Oferecer carros mais completos que a concorrência era o mote da quando chegou no Brasil com o J3. Porém, desde que o Inovar Auto entrou e derrubou as vendas da marca por aqui, o foco se voltou para os SUVs e carros elétricos. O alívio é saber que a antiga estratégia ainda continua no JAC T40.
Reestilizado e com sobrenome Plus, o JAC T40 é vendido em três versões. A variante de entrada parte de R$ 86.990 e conta com câmbio manual. Já com transmissão CVT, ele é oferecido nas variantes Pack 2 de R$ 94.490 e Pack 3 de R$ 97.490. Avaliamos a versão mais completa para descobrir se vale à pena ou não.
Antes dos cinco dígitos
Entre os SUVs compactos no Brasil, hoje somente o JAC T40 e o CAOA Chery Tiggo 2 têm versão topo de linha custando menos de R$ 100 mil. Contudo, enquanto o modelo da Chery ainda deve em equipamentos nessa faixa de preço, o T40 surpreende com itens presentes nos rivais mais caros.
Ele traz de série sistema de câmeras 360°, que está presente somente no Nissan Kicks Advance de R$ 108.390 e no Renault Duster Iconic de R$ 102.890. A lista de itens de série traz ar-condicionado digital de uma zona, bancos revestidos em couro, teto solar, faróis com acendimento automático e sensores de estacionamento dianteiro e traseiro.
O pacote ainda incorpora luzes diurnas de LED, retrovisores elétricos, direção elétrica, vidros elétricos nas quatro portas, controle de tração e estabilidade e rodas de liga-leve de 16 polegadas. Faz falta somente mais airbags. O T40 traz somente os duplos obrigatórios. Além disso, poderia ter chave presencial, algo que rivais e a versão elétrica iEV40, oferecem.
Mudanças discretas
Junto ao sobrenome Plus, o JAC T40 recebeu mudanças visuais. Apesar de discreta, a reestilização deixou o desenho do SUV compacto mais maduro – isso porque ele já era um carro bonito. O para-choque dianteiro mudou totalmente, alterando também a grade frontal e os faróis, que ficaram mais afilados.
Rodas novas são acompanhadas de teto com pintura contrastante e rack modificado. Na traseira, novas lanternas com luzes de posição de LED e para-choque com menos cromado e área preta, deixaram o modelo com cara de hatch. O conjunto continua a agradar e chamar atenção na rua.
Já a cabine só teve uma (e importante) mudança: a central multimídia. Com tela de 10 polegadas, ela tem boa definição, é rápida de usar e conta com Android Auto e Apple CarPlay. Os menus tem visual datado e bagunçado, mas há conexão Wi-Fi e, surpreendentemente, Spotify nativo.
Permanente constância
De resto, a cabine do JAC T40 permanece a mesma de antes e isso é um elogio. O modelo tem bom acabamento, com plásticos bem montados e de aspecto robusto. A faixa em couro com costuras vermelhas no centro do painel ajuda a dar certa sofisticação ao conjunto.
O couro que reveste bancos, volante e manopla de câmbio é bom, assim como a montagem das peças plásticas. Mas há alguns vacilos incompreensíveis. O volante tem ajuste apenas em altura, não em profundidade, além de qualidade aquém do restante da cabine.
Já o painel de instrumentos analógico possui mostradores muito pequenos. Os números próximos tornam a leitura difícil. Já o computador de bordo tem tela de qualidade ruim e poucas funções, além de ser comandado por botões escondidos pelo volante no lado esquerdo.
Outro problema de ergonomia está no encosto de braço do banco do motorista. É curto demais para acomodar bem em viagens longas e atrapalha na operação das marchas. Ao menos o banco tem uma boa quantidade de ajustes, mas bem que poderia descer mais alguns centímetros para encontrar a posição ideal.
