Ao olhar pelo retrovisor para a história da Fiat no Brasil, dois modelos se destacam muito: Uno e . A botinha ortopédica mudou o mercado e mostrou como um carro pequeno pode ser espaçoso e bom de dirigir. Já o Palio, acabou com o reinado do Gol e se tornou um dos carros mais queridos do país. E ao que tudo indica, o Pulse será o próximo a fazer sua marca.
Desde que o grupo FCA se formou, as revendas Fiat suplicam por um SUV. Mas a marca sempre achou melhor deixar isso para a Jeep com Renegade e Compass. Só que com a subida de preços dos SUVs compactos, ficou evidente que havia um como uma grande oportunidade para a Fiat. E aí que surgiu o Pulse.
Extensivamente baseado no Argo, ele pegou a fórmula da Honda com Fit e WR-V, mas a executou tão bem quanto a Volkswagen fez com Polo e Nivus. Fez mudanças de plataforma em relação ao hatch e mudou o máximo que poderia para não gastar demais. Parece um Argão? Até que sim, mas na hora de dirigir é evidentemente um carro totalmente diferente.
Impulso impetuoso
O grande destaque do Fiat Pulse está debaixo do capô nas versões Drive, Audace e na Impetus testada de R$ 123.490. Ele é o 1.0 três cilindros turbo mais potente do Brasil com 130 cv. Em torque, no entanto, empata nos 20,4 kgfm com o 1.0 TSI da Volkswagen usado em Polo, Virtus, Nivus, T-Cross e, futuramente, no Gol SUV.
A conversa entre o motor turbinado e o câmbio CVT é bem afiada – tanto quanto a elogiada combinação do Renault Captur. Uma boa transmissão CVT é aquela que não enche o saco, como a grande maioria faz. E no Pulse, a Fiat fez um acerto perfeito. O câmbio responde rápido às acelerações e ajuda o motor a sempre entregar a melhor performance.
Retomadas são ágeis, acelerações são vigorosas e, na estrada, a rotação baixa garante bom consumo. Durante nossos testes, o Pulse fez média de 9,5 km/l com etanol em trechos cidade e estrada. Segundo o INMETRO, ele faz 8,5 km/l na cidade e 10,2 km/l com o combustível derivado da cana.
Apesar de patinar um pouco nas saídas, o câmbio não cria o efeito enceradeira que muitos CVTs fazem. Onde o motor sobe de giro demais, fica gritando e o carro não anda. No Pulse, as acelerações são fortes e lineares, com a rotação subindo como em um câmbio automático tradicional. Isso é evidente com as trocas simuladas quando o pé fica fundo no acelerador.
Há pouca vibração vinda do motor 1.0 turbo, o que garante um rodar mais sofisticado e bem acertado ao Pulse. É nesse momento que começam algumas diferenças cruciais em relação ao Argo.
Não é um Argão
O que mais canso de ler nas redes sociais é que o Fiat Pulse é um Argo de salto. Sim, ele tem muitos elementos compartilhados como hatch compacto e de fato parece ser somente isso. Mas ao volante fica evidente como ele está um degrau a mais. O isolamento acústico melhor trabalhado começa a deixar claro.
Só que é a dinâmica de suspensão e chassi que se destacam. Mesmo tendo altura em relação ao solo mais elevada, ele é melhor de curva que o Argo. O Pulse foi bem acertado para uma condução mais esportiva, o que levanta um potencial gigante para a versão Abarth. Ele faz curvas como um bom hatch de pegada esportiva e nem lembra o comportamento de SUV.
Aponte para uma curva e ele vai agarrar no asfalto com ímpeto para deixar o Argo com inveja. Os pneus 205/50 R17 da versão Impetus também ajudam nessa tocada mais forte. Não chega no nível do elétrico 500, mas está um passo à frente do irmão hatch em termos de dinâmica. O que mostra o maior investimento no SUV compacto.
O lado utilitário vem na hora de passar em buracos. A suspensão trabalha bem isolada e sem barulhos evidentes. É um acerto bem próximo do Jeep Renegade em questão de parrudez. Já a direção é o típico Stellantis: extremamente leve nas manobras e com peso adequado em altas velocidades. Ela é rápida e bem acertada, apesar de um pouco morta às vezes.
