O Citroën C3 ainda não emplacou nesta terceira geração. Lançado em 2022, o hatch marcou o início do projeto C-Cubed por aqui, com o recém-lançado Basalt completando a nova família da fabricante francesa. Ele também foi o responsável por colocar em prática o reposicionamento da Citroën, que se tornou uma marca mais de entrada na Stellantis.
Com uma proposta de ser mais econômico e menos sofisticado que o C3 anterior, o modelo atual ainda não deslanchou no mercado, e vende menos que carros mais sofisticados, inclusive na própria Stellantis, como os Fiat Pulse e Fastback, e o Jeep Compass. O mercado tem dessas coisas, mas o hatch da Citroën é melhor do que parece. E até mesmo maior.
Talvez o que jogue contra o modelo seja seu visual simples demais, e que faz com que ele seja comparado frequentemente com o Renault Kwid, que é bem menor. O Citroën C3 tem quase o tamanho do Fiat Argo, mas frequentemente está com preços compatíveis aos praticados pelo Kwid e Fiat Mobi.
Na tabela, o C3 Live Pack testado custa R$ 84.690, mas é comum que ele seja oferecido na casa dos R$ 70 mil. Entretanto, como o parâmetro de avaliação é o preço tabelado dos carros, o valor oficial é o que será considerado nesta avaliação. E com este olhar, talvez a versão Live Pack seja simples demais pelo o que custa.
Simplicidade do Citroën C3
Ao analisar o visual desta configuração, é nítido que se trata de um modelo de entrada. As rodas de 15 polegadas são de aço, sendo cobertas por calotas. A grade não é cromada. Ela é pintada de cinza acetinado. Quem quiser rodas e grade cromada precisa partir para o C3 Feel, que custa R$ 87.590. Ou então para o You, turbinado lançado há poucos meses e que tem preço sugerido de R$ 99.990.
Ao menos a versão Live Pack tem alguns equipamentos a mais que a versão de entrada, a Live. Aqui, há uma central multimídia de 10 polegadas com Android Auto e Apple CarPlay. Ela pode não ser a melhor da categoria, mas é competente. Tem uma resolução aceitável e bom funcionamento, e ao menos disfarça um pouco a simplicidade da cabine.
O sistema de som tem até tweeters na coluna dianteira, mas não espere uma qualidade premium. Lembre-se, estamos em um carro de entrada. No entanto, o som é bom, dentro da média. Só não é nada espetacular.
A cabine do Citroën C3 até tenta parecer mais sofisticada do que de fato é, mas como o Diabo mora nos detalhes, são justamente eles que entregam a economia de custos. As saídas de ar têm posições diferentes nas extremidades, mas a peça é a mesma do painel central, apenas montada na vertical.
Painel simples e vidros manuais na traseira
Porém, nada me irrita mais do que o painel de instrumentos deste carro. Eu preferiria que o C3 tivesse um mostrador analógico, em vez do painel digital minúsculo e com poucas informações. Não há sequer um conta-giros. E como essa versão é manual, com câmbio de cinco marchas, o mostrador de rotações faz falta. Principalmente se considerarmos que essa versão pode interessar quem está em busca do primeiro carro, e não tem tanta experiência assim ao volante.
Eu já tive contato com diversos carros simples. Meu antigo VW up! era da versão de entrada, e também não tinha conta-giros. Mas ao menos o painel era maior. No caso do C3, pelo menos tem um mostrador de marchas, que indica o melhor momento para se aumentar ou reduzir a marcha engatada. Não resolve o problema, mas pelo menos é melhor do que nada.
Outro ponto que entrega a simplicidade da versão é o vidro manual na traseira. Apenas os dianteiros são elétricos. A única vantagem é que a manivela fica no lugar certo, na porta. No caso dos modelos com vidros elétricos traseiros, o acionamento é feito no centro, no console entre os bancos.
