Goste ou não das marcas chinesas, mas é fato que essas montadoras estão provando que a indústria nacional estava parada. Juntas, GWM, BYD e CAOA Chery mostraram que os carros brasileiros estavam caros demais, com acabamento ruim e que elétricos podem vender bem. Mas talvez o ápice disso seja o GWM Ora 03.
Eu duvido que você encontre um carro de R$ 150 mil com acabamento melhor do que esse hatch compacto elétrico. Nem e BYD Dolphin entregam esse mesmo refinamento. Só que o cuidado interno do Ora 03 não para aí. Ele é um carro de construção e rodar também refinado. Mas, claro, tem seus pecados.
Novos tempos
Seguindo a cartilha dos carros elétricos de entrada, o GWM Ora 03 Skin conta com motor dianteiro. São 171 cv e 25,5 kgfm de torque, ou seja, mesmo torque de um motor 1.4 TSI da Volkswagen e potência quase igual ao 1.3 turbo da Renault. Considerando que o Ora é um carro pesado, são 1.586 kg, ele anda bem, mas não causa mais aquele efeito uau.
São 8,2 segundos para chegar aos 100 km/h e as acelerações são feitas de maneira bem linear. Ou seja, o Ora 03 não é bruto, mas não passa vergonha. Inclusive, os modos de condução Sport, Normal e Eco mudam verdadeiramente o jeito que esse carro acelera. Além de fazerem barulhos engraçados a cada troca. Há ainda o modo Auto.
Diferentemente da BYD, que não faz alterações mecânicas para o Brasil, a GWM tratou de modificar a suspensão do Ora 03 para o nosso país. E ainda bem. A pegada clássica dos chineses é suspensão de pudim, como ficou claro no Dolphin Mini. Mas o hatch retrô da GWM com cara de Fusca tem um jeito bem europeu.
Ele é firminho, mas sem ser duro. Como tem centro de gravidade baixo, o hatch faz curvas bem e fica estável em estradas sinuosas. Entretanto, não maltrata os passageiros em buracos ou relevos ruins, absorvendo bem os impactos causados por buracos e vias de procedência duvidosa.
Já a direção, depende do acerto que você colocar. Confesso que do dia um ao último com o Ora, deixei sempre no Sport. É nesse acerto que a calibração fica perfeita, sendo rápida, direta e pesada na medida necessária. Nas manobras, inclusive, fica leve como deveria. Pena que o volante é exageradamente grande.
Tecnologias além do padrão
Nessa categoraia de elétricos, é importante também a tecnologia. O Ora 03 conta com baterias de 48 kWh capazes de fazê-lo rodar 232 km pelo ciclo INMETRO. Na vida real, chega a 300 km sem dificuldades. Além disso, carrega em até 64 kW em carregadores rápidos. Mas a lista de itens de tecnologia é grande.
Ele conta com piloto automático adaptativo que funciona muito bem, diferentemente do sistema de manutenção em faixa que insiste em te manter no centro da faixa. Em locais como São Paulo, onde existe muito corredor de moto, às vezes é preciso ficar mais à esquerda ou direta da faixa, coisa que o Ora não te deixa fazer.
Há ainda frenagem autônoma de emergência (exagerada na antecipação de acidentes), alerta de ponto cego (também exagerado, mas que muda o barulho da seta como alerta de que um carro está no ponto cego), seis airbags, controle de tração e estabilidade, farol alto automático e monitoramento de pressão dos pneus.
A lista de itens de série ainda traz mimos como central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, painel digital, chave presencial, ar-condicionado digital de uma zona, retrovisor elétrico, freio de estacionamento eletrônico, faróis com acendimento automático, sensor de chuva e volante com ajuste de altura e profundidade.
Meio Mini, meio Fusca
Um dos pontos que mais chama atenção no GWM Ora 03 é sua fortíssima personalidade. Ainda que a frente seja parecida com o Fusca e o interior tenha influências de Mini e de Mercedes, o carro como um todo é bem único. Tanto que, mesmo não sendo um lançamento recente, chamava muita atenção nas ruas.
A traseira tem uma exótica solução de lanterna separada em duas partes. Luz de posição e freio ficam no vidro traseiro, enquanto seta e ré estão no para-choque. Isso fez com que ele perdesse o limpador traseiro, algo bem ruim. Além disso, o porte do Ora 03 impressiona. Ele não parece ser tão alto e grande quanto de fato é.
São 4,23 m de comprimento, 1,82 m de largura e 1,60 m de altura, com entre-eixos de 2,65 m. Colocando em proporções, ele é 3 cm mais estreito que um Jeep Commander, 1 cm mais alto que um Honda HR-V e tem 2 cm a mais de comprimento que um VW Voyage. Pena que o porta-malas de 228 litros é pequeno e mal aproveitado por conta da tampa bem inclinada.
Por dentro, a GWM te força a ter interior de cor exótica conforme a tonalidade da carroceria. O modelo testado tinha um belíssimo tom vermelho externo que é combinado a uma cabine com revestimento em branco (quase bege) e detalhes em vermelho. O carro mal tinha 1.000 km rodados e o banco do passageiro já estava encardido.
Seria bom se houvesse a opção de interior preto, que é o que o brasileiro mais gosta. Confesso que gostei da combinação presente no modelo testado, mas sei que pode ser muito para algumas pessoas. O acabamento, entrentanto, é indiscutivelmente bom. Cheio de superfícies macias, bem encaixadas e os plásticos usados são de qualidade.
Tudo é grande
Por ser um carro grande, o GWM Ora 03 é grande em outros quesitos. O espaço interno é bem bom em qualquer assento, seja na frente ou atrás. Todos os porta-objetos também são bem servidos para uma grande quantidade de cacarecos. Pena que a GWM segue se empolgando e exagerando no tamanho do volante desnecessariamente.
O painel de instrumentos e a central multimídia também são grandes e merecem elogios pela qualidade das telas e gráficos usados. O painel é fácil de usar, não tem muita personalização, mas traz recursos vastos. Já a central multimídia ainda precisa de ajustes, pois exige milhares de submenus até chegar ao ponto que deseja.
Isso sem contar o clássico defeito de cobrir a barra do ar-condicionado ao usar Android Auto e Apple CarPlay. Por sorte, o motorista pode configurar uma tecla de atalho no volante para acessar rapidamente os comandos de ventilação como um pop-up na central. Falta também facilidade para alterar o modo regenerativo do motor, que sempre fica travado em forte.
Veredicto
Quando a BYD lançou o Dolphin no Brasil, ela causou um verdadeiro rebuliço no mercado. O hatch compacto elétrico vendeu muito mais do que o esperado, tanto que fez a GWM antecipar o lançamento do Ora 03 por aqui. Só que o rival do golfinho chinês nunca teve a mesma atenção do público e até da mídia. E não deveria ser assim.
Cheio de personalidade, surpreendentemente gostoso de dirigir para um carro chinês (país que não liga para isso), bem completo e com um ótimo acabamento para sua faixa de preço, o GWM Ora 03 Skin vale a pena não somente por ser um elétrico barato, mas por ser um carro acima da média do que há por R$ 150 mil. Acima, inclusive, do Dolphin de entrada.
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