo, turbo

Além de toda mudança estrutural, o Kardian também representa uma nova Renault em termos de motorização. O modelo estreia no Brasil o motor 1.0 três cilindros turbo de 125 cv e 22,4 kgfm. Ou seja, é menos potente que o 1.0 T200 (130 cv) da Fiat e que o 1.0 TSI (128 cv) da Volkswagen, só que tem mais torque do que ambos, que empatam em 20,4 kgfm.

Casado à transmissão automatizada de dupla embreagem de seis marchas, o Renault Kardian brilha. Eu sei que o brasileiro é extremamente traumatizado com esse tipo de câmbio por conta do Powershift da Ford e dos primeiros DSG da Volkswagen. Mas, segundo a marca, essa transmissão já está presente em mais de 1 milhão de carros na Europa.

No funcionamento, ela brilha. Diferentemente do cansado câmbio automático de seis marchas do Nivus ou do CVT do Pulse, o DCT do Kardian acorda muito rápido. Basta pisar mais forte no acelerador, que a redução é instantânea e mal sentida. Só que ele gosta de manter rotação baixa, por isso sobe de marcha constantemente.

Em questão de consumo, a Renault registra oficialmente 9 km/l na cidade e 9,7 km/l na estrada com etanol, enquanto na gasolina ele faz 13,1 km/l na cidade e 13,9 km/l na estrada. Durante nossos testes, o Kardian marcou 8,7 km/l na cidade, enquanto na estrada bateu os 10,2 km/l com etanol. É um consumo apenas ok.

Regulado com a categoria

Por R$ 132.790, o Renault Kardian Premiere Edition traz alguns itens que seus rivais não têm, mas também fica devendo outros. De série. essa versão conta com faróis full-LED, seis airbags, controle de tração e estabilidade, sistema de câmeras nos quatro cantos do carro (mas sem imagem 360°), sensor de estacionamento dianteiro e traseiro.

Além disso, conta com ar-condicionado digital de uma zona, freio de estacionamento eletrônico, assistente de partida em rampa, carregador de celular por indução ventilado, frenagem autônoma de emergência, piloto automático adaptativo, start-stop, chave presencial por distância e central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay sem fio.

Evolução por um lado

Por dentro, o Renault Kardian surpreende. Ele não tem o mesmo visual vistoso de Pulse e Nivus, mas claramente seu acabamento é bem melhor. A marca francesa optou pelo uso de plásticos duros, mas de qualidade. Eles são sólidos e bem montados. O toque de refino vem pela faixa de couro que atravessa o painel e se faz presente também nas portas. 

Os bancos são revestidos em couro nas laterais, com meio em tecido. Nitidamente inspirados nos incríveis assentos do Sandero RS, o Kardian segura bem o corpo em curvas, além de ser envolvente e confortável. Mas o destaque vai para a ergonomia com uma amplitude enorme de ajustes no banco e no volante.

O console central alto também ajuda nessa sensação ergonômica ao apresentar um apoio de braço retrátil em boa altura. O porta-copos esconde um compartimento secreto para pequenos objetos, enquanto o local no qual o celular fica está ao alcance fácil das mãos. Atrás, ele não tem saída de ar, nem descanso de braços nas portas com tecido.

Atributos mantidos

Há de notar que a fase Dacia trouxe interiores bem espaçosos nos carros da Renault, e isso foi mantido no Kardian. Ele é grande por dentro, mesmo para quem se senta atrás. Ele trata melhor os passageiros do que Nivus e Pulse, tendo melhor aproveitamento, especialmente, para os ombros.

No porta-malas, são 358 litros de capacidade, mantendo um espaço mais do que generoso. Além disso, a Renault deixou ganchos para pendurar sacolas e nichos específicos para guardar os objetos de reparo, como macaco e triângulo. Mas há de notar rebarbas no tampão do porta-malas e falta de cobertura total na parte interna da tampa.

Esperamos em uma reestilização

Só que toda a modernidade do Kardian barra em dois erros que a Renault não poderia ter cometido: suas telas. O painel de instrumentos totalmente digital tem números finos e difíceis de ver, além de um nítido delay e falta de menus. A tela é pequena e inclinada demais.

Já a central multimídia é, definitivamente, a pior entre todos os SUVs compactos vendidos no Brasil. É extremamente lenta e trava todas as vezes que o Kardian é deixado no sol. Sem contar a qualidade ruim da tela, que faz parecer um Galaxy Pocket. Tem Android Auto e Apple CarPlay sem fio, mas de que nada vale pela central multimídia bem aquém das qualidades do carro.

Veredicto

Essencialmente, o Renault Kardian é melhor que Fiat Pulse e Volkswagen Nivus em tudo, exceto na central multimídia e painel de instrumentos. O modelo é um acerto enorme da marca francesa por apresentar um conjunto mecânico eficiente, muita diversão ao volante, bom posicionamento de preços e um visual agradável.

A proximidade com o Duster nas revendas pode afastar alguns compradores por verem um carro maior, mas que não necessariamente é melhor, por um valor equivalente. Mas dê uma chance ao Kardian. Afinal, ele representa de fato uma nova Renault, a qual tem um potencial grande de finalmente deixar de ser a Dacia do Brasil.

Você teria um Renault Kardian? Conte nos comentários.

---

>> Renault Duster é o Sandero que fez Crossfit

>> Fastback da Renault ganha versão esportiva híbrida plug-in 4×4

>> Renault Duster recebe aumento de até R$ 2 mil e beira R$ 160 mil

---