Quem faz a fama, deita na cama. BYD e GWM nos deixaram mal acostumados no Brasil ao oferecer carros eletrificados com preço de modelos a combustão, mas lotado de itens de série. Agora que a BYD quer brigar com Fiat, Chevrolet e Volkswagen, começou a lançar modelos mais baratos e menos equipados. E isso atrapalha a vida do BYD Song Pro.
O modelo chegou para atuar na faixa de baixo do Song Plus. Para isso, a marca recorreu à geração anterior do modelo, que seguiu em linha na China, mas com várias reformas visuais, adotou o nome Song Pro e o trouxe para cá em duas variantes. Para o teste, levamos a topo de linha GS de R$ 199.800.
A regra do jogo
Se observar bem, a categoria dos médios é dominada por modelos bem equipados. Os três modelos mais vendidos do segmento são Jeep Compass, Toyota Corolla Cross e CAOA Chery Tiggo 7. Nas versões de entrada, só o Toyota tem frenagem autônoma de emergência, enquanto o Jeep o traz como opcional e o CAOA Chery só no andar de cima.
Só que todos eles custam bem menos que o BYD Song Pro. Na faixa de preço no qual o SUV híbrido plug-in chinês atua, os três contam com piloto automático adaptativo, sistema de manutenção em faixa, alerta de ponto cego e por aí vai. Para ter isso em um BYD, é preciso subir para o Song Plus. E é essa sua maior mancada. Imperdoável para quase R$ 200 mil.
Como compensação, ele é bem servido em outros itens. Tem, por exemplo, porta-malas com abertura elétrica, carregador de celular por indução, painel de instrumentos totalmente digital, chave presencial, banco com ajuste elétrico, ar-condicionado digital de duas zonas, sistema de câmeras 360°, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro.
Há ainda farois com acendimento automático, seis airbags, purificador de ar, volante com ajuste de altura e profundidade, controle de tração e estabilidade, retrovisor externo com aquecimento e rebatimento elétrico, central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay, além de faróis e lanternas full-LED.
Somando as forças
Um dos grandes destaques dos carros da BYD é o gerenciamento de energia do sistema híbrido. A marca promete mais de 1.000 km com um tanque com o Song Pro. Não cheguei a tanto com o carro, visto que encerrei o teste com 853 km rodados durante uma semana e sem nunca ter passado perto de uma bomba no posto ou de um carregador.
Ainda por cima, faltava ¼ de tanque, promessa de mais 204 km e a bateria estava em 24% na entrega. Ou seja, teoricamente passaria dos 1.000 km. Contudo, a autonomia do Song Pro desce mais rápido do que de fato ele anda. Por isso, minha aposta seria de algo próximo aos 1.000 km.
Para chegar a tal resultado, o motor 1.5 quatro cilindros aspirado de 98 cv e 12,4 kgfm de torque trabalha junto a um elétrico de 197 cv e 30,6 kgfm. A maior parte do tempo, o motor a combustão funciona como gerador de energia para o conjunto elétrico. Você nitidamente sente quando ele entra em ação produzindo ruído e vibrações sutis.
No painel, o Song Pro mostra o funcionamento do conjunto. Ele entende momentos nos quais usa o motor a combustão para carregar as baterias, enquanto o elétrico empurra o carro. Contudo, eles podem trabalhar juntos para entregar 235 cv e 43 kgfm de torque. Ou só o elétrico empurra o carro ou ainda só o combustão, a depender da situação.
Para melhorar o consumo, use o controle de SOC na central multimídia. Por lá, é possível deixar no modo Save, onde trava o gasto da bateria, ou no Auto, em que ele maneja melhor a situação. É recomendado deixar algo perto dos 40% de bateria e no Auto, assim ele gasta além da metade, mas usa o 1.5 para carregar o conjunto com mais constância.
Fôlego não negado
O mais interessante desse sistema da BYD é que, ao contrário de outros híbridos plug-in, o protagonista é o motor elétrico, enquanto o combustão entra como auxílio, não o contrário. Com isso, o Song Pro roda como um carro elétrico. A aceleração é instantânea e forte, com o carro arrancando cantando pneu.
