Só quem viveu os anos 1990 sabe a bagunça que era. Você poderia ligar a televisão domingo à tarde e ver Gretchen dançando com Van Damme, sushi erótico no Faustão, banheira do Gugu e crianças dançando músicas de duplo sentido no embalo do Tchan. Mas nada definiu melhor os anos 1990 do que o Jeep Grand Cherokee.
O modelo chegou ao Brasil com toda pompa de SUV de luxo importado, em tempos que marcas como Mercedes-Benz, Audi, BMW e Volvo sequer sonhavam em produzir modelos assim. Quem era rico de verdade (ou jogador de futebol), tinha um Jeep Grand Cherokee. E a nova geração quer esse espírito de volta.
Sai o V, entra o 4xe
Por R$ 569.990, o modelo vem agora eletrificado. Ele junta o motor 2.0 quatro cilindros turbo a gasolina da Ram Rampage a um par de motores elétricos. Ou seja, a sede dos motores V6 e V8 que o modelo já teve por aqui, ficou no passado. Só que a Jeep não quis perder em desempenho.
Ao todo, são 380 cv e 64,9 kgfm de torque despejados nas quatro rodas. Interessante é que o comportamento de todo híbrido da Stellantis é igual – mesmo os que não foram desenvolvidos juntos ou que tenham o mesmo conjunto mecânico. Na hora de acelerar da inércia, Compass 4xe, Grand Cherokee 4xe e até Peugeot 3008 Hybrid4 se comportam igual.
A aceleração inicial é feita só pelo motor elétrico, com uma nítida falta de força e letargia. Só depois o motor a combustão entra em ação e faz o SUV ganhar ímpeto e força. Seus companheiros eletrificados são idênticos nesse comportamento. No caso do Grand Cherokee, essa falta inicial é ainda mais nítida por ele pesar 2.466 kg.
O contato com o Grand Cherokee foi curto durante o nosso test-drive, sendo regato por um caótico trânsito paulistano típico de um terça-feira. Só que o que foi notável é o quão perigosamente baixa é a autonomia elétrica. São apenas 29 km e, durante nossos testes, apesar de marcar mais km do que o declarado, ele consumia 2 km a cada 1 km rodado.
Pegada de luxo
A grande questão do Jeep Grand Cherokee, contudo, é seu conforto à bordo. Ele pode até não pertencer a uma marca de luxo, mas se comporta como se fosse. O isolamento acústico interno é primoroso, contando com vidros com tratamento contra som e cancelamento ativo de ruídos vindo das caixas de som.
Como resultado prático, não dá para ouvir a barulheira chata do ônibus passando pela lateral ou o escapamento furado da moto que passa pelo corredor. É um silêncio interno impressionante. Duas pessoas podem conversar em tom baixo dentro do carro, mesmo que lá fora esteja um caos.
Como todo Jeep, a suspensão é parruda e absorve muito bem as imperfeições do solo. É o tipo de carro que roda macio o tempo todo e não tem medo de buraqueira. Falta um teste em terra para saber a real capacidade do SUV, mas isso ficará para um segundo momento. Já a direção é bem calibrada, sem ser excessivamente leve ou pesada.
Como refinar mais
Para seguir nessa toada, a Jeep deu um belo upgrade de acabamento no Grand Cherokee. O modelo tem acabamento com superfícies macias revestidas em couro em boa porção do painel. As portas também são macias, tanto na frente quanto atrás. Ou seja, um passo à frente de Compass e Commander, que já tem cabine refinada.
Os encaixes são bem feitos e o couro que reveste bancos e volante é de qualidade. O mesmo vale para as telas usadas na cabine. O motorista tem painel de instrumentos com qualidade melhor que a do Compass e do Commander, mas mesmo layout. Já a central multimídia tem tela quadrada com ótima definição.
A Jeep ainda instalou uma segunda tela só para o passageiro, mas que, sinceramente, é totalmente desnecessária. Ela só serve para controlar a mídia, mapas e outros elementos que já podem ser acertados pela própria central. E o passageiro não fica longe dela, por isso se torna algo completamente inútil.
Espaço interno é farto até para quem senta atrás. Ainda que o joelho fique um pouco mais alto do que o necessário, o Grand Cherokee traz boa área para cabeça e joelhos. Quem senta à frente conta com aquecimento e resfriamento dos bancos, enquanto os passageiros traseiros só têm aquecimento.
Veredicto
As características que fizeram do Jeep Grand Cherokee um ícone dos anos 1990 ainda estão lá: é parrudo, luxuoso por dentro, espaçoso, bonito e com motorização forte. Só que como híbrido, esbarra em uma autonomia elétrica pífia que o fará ser sócio da tomada a cada saída de casa.
Ou seja, se você busca um parrudo e luxuoso ao mesmo tempo, é uma escolha sem a menor dúvida. Agora, se procura exatamente por um SUV grande e luxuoso, que não precisa andar na terra, mas que a prioridade é ser híbrido, melhor comprar um Volvo XC90.
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