Atitude SUV
Debaixo do motor, a versão Live Pack traz o motor 1.0 aspirado de 75 cv e 10,7 kgfm, quando abastecido com etanol. Na gasolina, a potência é de 71 cv e o torque cai para 10 kgfm. Como dito anteriormente, o câmbio é o manual de cinco marchas. Com essa configuração, o desempenho é apenas aceitável, como é comum em carros 1.0 sem turbo.
Só que a vantagem do C3 é ser um carro leve, pesando 1.047 kg. Por isso, ele é mais ágil do que parece, ainda que demore cerca de 14 segundos para atingir os 100 km/h. O carro é ágil, não rápido.
A posição de dirigir é boa, mas não faz muito meu estilo. O conceito de hatch com atitude SUV deixou o banco do motorista alto demais. E como a coluna é fixa nesta versão, é um pouco mais difícil achar uma posição de dirigir agradável. Não é ruim, mas realmente é como estar em um SUV. Você fica sentado como em uma poltrona.
O banco é bastante simples, mas, novamente, estamos em um carro de entrada. O apoio é aceitável, mas não há grandes confortos. Pelo menos a condução do modelo é bastante agradável. Assim como mencionei na avaliação do Fiat Argo Drive 1.3 CVT, a direção elétrica é leve em baixas rotações, mas fica mais pesada conforme a velocidade aumenta.
E nesta versão, por ser manual, os pedais também merecem elogio. Eles são bem posicionados, e o da embreagem consegue ser extremamente leve. No trânsito frenético de São Paulo isso faz bastante diferença. Já os engates do câmbio não são tão precisos, e têm aquele aspecto borrachudo. No entanto, é melhor do que nos modelos da Fiat, mesmo a transmissão sendo igual.
Consumo e desempenho
Quem busca um carro de entrada, certamente não quer gastar rios de dinheiro com combustível. E o Citroën C3 Live Pack vai bem também neste quesito. O modelo encerrou o teste com média de 13,9 km/l na gasolina, depois de mais de 500 km rodados. O consumo oficial diz que o hatch faz 9,5 km/l, com etanol, e 13,2 km/l, com gasolina, na cidade. Em trechos rodoviários, a marca é de 10,3 km/l, com o combustível vegetal, e 14,5 km/l, com o derivado do petróleo.
Em trechos urbanos, o desempenho é bom, mas é inevitável o C3 perder fôlego em subidas, pois é um carro de 75 cv (ou 71 cv, na gasolina). Mesmo assim, não é ruim. Nas rodovias, as retomadas e o ganho de velocidade são os pontos que mais ficam críticos com esse motor aspirado. Mas, novamente, é algo compreensível para o propulsor utilizado.
O que chama a atenção é a boa estabilidade do hatch, com um acerto de suspensão na medida. A Citroën sempre fez isso muito bem, e no C3 manteve a fama. Em curvas rápidas, ele é bastante divertido de ser guiado, mesmo não tendo uma potência alta.
Espaço interno
Com 3,98 m de comprimento e um entre-eixos de 2,54 m, o Citroën C3 oferece um bom espaço para seu porte. A largura de 1,73 m dá uma distância boa para os ocupantes dianteiros, e o banco traseiro acomoda bem adultos de estatura mediana. Mesmo tendo 1,87 m, não fiquei espremido no banco de trás. O porta-malas tem 315 litros, um tamanho bom para o segmento.
Nesse quesito, o C3 se mostra uma boa alternativa, principalmente para quem tem família. É possível acomodar quatro ocupantes sem grandes apertos, e o porta-malas ainda tem uma litragem suficiente para poucas bagagens.
Veredicto
Pelo valor cobrado na versão Live Pack, a sua relação custo-benefício não é tão favorável. Por R$ 3 mil a mais, é possível levar para casa o modelo Feel, que tem luzes diurnas em LED, vidros elétricos em todas as portas, retrovisores com ajustes elétricos, e rodas de liga leve de 15 polegadas.
Porém, com as que são frequentes, a Live Pack acaba se tornando uma boa escolha, já que tem mais itens que o modelo de entrada. Particularmente, no preço cheio, eu tenderia a optar pelo modelo Feel. Mas com uma boa promoção, a Live Pack fica interessante, mesmo sendo racional demais.
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