Todo carro da Volkswagen é conhecido por ser bem acertado dinamicamente e por seguir na linha do conservadorismo quanto ao visual. Vez ou outra eles ousam em alguns pontos, mas sempre jogam com segurança. E quando a Volkswagen encasqueta de entrar em uma categoria, não é para ser coadjuvante. Como é o caso do Taos.
Ele foi criado para ser a maior dor de cabeça que o Jeep Compass já teve em sua vida. Mirou nas virtudes do rival para compartilha-las, ao mesmo tempo que focou em atender a demandar que o Jeep não cumpre, e ainda trouxe o tempero Volkswagen. Mas como outros VW, o Taos não impressiona no primeiro contato, mas sim na convivência.
Golf feeling
Construído sobre a plataforma MQB, o Volkswagen Taos tem como seu principal destaque na categoria a dirigibilidade. Ele é um SUV gostoso de dirigir e que coloca isso como prioridade. A suspensão é firminha, típico comportamento da marca. Contudo, ela não bate seco nos buracos e em ruas de asfalto ruim. Além disso trabalha em silêncio e de forma neutra.
Combina com esse comportamento bom de tocada a direção elétrica com acerto preciso. Isso, claro, se você a deixar no modo Sport. A permite colocar a assistência da direção em modo normal e em sport. Na regulagem padrão, ela fica excessivamente leve e boba, especialmente na estrada e em velocidades mais altas.
Por sorte, o Taos Highline de R$ 182.385 conta com seletor de modo de condução que permite selecionar parâmetros individuais por escolha do motorista. Assim, não é necessário andar em modo sport de motor e de câmbio somente para ter o acerto correto da direção.
De fato, parece mais
A receita mecânica do Volkswagen Taos é a mesma de sempre: motor 1.4 TSI quatro cilindros turbo de 150 cv e 25,5 kgfm de torque. Ele é combinado a um câmbio automático de seis marchas. E por que a marca insiste nesse conjunto desde os tempos do Golf? Porque se encaixa perfeitamente em todos os seus carros. No Taos, ele brilha.
O motor tem respostas rápidas e parece disposto o tempo todo. O Taos anda solto e com disposição, acelerando sem vacilar e fazendo retomadas rápidas. Por conta da construção moderna, consegue retornar com números de consumo interessantes: em nossos testes com etanol, fez média de 9 km/l em circuito misto cidade e estrada.
Mas aí tem o câmbio. A transmissão automática de seis marchas parece não se entender muito bem com o motor. Em acelerações e retomadas a relação entre elas vai bem, as trocas são suaves e no tempo certo. Mas são mudanças sentidas, o que é interessante para sua proposta de condução mais instigante. Porém, o Taos tem mania de reduzir desnecessariamente de marcha na estrada ao invés de aproveitar o torque do motor turbo.
Constantemente ele baixa para quinta ou até quarta marcha sem a menor necessidade em velocidade de cruzeiro. Basta pisar mais um pouquinho no acelerador, em um ritmo que o torque do motor seria suficiente para manter a velocidade, que o SUV médio reduz e começa a gritaria (algo que penaliza o consumo também).
Ao vivo e a cores
Nas fotos o Volkswagen Taos pode até não parecer tão chamativo quanto de fato é. Mas ao vivo, a impressão muda. Ele é um SUV bonito, elegante, com algumas ousadias visuais e que parece maior do que a fita métrica registra (4,46 m de comprimento, 1,84 m de largura e 1,63 m de altura). A grade frontal iluminada é o maior destaque, pois traz frescor visual e também chama bastante atenção.
A traseira é um pouco sem sal, especialmente se comparada ao Nivus e ao T-Cross, que contam com uma barra preta conectando as duas metades. O Taos, nesse quesito, lembra uma versão mais barata do Tiguan, mas sem a mesma presença. Ao menos compensa ao abrir a tampa do porta-malas, com bem servidos 498 litros de capacidade.
Por dentro, é uma verdadeira mistura de sensações. O acabamento não é abaixo da média como Nivus e T-Cross, mas não tão esmerado quanto o Tiguan. O painel só tem uma faixa de suede que é levemente macia. Já nas portas, há uma faixa de couro macio, outra com suede e a parte superior com acabamento emborrachado.
Tudo é bem montado e bem encaixado, mas fica longe da qualidade do Jeep Compass. Até mesmo o visual é tão tipicamente Volkswagen, que beira o sem graça. Destacam-se as duas telas, da central multimídia e do painel de instrumentos digital, além das faixas de LED com cores configuráveis.
O painel de instrumentos é bem completo e personalizável, acompanhando o tom do LED escolhido para iluminar a cabine (inexplicavelmente menos no tom branco, onde o painel fica azul). Traz diversos recursos no computador de bordo, além de ser fácil de usar.
A central multimídia VW Play é uma das mais fáceis de usar no mercado. Tela tem ótima definição, é rápida e tem menus claros. Pena que só tenha Apple CarPlay sem fio, enquanto o Android Auto necessita de cabos. Além disso, durante nossos testes, travou diversas vezes (e isso já aconteceu com alguns outros Volkswagen com essa central).
Banho de tecnologia
O que mais chama atenção na versão Highline é a quantidade de itens de série. O Taos tem bancos dianteiros com aquecimento, sendo o do motorista com ajuste elétrico, chave presencial, ar-condicionado digital de duas zonas, faróis com acendimento automático e sensor de chuva.
Pela primeira vez em um VW produzido na América do Sul, o Taos traz faróis com tecnologia IQ.Light. Os LEDs adaptativos criam focos diferentes à frente a fim de não ofuscar outros motoristas. Além disso, tem ajuste dinâmico de altura e comprimento do facho. Iluminam excelentemente e produzem um belo efeito a noite.
Ele ainda tem piloto automático adaptativo com mais funções que o Nivus. Não tem assistente de permanência em faixa, mas é capaz de frear até a parada total e voltar a acelerar sozinho, bastando apertar um botão no volante. Pena que demore muito para voltar a acelerar sozinho, mesmo após o comando.
Parece que o Taos gosta de tirar um cochilo no sinal (o que acontece literalmente porque ele desliga o motor com o start-stop de funcionamento preciso e suave). Traz ainda alerta de tráfego cruzado, sensores de estacionamento por todos os lados e frenagem autônoma de emergência.
Veredicto
Lembra do caso do up! TSI? Todo mundo desdenhava do subcompacto por seu visual levemente sem graça e o tamanho diminuto. Mas bastava acelerar para ver o potencial que o pequenino tinha. Isso criou uma legião de fãs e admiradores e até ajudou a mudar o mercado.
O caso do Volkswagen Taos é exatamente o mesmo. Ele não vai ser o carro que vai chamar sua atenção na rua como faz o Toyota Corolla Cross. Ou impressionar pelo ótimo acabamento como o Jeep Compass. Mas ele entrega um conjunto muito bem equilibrado, atributos importantes no segmento de SUVs médios e uma dirigibilidade apurada.
Tem preço condizente com o que entrega na versão Highline e dentro da média de mercado. Pode não passar o Compass nas vendas, que ainda deve reinar nos próximos anos, mas vai roubar muitos clientes e ser a maior dor de cabeça que o Jeep já enfrentou na vida. Corolla Cross e ele terão uma briga quentíssima pelo segundo lugar, que apostamos que deve ficar com o Taos.
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