Segundo a marca, são necessários 7,9 segundos para chegar aos 100 km/h. Isso o torna nem mais rápido que os rivais diretos não eletrificados Jeep Compass 1.3 (9,4 segundos), Toyota Corolla Cross 2.0 (9,6 segundos) e CAOA Chery Tiggo 7 Pro (9,3 segundos). Isso tudo consumindo bem menos do que a metade do que eles bebem.
O silêncio à bordo não é tão grande quanto o do Song Plus, deixando o ruído do motor entrar na cabine. Mas os barulhos externos são bem isolados, especialmente por conta dos vidros grossos e alta quantidade de material isolante. E isso faz bastante sentido quanto a pegada do Song Pro.
Conforto é comigo
Enquanto o Compass é voltado a robustez e o Taos é ligado ao prazer ao dirigir, o BYD Song Pro tem como grande força o conforto. O silêncio à bordo colabora com o acerto dinâmico que a marca chinesa deu a ele. A suspensão continua não 100% ajustada ao nosso mercado, sendo mais molenga que o necessário.
Ele dobra bem nas curvas e não gosta de andar com mais ímpeto. Contudo, compensa pela boa absorção de impactos e pela serenidade com que roda, mesmo em altas velocidades na estrada. A flutuação da carroceria é menor do que no Tan, que incomoda até com isso, mas ainda não está no mesmo nível de um , que é melhor tropicalizado.
A direção é excessivamente leve, mesmo no modo Sport. Durante os primeiros metros com o Song Pro, me incomodou bastante o fato de que a direção fica demasiadamente anestesiada e até boba, me fazendo trocar para a configuração Sport. Ajudou um pouco, mas ainda falta uma comunicação maior e um pouco mais de peso ao rodar.
Tudo que você pode tocar, é macio
Se há algo que a BYD se destaca fortemente frente a outras marcas generalistas é em acabamento. O interior do Song Pro é muito sofisticado, com várias partes macias ao toque e revestimento de couro aveludado na grande maioria das partes em que as mãos constantemente tocam.
A montagem é bem feita, com encaixes bem feitos e sólidos. O visual é típico da marca, com console central alto cheio de botões, central multimídia grande que roda de um lado para o outro e painel de instrumentos totalmente digital. Para o Brasil, o Song Pro recebeu revestimento de couro bege com elementos em marrom claro.
Esse tipo de couro suja com muita facilidade, tanto que o modelo testado, que estava chegando aos 3.000 km rodados, já tinha o assento do motorista encardido e o volante apresentava sujidade nas partes claras. Seria melhor se a marca ofertasse a opção de revestimento preto, como faz com o Seal. Fora isso, impecável o acabamento.
A central multimídia da marca é fácil de mexer e recentemente foi atualizada. Agora, com o movimento de três dedos na vertical, é possível controlar a temperatura do ar-condicionado mesmo dentro do Android Auto ou do Apple CarPlay. Já na horizontal, você controla a ventilação. Uma atualização extremamente útil.
Espaço de gente grande
Outro destaque do BYD Song Pro está no espaço interno. Quem senta atrás tem muito espaço para as pernas e também ombros. O encosto traseiro pode ser inclinado em várias posições diferentes. Há, inclusive uma super deitada que é bem propícia para cochilos depois de vários quilômetros de estrada.
O porta-malas, com abertura elétrica, leva 520 litros. A vantagem é contar com bolsões laterais para organizar objetos, além de uma bandeja na parte inferior com nichos onde estão os itens de reparo, mas também com espaços extras para coisas molhadas.
Veredicto
De fato o BYD Song Pro é um excelente carro. Tem ótimo acabamento, é muito econômico, bom de andar, espaçoso e bonito. Mas a total e completa falta de sistemas de auxílio à condução, na faixa em que ele se encontra, é imperdoável. Nessa categoria, até as versões de entrada dos carros têm, no mínimo, uma frenagem autônoma de emergência.
O que pesa a favor do BYD Song Pro é o preço. Ele é bem barato para o que oferece, sendo que rivais a combustão pelo mesmo valor não chegam a ter metade da lista de itens de série que ele tem ou o mesmo nível de sofisticação. A solução, se não vier da BYD o equipando melhor, é apertar a parcela e partir para o Song Plus.
Você teria um BYD Song Pro? Conte nos comentários.