Nada mais implacável do que o tempo. Ele corre independentemente de nossa vontade e provoca mudanças. Prova disso é que a situação do Ford Bronco Sport em 2021, quando o testei aqui no Auto+ pela primeira vez, e hoje é completamente diferente. Só para começar: ele não encareceu tanto quanto os rivais e ficou mais potente.
Lá em junho de 2021, um Ford Bronco Sport saia por R$ 256.900, enquanto seu principal rival, o Jeep Compass Trailhawk custava R$ 216.990. E mesmo com pacotes opcionais necessários para se equiparar ao Bronco, o Jeep ainda era mais barato, já que era vendido por R$ 237.690. Na época, a Ford cobrava preço de Volvo XC40 no seu SUV.
Mas o tempo passou, carros premium agora começam para além de R$ 300 mil e o mesmo Compass Trailhawk passou a custar R$ 271.590 com os opcionais. E o Ford Bronco Sport? Seu por R$ 272.790. Por pouco a Ford não proclamou o meme: “parece que o jogo virou, não é mesmo?”.
Cavalo que anda, bebe
Outro elemento que mudou no Ford Bronco Sport desde o nosso último encontro foi o motor 2.0 quatro cilindros turbo a gasolina. Ele recebeu o mesmo acerto da Maverick com 253 cv e 38,7 kgfm de torque, ou seja, 13 cv a mais que antes e torque elevado em 0,7 kgfm. Na prática, são alterações que você mal sente, até porque ele sempre andou bem.
O Bronco não nega fogo, acelerando forte com o mesmo coração que um dia foi do Fusion. É um carro esperto nas retomadas e com força de sobra para o off-road, tanto que ele é mais forte que o Compass diesel que entrega 170 cv e 35,7 kgfm de torque. O interessante é que o Ford tem muita força mesmo em baixo giro.
Prova disso, é que na estrada ele mantém o motor ronronando a pouco menos de 2 mil giros. A transmissão automática de oito marchas gerencia toda essa força, trabalhando com extrema suavidade e trocas imperceptíveis. Nitidamente a oitava marcha funciona como overdrive, tanto que, basta triscar no acelerador, que ele joga sétima ou sexta.
Mesmo assim, o consumo é elevado. Durante uma semana de testes, rodei 1.300 km com o Bronco Sport em todas as situações possíveis e o SUV não conseguiu fazer mais de 10 km/l. Só melhorava as médias na estrada no modo eco em que beliscava os 12 km/l. Beberrão, ele pediu três tanques de gasolina durante a semana de testes.
Faça uma escolha
Apesar de terem o mesmo motor e a mesma vocação para acelerar, Maverick e Bronco são bem diferentes quanto ao comportamento dinâmico. A picape é boa de curva, segurando seu corpo e caçamba firmemente como um bom Ford. Já o SUV se comporta como um modelo típico de sua categoria.
Nas curvas, a carroceria alta e quadrada inclina bastante e basta um pouquinho a mais de velocidade para que os pneus cantem com vontade. Ele inclina bem e demonstra nítida rolagem de carroceria. Só que estamos falando de um SUV, não de um hatch esportivo. Por isso, a vocação dele é outra.
Existem três cenários em que o Ford Bronco Sport brilha: ruas esburacadas, estrada e terra. Nada parece afligir sua robustez, tanto que buracos e superfícies irregulares são engolidas pelo SUV como se fosse um policial americano devorando um donut. Buraco na via? Brincadeira para ele. Terrenos acidentados? Fichinha.
Vale destacar ainda a direção que é bem leve na hora de fazer manobras, mas tem o peso correto para alta velocidade na estrada. Esse acerto permite muita facilidade na hora de encarar terrenos difíceis e fazer manobras constantes, ao mesmo tempo que não deixa a condução do Bronco Sport cansativa.
Cabrito
Boa parte dessa aptidão para o off-road se dá por conta do seletor de modo de condução. Chamado de GOAT (Goes Over Any type of Terrain), a sigla é um acrônimo para cabra, um tipo de animal capaz de subir terrenos difíceis e até se enfiar nos telhados alheios. Como uma cabra, o Bronco Sport sobe morros e passa por lugares que poucos SUVs vão.
Ele traz os modos Normal, Esporte, Eco, Lama/Terra, Rocha/Avanço Lento, Escorregadio e Areia. Cada um deles altera a resposta do acelerador, transmissão, tração 4×4 e controles eletrônicos. Especificamente em Lama/Terra e Rocha/Avanço lento, a câmera frontal é habilitada para facilitar a condução em terrenos ruins.
