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Ainda bem que a eletrificação não estragou o Fiat 500 | Avaliação

 Eletrificação é algo que dá medo em muita gente e, por sorte, ela só trouxe benefícios para o Fiat 500, que manteve seu característico charme

Fiat 500e [Auto+ / João Brigato]
Fiat 500e [Auto+ / João Brigato]

Por mais que você seja como eu e ame o ronco de um motor bem calibrado ou a emoção de um belo turbo empurrando o carro com toda força, isso é algo do passado. As montadoras estão se preparando para a virada totalmente elétrica para breve, o que levará diversos ícones automotivos para o mundo das baterias. Como foi o caso do Fiat 500.

O pequenino hatch subcompacto italiano sempre foi reconhecido por três coisas: dirigibilidade apurada, visual charmosíssimo e preço alto. O grande medo de todos quando a Fiat anunciou que a nova geração seria somente elétrica era que grande parte da boa dirigibilidade do 500 se perderia. Especialmente porque o 500 elétrico antigo era um carro ruim.

Mas ainda bem que foi um erro retumbante, como notei ao longo de uma semana testando o modelo de R$ 255.990. A título de curiosidade, durante o período de avaliação, o preço subiu e essa belíssima cor cinza acetinada foi tirada de linha.

Fiat 500e [Auto+ / João Brigato]
Fiat 500e [Auto+ / João Brigato]

Canhãozinho

Fora o Abarth, esse é o Fiat 500 mais potente e rápido já vendido no Brasil. Tudo bem que os 118 cv e 22,4 kgfm de torque não parecem muita coisa – afinal, são números de . Mas a eletricidade fez com que o pequenino se tornasse um verdadeiro canhãozinho.

A performance e a vivacidade fazem lembrar do Volkswagen up! TSI. São exatos 9 segundos para atingir os 100 km/h no maior silêncio. Nos primeiros metros em uma arrancada, o Fiat 500 parece se arrastar e buscar fôlego antes de começar a disparar com vontade. Ele verdadeiramente brilha é nas retomadas.

Fiat 500e [Auto+ / João Brigato]
Fiat 500e [Auto+ / João Brigato]
Nesses momentos, basta um cutucão no acelerador para que ele ganhe velocidade ridiculamente rápido – deixando muito carro potente metido à besta para trás. A barra de força no painel de instrumentos totalmente digital pende para o lado vermelho e o 500 acelera com o mesmo ímpeto de um Abarth.

Isso se deve ao baixo peso para um carro elétrico. Com 1.290 kg na balança, ele não é muito mais pesado que um , apesar de ter dimensões bem enxutas. São 3,63 m de comprimento, o que o fazem menor que um Mobi. Contudo, a altura de 1,52 m o coloca acima de muito hatch compacto. Já a largura de 1,68 m terá um efeito prático discutido depois.

Fiat 500e [Auto+ / João Brigato]
A Fiat declara velocidade máxima de 150 km/h, mas o 500 pode ir um pouco além. Além disso, a autonomia de 320 km com carga total é só vista em regimes urbanos e com cuidado com acelerações mais fortes. Na vida real e com alguns trechos de estrada, algo em torno de 260 km é mais seguro de dizer.

Espírito Abarth

Se fortes acelerações é o que já se espera de um carro elétrico, foi nas curvas que o Fiat 500e mais me surpreendeu. Ao pegar uma alça de acesso com o pé mais forte no acelerador, percebi que o pequenino não reclamava e aguentava mais. O ritmo foi aumentando e nada do 500 ou dos pneus cantarem. Enquanto isso, meu baço já saia do lugar e o cérebro se preparava para saltar pelo ouvido.

Fiat 500e [Auto+ / João Brigato]
Fiat 500e [Auto+ / João Brigato]
É impressionante a desenvoltura desse Fiat nas curvas. Ele as engole tão bem quanto um Mini, tendo agilidade exemplar e aguentando força G como um esportivo. Para chegar a tal resultado, as baterias instaladas na parte inferior e a suspensão verdadeiramente dura foram necessárias.

O 500 copia cada superfície do asfalto. Se você atropelar uma joaninha, vai sentir. Se houver uma mínima mudança de relevo no asfalto, como um remendo por exemplo, isso ficará bem claro por conta da dureza do conjunto. Não chega a ser algo como um Mini John Cooper Works que te fará visitar o fisioterapeuta depois, mas é rígido.

