O Fiat Argo já pode ser considerado um veterano em nosso mercado. Não no sentido de estar obsoleto. Pelo contrário, ele continua sendo um carro bom, mas já está entre nós há sete anos. E, neste período, poucas mudanças foram feitas. Na realidade, o Argo foi bastante simplificado ao longo dos anos, mas isso eu explico ao longo do texto.
A versão testada foi a Drive CVT, que é equipada com o câmbio CVT e motor 1.3 flex de 107 cv e 13,7 kgfm de torque, com etanol, e 98 cv e 13,2 kgfm de torque, com gasolina. Com esses números, não espere um desempenho acima da média. No entanto, o Argo é um carro leve e dá conta do recado.
O maior problema é a simplicidade desta versão, que não traz nem rodas de liga leve e faróis de neblina. E seu preço hoje é de R$ 97.990, mais caro que um Citroën C3 You, que conta com o motor 1.0 turbo de 130 cv e câmbio CVT, e perto dos R$ 99.990 cobrados pelo novo Peugeot 208 Allure turbo, com o mesmo conjunto mecânico do C3. Ou seja, até mesmo no Universo Stellantis, o Fiat Argo Drive CVT está perdido.
Ao volante com o Fiat Argo Drive CVT
Logo que saí com o Fiat Argo CVT, me chamou a atenção a leveza da direção elétrica. Em baixas velocidades, e até mesmo na hora de manobrar, a direção facilita bastante o processo. Conforme a velocidade sobe, o sistema progressivo aumenta o peso, mas sem deixar a direção desconfortável. É, realmente, algo a se elogiar no hatch.
E por falar em velocidades maiores, o Argo se comporta muito bem em estradas. Por conta do local onde moro, preciso pegar rodovias com frequência, o que ajuda na hora de avaliar os carros que testo. A suspensão tem um ótimo acerto, com o hatch fazendo curvas muito bem. A estabilidade, de maneira geral, é bastante positiva.
Na cidade, o Argo com motor 1.3 e câmbio CVT encontra o seu habitat. Compacto e leve de guiar, ele ainda tem a facilidade de se ter uma transmissão automática disponível, o que é útil no trânsito frenético de São Paulo. E por ter pouco mais de 4 metros de comprimento, é fácil encaixar o modelo em uma vaga. Hatches ainda conseguem ser bastante práticos, e para a maioria das pessoas um carro deste tamanho seria suficiente.
Como mencionei o câmbio automático, acho que cabe aqui uma reflexão. É comum nós, jornalistas, falarmos que a transmissão CVT lembra uma enceradeira. De fato, ao cravar o pé no acelerador, o câmbio eleva o giro e o motor do hatch grita. Porém, isso é feito pouquíssimas vezes, como em uma ultrapassagem ou ao encarar uma subida mais íngreme.
Será que não pegamos muito no pé dessa transmissão? Afinal, ninguém dirige o tempo todo com o pé cravado. E, caso você dirija assim, algo não está certo. Foi apenas uma pensata, mas o comportamento do CVT do Argo não me irritou. Pelo contrário, ele responde bem e está bem acertado com o motor.
Espaço amplo
Outro ponto de destaque do Argo é o espaço. Por incrível que pareça, ele consegue ter um espaço traseiro maior que o de muita picape. Recentemente, testei uma Ford Maverick. E eu, com meu 1,87 m, me sentia completamente espremido no banco traseiro. No Argo, eu me acomodava confortavelmente. O entre-eixos, de 2,52 m, não é imenso. Mas o aproveitamento de espaço é muito bom no hatch.
No porta-malas, os 300 litros de capacidade estão dentro da realidade do segmento. É um carro compacto, então a litragem pode ser considerada boa. Pena que essa versão não tem nem banco bipartido, porque isso amplia a usabilidade do carro. Como disse, a Fiat simplificou bastante o Argo. Em alguns pontos, até demais.
Simples, mas funcional
Realmente, a simplicidade do Argo Drive CVT salta aos olhos tanto no visual externo, com as calotas, e também no interior. A cabine é praticamente a mesma desde a estreia. Há uma central multimídia, mas ela tem apenas 5 polegadas. A tela do seu celular é maior do que isso. Só existe duas portas USB em toda a cabine. Não existe saída de ar para a traseira, tão pouco mais airbags do que os dois obrigatórios por lei.
Os plásticos estão por toda parte na cabine. Isso passa despercebido em uma versão de entrada, mas em um modelo de quase R$ 100 mil e que é praticamente o topo de linha do modelo (há ainda a versão Trekking, com preço inicial de R$ 103.990), essa falta de cuidado com o interior é um ponto bastante negativo.
O Argo também é carente em porta-objetos. Simplesmente não existe um bom lugar para deixar seu celular, enquanto ele espelha a tela, por cabos, na central multimídia. O único local que encontrei foi na frente do seletor de marchas. O problema é que para colocar em P, era preciso tirar o celular dali. Ou seja, já passou da hora da cabine ser atualizada.
Veredicto
Por R$ 97.990, é difícil justificar a compra dessa versão para pessoas físicas. A impressão que fica é que o Fiat Argo Drive CVT foi pensado para frotas, principalmente locadoras. Por R$ 2 mil a menos, o Citroën C3 You oferece mais itens e mais potência. Por R$ 2 mil a mais, há o Peugeot 208 Allure, que é melhor em quase tudo, exceto espaço interno.
Eu gosto dessa configuração 1.3 + câmbio CVT. O motor aspirado pode não entregar um ótimo desempenho, mas não deve também. E o consumo é bom, com 12,6 km/l (gasolina) e 9,1 km/l (etanol), na cidade. E na estrada, com 13,9 km/l (gasolina) e 10,1 km/l (etanol). Dessa forma, se você procura um hatch automático na casa dos R$ 100 mil, é melhor olhar a concorrência. O Argo é ótimo e merecia um cuidado melhor. Mas, infelizmente, ele se tornou simples demais nesta versão.
Você teria um Fiat Argo nesta versão? Deixe nos comentários a sua opinião.