Durante os testes, o Bronco Sport encarou um terreno montanhoso enlameado no interior de Minas Gerais com a mesma disposição e facilidade com a qual rodou de Campinas a São Paulo por três dias seguidos. É o tipo de desenvoltura off-road que só o Jeep Compass Trailhawk tinha nessa categoria até o seu surgimento.
Alguns milhares
Para justificar os quase R$ 30 mil a mais que cobra pelo Bronco Sport em relação à Maverick, a Ford traz ao SUV um interior bem mais sofisticado. Ele conta com materiais macios ao toque em toda a porta e no painel, além de plásticos de mais qualidade. A cabine do Jeep Compass ainda é visualmente mais elegante e refinada, mas a montagem é parelha.
O SUV da Ford traz painel de instrumentos analógico, mas acompanhado de uma prática e completa tela central com diversas informações. A central multimídia tem Android Auto e Apple CarPlay com fio, mas é fácil de mexer, tem ótima definição, além de ser rápida e bem posicionada. É inferior à do Compass, mas por bem pouco.
O modelo ainda traz ar-condicionado digital de duas zonas, mas que perdeu o visor com marcação de temperatura. Agora, é preciso ver pela central multimídia quantos graus o ar-condicionado está. Destaque ainda vai para o câmbio rotativo vindo do Fusion, que tem uso facilitado para manobras constantes.
Marrom e borracha
Enquanto a Maverick combina marrom, azul marinho, preto e cinza no interior, o Bronco Sport é mais sóbrio. Preto e marrom são os tons dominantes aqui, especialmente nos bancos. O couro usado é de qualidade de marcha premium, tanto que o volante é acolchoado.
Espaço é um grande trunfo do SUV, que traz teto elevado na parte traseira, fazendo com que mesmo uma pessoa alta não raspe a cabeça de jeito nenhum. Como o assento traseiro é alto, as pernas ficam mais retas e há mais espaço. É uma cabine melhor aproveitada do que a do Compass.
Há de destacar ainda a presença de enormes porta-objetos nas portas dianteiras, console central com muito espaço e um alçapão debaixo do banco traseiro (é menor que o da Maverick, mas ainda assim, prático). Ele ainda traz piso da cabine e do porta-malas com revestimento de borracha lavável. As costas do banco traseiro também é em borracha.
Isso permite deitar o banco e criar uma superfície reta e impermeável para alocar bagagens molhadas. São 482 litros, mas mal aproveitados. Isso porque existe uma mesinha plástica que aguenta só 12 kg de bagagem e divide o porta-malas em dois andares. Ela não cobre a área de carga até a linha do vidro e mais atrapalha do que ajuda.
Ao menos a Ford colocou ganchos para levar sacolas, tomada residencial (no padrão americano), abridor de garrafa e permite o acesso ao porta-malas apenas abrindo o vidro traseiro. Para a tampa do porta-malas, faltou apenas uma abertura elétrica, que é item de série no Compass.
Mais que ela
Por falar em itens de série, o que tanto faz falta à Maverick, está presente no Bronco Sport. Itens como piloto automático, assistente de manutenção em faixa, teto solar e sensor de ré, ausentes na picape, estão no SUV. Ele conta com bancos dianteiros elétricos com aquecimento, chave presencial, ar-condicionado digital de duas zonas e seis airbags.
Há ainda câmera de ré, partida remota, vetorização de torque, tração 4×4, farol alto automático, frenagem autônoma de emergência, alerta de ponto cego (para compensar o terrível retrovisor direto com zoom), monitoramento de pressão dos pneus, controle de tração e estabilidade, sistema de som premium B&O, autohold e retrovisor eletrocrômico.
Veredicto
Lá em 2021, havia concluído que o Ford Bronco Sport tinha só no preço seu grande problema. Mas que era o melhor carro que a marca do oval azul comercializava em nosso mercado. Além disso, o julguei como um carro melhor que o Compass, que só não valia as cifras a mais. Mas agora o jogo virou.
Custando praticamente o mesmo que o Jeep, o Ford Bronco Sport se torna mais interessante que o rival. É um carro de construção e dinâmica mais refinada, com mais recursos off-road, além de mais espaçoso e prático. O Compass Traihawk é um carro muito bom, mas o Bronco é melhor – mostrando como o jogo desses SUVs é alto.
Só vale o mesmo conselho à Ford da outra vez: vocês estão perdendo tempo em não lançar versões 1.5 turbo do Bronco Sport no Brasil. Esse SUV , com um motor menor e mais opções de versões, com preço próximo dos R$ 200 mil, seria o carro que poderia virar o jogo no país. Só basta querer. Porque facilmente venderia o dobro do que ele consegue hoje.
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