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Um Volvo, mas não um Volvo

EX30 Ultra brilha como um Volvo e falha onde não deve | Avaliação 

 Existem falhas no Volvo EX30 que seriam perdoáveis em outras marcas, mas que viram pecados quando se trata da marca sueca

Volvo EX30 Ultra [Auto+ / João Brigato]
Volvo EX30 Ultra [Auto+ / João Brigato]

A Volvo está passando por um novo momento de transformação. Quando a marca sueca saiu da Ford para virar uma fabricante da Geely em 2010, a marca sueca evoluiu absurdamente e muito rápido. Só que agora com um monte de outras montadoras no grupo, ela tem de achar novamente seu espaço. Nisso, veio o Volvo EX30.

Ele claramente é claramente o primeiro passo da marca sueca em direção a um novo futuro substancialmente diferente do que há agora. Focada em carros totalmente elétricos, o EX30 já nasceu com essa concepção de nunca ter uma variante a combustão, além de compartilhar plataforma com modelos da Smart e Zeekr.

A questão é que a Volvo pesou a mão no minimalismo e na pegada ecologicamente correta do EX30 que se esqueceu de duas coisas pelas quais ela sempre foi muito bem reconhecida: segurança e interiores impecáveis. Mas por R$ 293.950 e um conjunto mecânico brilhante, os pecados do EX30 podem ser esquecidos?

traseira do Volvo EX30 Ultra amarelo com teto preto
Volvo EX30 Ultra [Auto+ / João Brigato]

Essencialmente Volvo

Vou começar pela parte boa, que é a dirigibilidade do Volvo EX30. Não há sequer um carro elétrico nessa faixa até R$ 300 mil, quer seja um SUV ou um hatch, que ande tanto e tão bem quanto esse sueco. São 272 cv e 35 kgfm de torque empurrando as rodas traseiras. Mas parece ser mais. Bem mais.

Mal você pisa no acelerador e o Volvo EX30 dispara. Particularmente gosto muito desse jeito estúpido dos Volvos elétricos, que disparam sem dó. O resultado da aceleração forte do compacto é que ele chega aos 100 km/h em 5,3 segundos. Só que, por pertencer à marca que pertence, a aceleração é bruta, mas segura.

capô aberto do Volvo EX30 Ultra amarelo com teto preto
Volvo EX30 Ultra [Auto+ / João Brigato]

Mesmo tendo tração traseira, o EX30 é um carro muito neutro na tocada, saindo pouco de traseira e mantendo a frente apontada na curva o tempo todo. A eletrônica ajuda a manter o modelo no eixo e não decepciona em uma tocada mais forte. Para isso, direção e suspensão contribuem.

O volante pequeno e quadrado combina bem com a pegada mais firme e bem direta do Volvo. Já a suspensão segura bem o carro e trabalha bem com o centro de gravidade baixo. Ele fica em um meio termo entre um hatch esportivo e um modelo comum no quesito firmeza do conjunto.

roda de liga-leve de 19 polegadas do Volvo EX30
Volvo EX30 Ultra [Auto+ / João Brigato]

Elétrico conveniente

Segundo a o ciclo INMETRO, o Volvo EX30 consegue rodar até 338 km com carga completa, já o WLTP diz que são 480 km. Na prática, o modelo pediu uma tomada só depois de rodar 400 km. O gerenciamento de carga feito pela marca é muito bom, o tornando econômico.

Ele funciona quase como um carro a combustão, mantendo o regenerativo levemente quando o pedal de acelerador é desativado. Mas ele sabe aproveitar alguns momentos de inércia com o ponto certo do pedal pressionado. Não é também o tipo de elétrico que te exige adaptações para dirigir. Bom, ao menos nesse ponto.

frente do Volvo EX30 Ultra amarelo com teto preto
Volvo EX30 Ultra [Auto+ / João Brigato]

Irritações diárias

Porque o interior do Volvo EX30 é todo feito para ser minimalista e existir do motorista dias de aprendizado para adaptar-se. Começa pelo painel de instrumentos totalmente digital, que é posicionado na parte superior da central multimídia. Uma solução que veio da Tesla e é simplesmente péssima.

Poderia até passar um pano para essa solução se estivesse em um BYD, um Citroën ou qualquer outra marca que promove soluções exóticas em seus carros. Mas em um Volvo não. Até porque é uma marca que sempre pensou muito em segurança e tem isso como seu mote. Mas que adotou uma solução que deliberadamente compromete a segurança.

interior do Volvo EX30 Ultra
Volvo EX30 Ultra [Auto+ / João Brigato]

A prova de que há comprometimento da segurança vem do próprio carro. Se você fica verificando a velocidade o tempo todo (algo necessário na estrada para não tomar multa, porque o EX30 anda muito), ele acusa que você não está atento à estrada e te dá uma bronca.

Isso acontece porque o Volvo EX30 conta com câmeras na frente do motorista, onde deveria estar o painel de instrumentos, que te monitoram o tempo todo. Bocejou, ele manda você parar por te julgar cansado. Ficou procurando uma música no Spotify, outra bronca sonora. E por aí vai.

central multimídia e painel de instrumentos do Volvo EX30
Volvo EX30 Ultra [Auto+ / João Brigato]

Complicando o que é fácil

Outro elemento que a Volvo resolveu inventar moda foi na seta. A haste não fica na posição em que se é dado o comando, voltando ao centro sempre que acionada. Como o barulho é baixo, o aviso visual fica na central e é difícil desativar, é comum ver um EX30 na rua dando seta sem motivo.

