O segmento de caminhonetes médias está passando por uma intensa renovação nos últimos anos. A fila foi puxada pela nova Ford Ranger e agora é acompanhada das renovações de Chevrolet S10 e Volkswagen Amarok, mas ainda terá a Mitsubishi L200 Triton e a nova Toyota Hilux em breve, além da estreia da Fiat Titano.
Com a Fiat entrando neste disputadíssimo segmento em que a Chevrolet S10 já foi rainha, reunimos as duas caminhonetes médias para um embate. O resultado final surpreende, dada a discrepância entre os dois modelos. Confira.
Os números dizem tudo?
Tanto a Chevrolet S10 quanto a Fiat Titano oferecem propulsores turbodiesel com bom desempenho, embora cada uma tenha suas particularidades. Desde que a Chevrolet introduziu o sistema CPA (Centrifugal Pendulum Absorber) na linha 2018 da S10, ela teve uma melhora considerável nos níveis de vibração, especialmente em marcha lenta, proporcionando um melhor conforto. Isso já é um ponto de vantagem da S10 em relação à Titano.
Ambos os propulsores possuem quatro cilindros, turbocompressor e injeção direta. O Duramax 2.8 da S10 entrega 207 cv e 52 kgfm, enquanto o 2.2 da Titano, emprestado do furgão Ducato, rende 180 cv e 40,8 kgfm. Estes números são inferiores, por exemplo, quando comparados à Nissan Frontier, que tem 190 cv e 45,9 kgfm.
O fôlego disponível na Chevrolet S10 permite movimentar seus 2.106 kg sem esforço. Esse desempenho é auxiliado pela nova transmissão automática de oito marchas, a mesma da irmã norte-americana Colorado, mas com calibração específica para o nosso mercado.
Essa transmissão responde bem, tanto nas subidas quanto nas reduções de marchas, e, acoplada ao propulsor Duramax 2.8, transmite a sensação de rodar sempre cheio. Em baixa velocidade, como a 60 km/h, a sexta já está engatada, e a 120 km/h em oitava e última marcha, o motor opera em torno de 1.500 rpm, contribuindo para o conforto acústico.
Na Titano, essa sensação não é percebida. A picape média da Fiat busca constantemente por rotação e demora mais a embalar em comparação com a rival, apresentando níveis maiores de vibração em marcha lenta.
A Titano não exibe a mesma desenvoltura e o turbolag (atraso antes de o turbocompressor pegar) é mais evidente. Outro ponto negativo é a transmissão automática de seis marchas, que às vezes é indecisa sobre qual marcha engatar ou faz reduções desnecessárias. Além disso, o volante assistido hidraulicamente é mais lento e menos responsivo em comparação ao volante elétrico da S10.
Portanto, no quesito dirigibilidade, a picape da Chevrolet supera a da Fiat.
Dois balanços, mas só um samba
Sai da Fiat Titano e entrar na Chevrolet S10 é perceber um mundo absurdamente oposto ao andar os primeiros metros. Ambas pulam mais do que deveriam, mas se comportam de maneiras distintas. A italiana salta lateralmente e verticalmente, causando uma sensação de insegurança em altas velocidades. Mas ela passa a sensação de ser mais robusta.
Isso não é só culpa da suspensão, mas também da direção, que é hidráulica. Ela fica muito pesada em manobras e exige muitas voltas de batente a batente. Um oposto à Chevrolet S10, que tem direção elétrica, bem leve em manobras e estável em alta velocidade, sem exigir tantas correções quanto o modelo da Stellantis.
A americana é bem macia e confortável, o que a faz balançar bem também, mas ela aguenta velocidades mais altas tranquilamente. A frente mergulha em curvas mais abusadas, ao contrário da Titano que sai esparramando a traseira. Inclusive, em chuva, a Fiat sai de traseira muito fácil e aciona todos os controles desesperadamente.
Muita gente junta
Esteticamente temos um ponto de discrepância aqui. Rafael prefere o estilo da S10, João vai mais pelo lado da Titano. E, de fato, são bem diferentes. A Fiat…ou melhor, a Peugeot…trouxe um estilo mais agressivo, com linhas fortes e modernas, além de uma pegada mais verticalizada. Ao lado da Titano, a S10 encolhe.
Já a Chevrolet trouxe uma pegada bem norte-americana: linhas horizontalizadas clássicas, cromados em tudo quanto é canto e bem o jeitão de Silverado. A frente tem grade frontal bem larga, que ajuda a dar uma sensação que a S10 cresceu para os lados. Já a traseira, mais verticalizada, aparenta ser mais baixa que da rival.
O que incomoda é que a Chevrolet S10 tem muita personalidade. Ela é, de fato, um carro com a cara de um produto da gravata dourada. Já a Fiat Titano é um Peugeot. Não dá para esconder as linhas da marca francesa, tanto por fora, mas especialmente por dentro. E um FIat com o dente de leão, não esconde de ninguém a verdade.
Universos opostos e complementares
Por falar em interior, é aqui um dos pontos em que os quase R$ 50 mil fazem diferença – além da suspensão e itens de série. A cabine da Titano é bem feita, com plásticos bem montados e de textura interessante. Mas ela é cheia de componentes genéricos chineses, como as hastes de seta dos anos 1990 e a manopla de câmbio bem esquisita.
