Não é segredo para ninguém que a Ford Ranger está dois (talvez até três) degraus acima das concorrentes. Boa parte desse trunfo se deve ao fato de que ela é um projeto bem mais moderno do que das rivais, as quais, mesmo renovadas, ainda tem sua geração datada em uma década. Mas a Ford apelou (e muito) com a Ranger Black.
A marca poderia se dar ao luxo de simplesmente lançar uma versão intermediária entre a XL de R$ 244.990 e a XLS de R$ 264.490, tal qual era a Black de geração anterior. Só que não. A nova versão da Ranger foi posicionada em R$ 219.990, o que a colocou no mesmo patamar de preço de uma Endurance ou de uma Fiat Toro Ranch. E é aí que pesa.
É suficiente
Ainda que a Ford Ranger com motor V6 tenha nos deixado mal acostumados e o patamar de performance hoje do segmento praticamente exige 200 cv, a Black vem com o conjunto mais fraco. Debaixo do capô, reside um 2.0 quatro cilindros turbo diesel de 170 cv e 41,2 kgfm de torque. Ele é aliado a uma transmissão automática de seis marchas e tração 4×2.
O interessante do comportamento da Ford Ranger Black é que em situações de baixa ou média demanda, ela não parece faltar força. Ou seja, quando uma retomada é necessária, mas sem afundar o pé no acelerador, ou em uso urbano e rodoviário andando mais tranquilamente.
Contudo, você sentirá falta quando precisar de força total. Ao colar o pedal da direita no piso, nada acontece além da força que ela já entregava a meio curso. Fica parecendo que o ímpeto total da Ranger com motor 2.0 já é entregue a meio pedal. Tudo depois disso é como se fosse um placebo.
Dessa vez, nem mexeu
Diferentemente da geração anterior na qual a Ford deu à Black uma calibração de suspensão e direção diferenciada, dessa vez nada mudou. E isso é bem positivo. Ela naturalmente tem o melhor conjunto de direção e suspensão da categoria, mantendo todo o corpo firme e estável nas ruas e estradas, sem o típico (e chato) pula pula das caminhonetes.
A direção é elétrica com boa assistência. É leve para manobrar e firme para uma tocada mais esperta, trazendo um tempero europeu para a Ford Ranger, que é um carro tipicamente norte-americano. Mesmo sendo grande, batendo os 5,37 m de comprimento, é fácil manobrar e andar com ela na cidade.
A transmissão automática de seis marchas, inegavelmente, não tem a mesma destreza e rapidez da caixa de dez marchas usada pela versão V6. Contudo, é bem calibrada e responde rápido às ações do motorista no acelerador. As retomadas não demoram e a Ranger rapidamente responde com redução de marcha e aceleração apenas ok.
Faltou alguma coisa?
A lista de itens de série da Ranger Black é a mesma da versão XLS. Ela traz ar-condicionado analógico, volante com ajuste de altura e profundidade revestido em couro, painel de instrumentos totalmente digital, vidros elétricos nas quatro portas com função um toque, retrovisor elétrico, central multimídia de 10 polegadas com Android Auto e Apple CarPlay sem fio.
Além disso, conta com câmera de ré, sete airbags, sensor de estacionamento traseiro, piloto automático não adaptativo, limitador de velocidade, alarme, além de assistente de partida em rampa e de descida. Se pudesse adicionar mais itens, teria ar-condicionado digital, chave presencial e sensor de estacionamento dianteiro, que verdadeiramente fazem falta.
Contudo, a Ford deu mancada ao esquecer o protetor de caçamba e a capota marítima. Esses itens aparecem como acessórios cobrados à parte. Contudo, as primeiras unidades terão capota elétrica e o protetor entregues como presente aos 100 compradores iniciais. Dessa vez a marca ofereceu mais cores além do preto, com azul, branco, prata e cinza.
Não é preto
Outro item que mudou muito na Ford Ranger Black da geração anterior para essa é o trabalho de cores e materiais. Andrea Sagiorato, responsável pela área de cores e materiais da Ford no Brasil, foi minha carona durante o test-drive da nova versão e deu alguns detalhes sobre a escolha de tonalidades para nova versão.
A designer fez questão de reforçar o desenvolvimento do tom Bold Gray para os detalhes externos (grade frontal, retrovisores, santantônio) e de partes do interior. A cor é metálica e traz profundidade ao estilo, fugindo do típico e já clichê preto piano, que tende a riscar muito fácil e aparentar sujeira com a mesma facilidade.
Isso também ajudou a trazer mais personalidade para a caminhonete, porque o tom preto piano é facilmente aplicado em customizações, já esse tipo de cinza não. Por dentro, ela ganhou bancos revestidos em imitação de couro de qualidade média para ruim com parte interna em tecido com desenho inspirado nas ruas e prédios de uma cidade.
Como toda Ranger, a ergonomia é excelente e o espaço interno é acima da média. Vale ressaltar ainda que as telas, tanto a central multimídia, quanto o painel de instrumentos totalmente digital, mesmo sendo menores do que das versões topo de linha, ainda trazem qualidade excelente de resolução e são fáceis de serem usadas.
Veredicto
Se você está pensando em uma caminhonete média, nem precisa mais partir para versões acima de R$ 250 mil para ter um conjunto decente e visual não espartano. A Ford acertou muito no conjunto que colocou na Ranger Black e ainda cobra um preço muito abaixo do esperado.
É o tipo de estratégia que te faz questionar qualquer escolha que alguém faça por uma caminhonete média de entrada que não seja a Ranger Black, especialmente considerando o quão melhor a picape da Ford é em relação às rivais. Claro que poderia ter mais equipamentos e não esquecer do protetor de caçamba, mas o custo-benefício é matador por R$ 219.990.
Você teria uma Ford Ranger Black? Conte nos comentários.