De maneiras inversamente proporcionais, carros esportivos baixos e duros são quase tão inconvenientes quanto gigantes. Cada um com sua maneira diferente de atrapalhar a vida. E fazia tempo que não testava um modelo desse porte, sendo a última a Ford F-150. Mas como me surpreendeu a .
Diferentemente da Fiat Titano, na qual as impressões iniciais no evento de lançamento não foram boas e seguiu assim quando a testei de fato tempos depois, a Chevrolet Silverado mudou a visão. A proposta do test-drive original deixou de explorar algumas questões que, na convivência diária, mostraram que a caminhonete grande manda bem.
É gigante e ainda maior
Teoricamente, não é fácil manobrar uma jamanta de 5,91 m de comprimento, 2,06 m de largura, 1,94 m de altura e entre-eixos de 3,74 m. Especialmente quando você percebe que a Chevrolet Silverado é o maior carro à venda no Brasil cujo motorista pode dirigir com CNH B – Ram 2500 e 3500 exigem CNH C.
A situação piora (e muito) graças aos desnecessários e exagerados retrovisores – os quais terão um capítulo à parte. Mas, assim como a Chevrolet faz mágica para o velho motor 1.8 da Spin ser econômico, alguma poção mágica foi usada lá nos EUA ao desenvolver a Silverado. É fácil estacionar esse monstro.
A direção é bem leve e exige poucas voltas de batente a batente para estacionar. Além disso, o acelerador é bem modulado para permitir movimentos sutis. É mais fácil estacionar a Silverado do que muitos carros de menor porte. Claro que os sensores na frente e na traseira, além da câmera 360° ajudam.
Poderia ser do Camaro
Rodando, essa agilidade da caminhonete também surpreende. Diferentemente de Ram 1500 e Ford F-150 que demoram a fazer o V8 acordar, a Silverado o mantém disposto o tempo todo. São 360 cv e 52,9 kgfm de torque em um motor 5.3 aspirado. São números que a tornam, de longe, a caminhonete grande mais fraca do Brasil.
Só que isso não transparece na convivência diária. A Chevrolet soube muito bem calibrar a transmissão automática de dez marchas, que é a mesma da Ford F-150. Na Silverado, as trocas são extremamente suaves e rápidas, só que basta cutucar o acelerador mais um pouco para que o V8 entre com toda a força e ela acelere sem medo.
Isso faz com que o consumo declarado seja de 6 km/l na cidade e 7,4 km/l na estrada. Mas na vida real é bem diferente. Como ela conta com sistema de desativação de cilindros, não é complicado chegar a 8,5 km/l na estrada e baixar a média divulgada para 6,5 km/l na cidade na vida real.
Impressão que se foi
Quando dirigi a Chevrolet Silverado pela primeira vez, havia sentido uma suspensão muito oscilante e que a fazia balançar o tempo todo. Só que na convivência mais intensa, foi possível perceber que não é bem assim. No final das contas, a culpa era da estrada. Ela é macia, de fato, mas balança suavemente como um transatlântico.
Assim como a S10 foi muito voltada ao conforto nessa mudança de geração, a Silverado segue o mesmo protocolo. Absorve muito bem as imperfeições do solo e, mesmo quando cai em buracos, não devolve ao motorista com chicoteadas no volante como algumas caminhonetes fazem.
O retrovisor
Talvez o maior defeito presente na Chevrolet Silverado seja o seu retrovisor. Ele é gigantesco, já que foi feito para as versões Dually da caminhonete, mas foi usado no Brasil porque aqui é obrigatório ter repetidor de seta na lateral. Com essas orelhas de Dumbo, você vai acertar árvores o tempo todo nas ruas.
Corredores de motos serão o terror com a Silverado, visto que o espelho fica na altura da cabeça dos motociclistas. Por isso, é preciso sempre recolher os retrovisores ao parar em trânsito intenso com corredor de moto. Outro fator está no próprio espelho, que tem a parte superior com um zoom absurdo, que distorce a imagem e atrapalha a visão.
Na prática, você acaba usando apenas a parte inferior do espelho para ter uma visão real do que está acontecendo. Só que, justamente a única parte útil do retrovisor, é fixa. Se eu comprasse uma Silverado hoje, a primeira coisa que faria seria trocar esses retrovisores pelo modelo padrão vendido nos EUA.
Mais que a encomenda
Por falar em padrão americano, a Chevrolet Silverado High Country brasileira vem mais equipada que o modelo de mesmo nome vendido lá fora. Foi a maneira que a GM encontrou de alinhar a sua caminhonete com as rivais Ram 1500 e Ford F-150. Especialmente por custar R$ 537.580.
De série, ela conta com seis airbags, câmera 360°, frenagem autônoma de emergência, sistema de manutenção em faixa, controle de tração e estabilidade, monitoramento de pressão dos pneus, alerta de tráfego cruzado, farol alto automático, sensor de chuva e luminosidade, ar-condicionado digital de duas zonas e farois full-LED.
Há ainda aquecimento para os bancos dianteiros, traseiro e volante, resfriamento para os bancos dianteiros, alerta de ponto cego, bancos dianteiros com ajuste elétrico, estribo lateral elétrico, tampa da caçamba com abertura e fechamento elétricos, teto solar, vidro da caçamba com abertura elétrica e chave presencial.
Sigam a mãe
Um dos pontos que merece mais destaque é a central multimídia. Ela conta com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, além de conexão wi-fi e aplicativos como Google Maps e Spotify. O layout é parecido com o usado em outros modelos da marca, como Spin e S10. Mas é bem mais fluido e rápido de mexer.
O painel de instrumentos totalmente digital deveria estar na S10, ao menos em versão reduzida. A tela é excelente, fácil de mexer e personalizável. Não é suscetível a reflexos e conta com um divisão inferior com informações extras que podem ter até as letras aumentadas, caso o motorista queira.
Outro elemento no qual a Silverado deve ser guiada como exemplo é no acabamento. Ela tem material macio em toda parte superior do painel e das portas. O couro usado é azul marinho, que contrasta com elementos em madeira e em aço. É um layout bonito e refinado como não visto em nenhum outro Chevrolet no Brasil. O volante é o mesmo da S10.
Espaço é uma vastidão sem fim. Na frente, motorista e passageiro contam com bolsões de portas lotados de porta-objetos, dois porta-luvas e um console central com dois andares para distribuir seus pertences. Já na traseira, mesmo um passageiro bem alto vai conseguir dobrar as pernas e ter espaço suficiente para cabeça e ombros.
Ela ainda conta com porta-objetos nas costas do assento traseiro, assim como abaixo do banco. Os passageiros da segunda fileira ainda têm saídas de ar dedicadas e porta-copos extras. Mas ninguém tem acesso a alça de segurança no teto, o famoso pqp.
Veredicto
Ainda que não seja tão sofisticada quanto a Ram 1500, ou rápida como a Ford F-150, a Chevrolet Silverado tem uma usabilidade diária surpreendente. Ela é ágil, muito confortável e verdadeiramente luxuosa. Você sente que seus meio milhão de reais estão, de fato, aplicados dentro desse carro.
Só que tem seus poréns. As rivais tem uma entrega maior em termos de performance e não contam com um retrovisor absurdo como o dela. A vantagem, no entanto, é que nem a rede de concessionárias da Ram e da Ford somadas chegam perto do que a Chevrolet tem hoje no Brasil.
Você teria uma Chevrolet Silverado? Conte nos comentários.