Não há nenhum material macio ao toque no painel, enquanto as portas tem uma porção de couro e só. Temos painel de instrumentos analógico com gráficos ruins na tela central. Já a multimídia é, sem dúvida, a pior do segmento. Gráficos genéricos e difíceis de usar, além de tela horizontal demais. Até as fontes são datadas.
Um contraste com a Chevrolet S10 que tem uma bela tela de alta definição com Android Auto e Apple CarPlay sem fio – a Titano é só a cabo. A central ficou mais difícil de mexer do que antes, é preciso dizer. Além disso, o painel de instrumentos digital é bom, mas simples demais para a caminhonete e idêntico ao da Spin. O que não valoriza o produto.
O acabamento melhorou em relação a antes, com uso de botões emborrachados no painel, faixa larga de couro, materiais de melhor qualidade e um estilo mais moderno. Mas se você olhar para a porta terá uma sensação de 2012. Até porque só mudaram a textura do friso superior. Fica estranho o estilo moderno de 2024 de um lado junto ao outro de 12 anos.
Espaço interno e caçamba – Rafa
Ao longo das décadas, as caminhonetes médias tomaram fermento e aumentaram significativamente de tamanho. Antigamente, a Chevrolet S10,ano 1999, media 5,16 m de comprimento, enquanto uma Ford Ranger do mesmo ano oferecia 5,12 m.
Agora, com uma pegada de utilitário full size norte-americano, a S10 passou a 5,40 m de para-choque a para-choque, e a Titano mede 5,33 m.
Esse aumento nas dimensões resulta em uma melhor habitabilidade para até cinco ocupantes. Ao abrir a porta, a largura da carroceria de 1,96 m da Fiat Titano coopera para que motorista e passageiro não fiquem esbarrando um no outro. No entanto, tanto o assento da caminhonete da Chevrolet quanto da Fiat poderiam ser maiores, o que ajudaria na ergonomia.
Quem viaja no banco de trás encontra mais espaço para as pernas na Titano, devido aos 3,18 m de entre-eixos, contra 3,09 m da S10. A Titano também oferece o encosto traseiro em melhor ângulo em comparação com a S10, além de oferecer saídas de ar dedicadas.
Sempre costumo dizer que os consumidores de caminhonetes estão interessados principalmente na capacidade de carga e volumétrica da caçamba. Afinal, as caminhonetes nasceram como veículos de carga, e a proposta é carregar peso no compartimento de carga.
A Titano pode ter um visual mais robusto do que o da S10, mas a picape média da Fiat carrega até 1.020 kg de carga e oferece uma capacidade volumétrica de 1.220 litros. Do outro lado, a picape da Chevrolet, sob o lema “The Heartbeat of America“, transporta até 1.044 kg e acomoda 1.061 litros, ficando abaixo da Fiat Titano em termos de litragem.
O compartimento de carga da Fiat Titano possui 1,63 m de comprimento, 1,60 m de largura e 51,6 cm de altura, enquanto o da Chevrolet S10 mede 1,48 m, 1,53 m e 58,4 cm, respectivamente.
Ambas as caminhonetes oferecem ganchos para fixação, protetor de caçamba e capota marítima. No entanto, a tampa da caçamba da Titano é rústica, sem sistema de amortecimento, e pesada, o que impossibilita seu manuseio com uma mão na abertura e no fechamento.
Na Chevrolet S10 High Country (nomenclatura também utilizada no Trailblazer e na irmã maior Silverado), essa operação é facilitada pelo menor esforço necessário.
Custos e itens de série
Ambas as caminhonetes cobram pelo que oferecem. A Chevrolet S10 High Country parte de R$ 307.990, enquanto a Fiat Titano Ranch inicia em R$ 259.990, resultando em uma diferença considerável de quase R$ 50.000 no orçamento.
As duas são versões topo de linha e vêm recheadas de série. A Chevrolet S10 High Country oferece faróis de LED, banco do motorista ajustável eletricamente, coluna de direção ajustável em altura e profundidade, e direção assistida eletricamente.
Em segurança, traz seis airbags (frontais, laterais e de cortina) e alertas de tráfego cruzado traseiro, ponto cego, colisão frontal e mudança involuntária de faixa. O pacote da Chevrolet S10 também inclui frenagem de emergência, assistente de farol alto e sensores de estacionamento dianteiros e traseiros.
A Fiat Titano Ranch, por sua vez, também inclui seis airbags e controles eletrônicos de tração e estabilidade, mas fica devendo os assistentes à condução. No entanto, ela conta com um sistema de câmeras de 360º, que facilita a vida do motorista na hora de manobrar ou estacionar. Assim como a S10, ela também é equipada com sensores de estacionamento dianteiros e traseiros.
Veredicto
Mesmo tendo uma diferença enorme de R$ 48 mil, é impossível dar a vitória à Fiat Titano Ranch nesse . Ela seria uma ótima concorrente para a Chevrolet S10 High Country de 2012, não para o modelo de 2024. Falta refinamento na dirigibilidade, ela tem menos equipamentos e é nitidamente uma caminhonete mais velha.
O problema da e, indiretamente também da , é que a Ford Ranger subiu demais o patamar do segmento. Sem a rival do oval azul, facilmente a GM teria a melhor caminhonete média do Brasil. Mas se falta um pouco para a S10 chegar no patamar da Ranger, falta demais para a Titano chegar perto até da S10.
Qual caminhonete média você levaria para casa: Fiat Titano ou Chevrolet S10? Conte nos comentários.