Fiat 500e [Auto+ / João Brigato]
Fiat 500e [Auto+ / João Brigato]
Já a direção vive um dilema consigo mesma: “eu sou macia para combinar com a carinha fofinha do 500. Mas preciso ser rápida e direta porque se não o pessoal da Abarth reclama”. A direção que me disse isso, juro. Ao mesmo tempo em que ela tem respostas ágeis para fomentar esse comportamento de kart do Fiat 500e, é macia demais para uma tocada esportiva.

Ou seja, ótimo para manobras e sem tanta confiança para os momentos de diversão extra. Isso porque o volante tem ótima empunhadura e um couro de qualidade exemplar. Ainda que a Fiat o tenha equipado com revestimento bege que vive encardido por ser usado na parte em que as mãos mais tocam.

Fiat 500e [Auto+ / João Brigato]
Fiat 500e [Auto+ / João Brigato]

Mais Argo, menos Jeep

Por falar em acabamento, o Fiat 500 elétrico está mais para o nível Argo de qualidade do que para o lado Jeep da Stellantis. Significa que seja um acabamento ruim? Não, muito pelo contrário. Os plásticos usados são de qualidade e a montagem é boa, apesar do console central parecer mal parafusado por ser molenga.

Mas não há nada de superfície macia como nos modelos da Jeep ou até da Peugeot. Para um carro de mais de R$ 250 mil, esperava um pouco mais de cuidado. Em especial quando comparado ao Mini Cooper SE, seu rival direto. Mas ele tem seus destaques, como o desenho de um 500 original no puxador da porta e do skyline de Turim no carregador por indução.

A maçaneta é aberta por um botão tanto do lado de dentro quanto do de fora, mas há uma alavanca em caso de emergência. Botões controlam as marchas, enquanto o console central traz seletor de modo de condução, freio de mão e controle do volume da central multimídia. Comandos de vidros são os mesmos do .

Destaque aqui vai para a central multimídia. A Fiat tem acertado e muito em seus sistemas, que apresentam ótima velocidade, menus fáceis e claros, além de uma tela digna do nível de qualidade de um iPad. Por ser mais horizontalizada, ela permite concentrar mais informações com menos invasão da linha de visão do motorista.

Só que se espaço interno for sua prioridade, esqueça do Fiat 500 elétrico. Ele é bem pequeno e apertadinho. São apenas 185 litros de capacidade e espaço apenas para crianças na traseira. Como a posição de dirigir é alta, mesmo com o banco o mais baixo possível, minha cabeça ficava raspando no teto bem no calombo criado para o teto solar.

Tudo bem que meus 1,87 m de altura acabam por se tornar uma referência ruim de altura para um motorista, mas a cabeça raspando incomodou. Ao menos a área para as pernas é generosa e o 500 conta com diversos níveis de ajustes para banco e volante.

Pequeno, mas equipado

Apesar de seu tamanho diminuto e proposta bem urbana, o Fiat 500 é equipado como um carro de luxo. Traz ar-condicionado digital de uma zona, carregador de celular por indução, frenagem autônoma de emergência, chave presencial (com um design horrível e sem botões), faróis full-LED, teto solar e alerta de ponto cego.

Tem ainda a presença de piloto automático adaptativo e sistema de manutenção em faixa que trabalham bem em parceria (apesar de o sistema de manutenção em faixa ser um pouco brusco nas correções), seis airbags, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, assistente de partida em rampa, monitoramento de pressão dos pneus e wi-fí à bordo.

 [Auto+ / João Brigato]
[Auto+ / João Brigato]

Veredicto

O Fiat 500 é um pequeno mimo nessa categoria. Não tem o espaço de um JAC E-JS4 ou o acabamento refinado de um Mini Cooper SE. Mas é mais divertido de dirigir que o SUV chinês e tem mais autonomia que o hatch britânico. É muito bem equipado, tem ótima dirigibilidade, sendo surpreendente nas curvas, além de ter acabamento coerente.

Custa caro como todo elétrico, mas felizmente mantém o espírito tão amado do 500 da geração anterior vivo com visual charmoso e prazer ao volante. Ainda bem que a eletrificação não estragou esse grande ícone da Fiat.

 [Auto+ / João Brigato]
[Auto+ / João Brigato]

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