A marca também colocou o controle do retrovisor da maneira mais complicada que já vi na vida. É preciso acionar o comando pela central multimídia e depois controlar os espelhos por botões no volante. Botões esses que não permitem movimentos sutis no ajuste e atrapalham bastante.

porta-copos retrátil do volvo ex30
Volvo EX30 Ultra [Auto+ / João Brigato]

Outro grave problema de ergonomia resultante de uma economia de custos disfarçada de pegada ecologicamente correta é o comando dos vidros. Eles ficam no centro do console e contam com um botão “rear”para acionamento das janeiras traseiras. Tal qual a VW fez no ID.4 e é igualmente irritante.

Até mesmo o porta-luvas do Volvo EX30 é operado pela central multimídia. E ele também é diferente, porque fica logo abaixo da tela, não à frente do passageiro. É uma maneira de usar uma peça única independentemente de que lado esteja a direção do elétrico.

interior completo do volvo ex30 com acabamento simples
Volvo EX30 Ultra [Auto+ / João Brigato]

Mas e aí?

Se a operação de algumas coisas no Volvo EX30 é bastante complicada, a ergonomia de direção é perfeita. O banco conta com plenitude de ajustes, assim como o volante. É interessante que o comando elétrico dos bancos é um quadrado ao invés do desenho tradicional de um assento. Mas funciona muito bem.

Outro ponto vai para a central multimídia, na qual a Volvo atingiu o estado de arte. Comumente ignoro a interface da montadora e uso todo o tempo o Apple CarPlay. Porém, isso não se fez necessário no EX30. Ele conta com sistema Android embarcado. Com isso, Google Maps, e outros aplicativos já estão lá.

traseira do Volvo EX30 Ultra amarelo com teto preto
Volvo EX30 Ultra [Auto+ / João Brigato]

Se você logar com suas contas no EX30, tudo que carrega em seu celular, estará lá diretamente na central. E ainda com o beneficio de não gastar seu plano de dados e ter integração com o carro. O Maps, por exemplo, mostra com quanto de bateria você chegará ao destino e indica eletropostos pelo caminho, se necessário.

Jogo do perde e ganha

A central multimídia é acompanhada de uma belíssima soundbar da Harman Kardon. Ela distribui o som por toda a cabine e nem te faz perceber que não há caixas de som nas portas, como todos os carros têm. O som é claro, limpo e de qualidade. Foi um jeito que a Volvo fez para ganhar espaço extra nos bolsões de porta.

bancos dianteiros de tecido do volvo ex30
Volvo EX30 Ultra [Auto+ / João Brigato]

Aliás, espaço é o que não falta na frente. O console central é bem grande, contando com um alçapão com fundo colorido onde é possível esconder alguns objetos e ter acesso a duas entradas USB do tipo C. Há ainda uma gaveta que é acessível também pelo banco traseiro para guardar mais quinquilharias.

Só que quem senta atrás vai passar aperto. O teto é baixo, o piso é alto e o espaço para as pernas é acanhado. Nitidamente europeu como um Peugeot 208, o Volvo EX30 não vai levar bem quatro pessoas. No porta-malas, de abertura elétrica, são 318 litros e há uma divisória para dois andares de carga. 

Mas há de pontuar que o acabamento é ruim para um Volvo. Há raras partes macias, que nem são tão macias assim. A cabine é lotada de plásticos duros que são justificados pela marca por serem materiais reciclados e recicláveis. Nas portas há bastante tecido, mas envolto a um plástico duro.

Ultra equipado

Sendo a versão topo de linha do Volvo EX30, a Ultra conta com uma lista enorme de itens de série. Ele traz teto solar panorâmico, chave presencial, bancos dianteiros elétricos, ar-condicionado digital de duas zonas, internet sem limite de dados, porta-malas com abertura elétrica, controle de tração e estabilidade.

traseira do Volvo EX30 Ultra amarelo com teto preto

Há ainda piloto automático adaptativo, alerta de tráfego cruzado, alerta de saída segura, alerta de ponto cego, sistema de câmeras 360º, farol com acendimento automático, sensor de chuva, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, faróis e lanternas full-LED, além de luz ambiente.

Veredicto

A essência de um automóvel é feita de várias coisas. Como máquina de conduzir, o Volvo EX30 é espetacular. É delicioso de dirigir, acelera bem, tem boa autonomia, controle de curva é quase de um esportivo e a dinâmica é irrepreensível. Contudo, ele falha onde a Volvo não falhava.

frente do Volvo EX30 Ultra amarelo com teto preto com faróis acesos
Volvo EX30 Ultra [Auto+ / João Brigato]

O acabamento é ruim, o interior é lotado de itens confusos de usar e o painel de instrumentos na central multimídia é imperdoável. Pensando que a plataforma do Volvo EX30 é a mesma do Zeekr X e do Smart #01, me faz pensar que a Geely deu uma facada nas costas da Volvo, caso eles andem tão bem quanto o EX30 e não comentam os mesmos erros.

Você teria um Volvo EX30? Conte nos comentários.