Para não atolar em pequenas aventuras fora de estrada, o Fiat Pulse traz o sistema TC+. O controle de tração trabalha enviando o máximo de força para a roda dianteira que está tracionada, evitando que o lado que não tem aderência desperdice força. É um recurso verdadeiramente útil e que tira o Pulse de muita enrascada.
Sentidos aguçados
Mistura de sentimentos, a cabine do Fiat Pulse tem evoluções em relação ao Argo, mas algumas regressões. Começa pela falta de cuidado no alinhamento das peças: todo Pulse tem a tampa do porta-luvas desalinhada em relação ao painel. Isso sem contar os chicotes aparentes na dianteira e também no porta-malas.
A porta tem desenho elegante e bonito, mas qualidade aquém da apresentada no Argo e um pedaço mixuruca de tecido quando comparado ao irmão mais barato. Fora esses pontos mais táteis e um pouco visuais, o Fiat Pulse passa uma sensação boa na cabine. O couro usado no volante e nos bancos é de qualidade bem acima do padrão de marcas generalistas.
Horizontalizado, o painel tem como destaque a faixa cinza que é acompanhada por um friso cromado. Ela divide o painel em duas alturas e ajuda a elevar visualmente a cabine para dar a melhor ilusão de um SUV. Isso também fica evidente pela parte interna do capô que pode ser vista do banco do motorista.
Central multimídia grande tem tela de ótima definição, sistema operacional fácil de mexer e é veloz. Tem Android Auto e Apple CarPlay sem fio, Alexa integrada, além de diversos aplicativos que podem ser baixados. O painel é também digital com uma tela de boa definição e com personalização. Só poderia ser maior como nos modelos da Jeep e ter menos delay.
Os comandos físicos para o ar-condicionado e algumas funções do rádio ajudam muito no dia-a-dia e parecem feitos para modelos mais caros – no caso para a irmã Toro. Já o botão vermelho Sport no volante parece exagerado, mas é uma quebra do marasmo de cinza e preto da cabine que traz um charme a mais.
Como no Argo, o espaço interno é satisfatório e bom para o porte do carro. Destaque ainda para o porta-malas de 370 litros que foi ampliado em relação ao hatch graças ao alargamento das caixas de roda. Mas a mudanças no método de medição feito pela Fiat deu alguns litros extras de maneira não tão justa.
Composto de cima
Com tudo que tem direito, a versão Impetus traz uma boa lista de itens de série. Fica devendo piloto automático adaptativo que já está presente em outros modelos da Stellantis, mas é presente frenagem autônoma de emergência e sistema de manutenção em faixa (que é mais tolerante e menos chato que o presente no Jeep Commander).
Há ainda itens como ar-condicionado digital de apenas uma zona, bancos revestidos em couro, faróis de LED com luz diurna e assistente de luz alta, câmera de ré, faróis de neblina, volante com regulagem de altura e profundidade (esse só presente no Impetus inexplicavelmente), chave presencial com partida remota e bancos revestidos em couro.
O SUV compacto da Fiat ainda é equipado com assistente de partida em rampa, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, faróis de neblina, banco com regulagem de altura (que sempre fica alto demais), central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, carregador por indução e retrovisores elétricos com rebatimento elétrico.
Veredicto
Na história da Fiat, o Uno foi responsável por revolucionar o segmento de hatches compactos. Já o Palio, mostrou que uma família completa de modelos faz peso no mercado e evoluiu o formato do Uno. Como a moda agora são os SUVs, o Pulse pode ser visto como o passo seguinte do que consagrou Uno e Palio.
Com bom preço inicial (abaixo de R$ 100 mil), bom nível de equipamentos, visual atrativo, acabamento coerente e uma condução surpreendentemente divertida, ele tem potencial para ser um dos carros mais vendidos do Brasil, se não o mais vendido.
E o mais legal: seu maior trunfo, o motor turbo e o câmbio CVT, vão ser usados também por Argo, Cronos, Citroën C3 e Peugoet 208 muito em breve.
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