Atrás o destaque é para o farto espaço. Mesmo com motorista alto, os passageiros encontram área suficiente para as pernas. Como o teto é alto e arejado: dificilmente alguém vai raspar a cabeça no forro. Vale também destacar o porta-malas de 450 litros que está no nível de SUVs médios.
Expectativa e realidade
Ao volante é que o JAC T40 mostra alguns de seus pontos fortes e fracos na mesma proporção. Debaixo do capô reside um 1.6 quatro cilindros aspirado de 138 cv e 17,2 kgfm de torque. São números melhores que rivais como Nissan Kicks e Renault Duster. Mas na prática, a entrega não é a mesma.
O T40 é equipado com transmissão automática do tipo CVT que simula marchas somente quando colocada no modo manual. Com isso, ele parece se arrastar nos primeiros metros. O câmbio patina e o JAC precisa de mais pressão no acelerador para começar a se movimentar. Em subidas isso é ainda mais grave e ele arranca pior que um hatch 1.0 carregado.
A letargia na transmissão faz com que os 11,1 segundos de 0 a 100 km/h divulgados pela JAC pareçam uma eternidade. Na estrada, outro vacilo. Enquanto o T60 (e a maioria dos outros carros com câmbio CVT) derruba a rotação para economizar combustível, o T40 mantém o giro alto para ter força.
A 120 km/h o ponteiro crava nos 3 mil giros enquanto o motor grita. Isso faz com que o consumo seja apenas ok. Abastecido somente com gasolina, o T40 registrou 13 km/l durante nossos testes. Já na cidade, ele fica na faixa dos 11 km/l. O problema está na autonomia reduzida por conta do tanque pequeno de 42 litros.
Ainda sobre o motor, há de destacar o funcionamento do sistema start-stop. Ele liga o carro com brutalidade e funciona raramente. Quando entra em operação, faz com que todas as luzes do carro se apaguem e liguem novamente um segundo depois. Falta suavidade.
Longe do padrão
Comumente os carros chineses têm suspensão voltada para o conforto e abdicam de uma certa esportividade ao dirigir. Como o JAC T40 passou por calibração especifica para o Brasil, ele não repete esse mote. É um carro nitidamente voltado para o conforto, mas não tem suspensão molenga ou chacoalhante.
Se mantém firme na estrada e não é tão suscetível a ventos laterais, mesmo sendo altinho. Enquanto na cidade, as imperfeições leves do solo são bem absorvidas. Só não pense que ele encara bem os buracos ou até lombadas mais altas, situações onde a suspensão sempre produz barulho de fim de curso e bate seco.
Já a direção com assistência elétrica é leve em todas as situações. Na hora de fazer uma manobra ou andar na cidade, a leveza extra é bem-vinda. Contudo, na estrada, bem que poderia ficar mais firme para manter o T40 de maneira mais segura no trajeto.
Por falar em estrada, é nessa situação que o isolamento acústico do JÁC T40 se mostra ineficiente. O teto solar não é bem vedado e é uma constante fonte de barulho de vento. Além disso, os ruídos externos invadem a cabine sem dó fazendo parecer que algum vidro está aberto. Ironicamente, o motor é bem isolado e pouco se ouve de seu trabalho mesmo em rotação alta.
Veredicto
O JAC T40 é, sem dúvida, uma grande aposta no custo-benefício. Apresenta equipamentos de carros cerca de R$ 20 mil mais caros que ele. Além disso, tem interior espaçoso, porta-malas grande e acabamento de qualidade.
A experiência de dirigir não é das mais memoráveis. Culpa do câmbio CVT que nitidamente não sabe conversar direito com o motor 1.6, capando boa parte de sua performance. Suspensão barulhenta, tanque pequeno e falta de isolamento acústico seriam problemas facilmente resolvíveis.
Em suma, o JAC T40 é a compra certa para quem exige o máximo de equipamentos quanto possível e não quer gastar mais de R$ 100 mil em um SUV compacto. Mas os pequenos vacilos atrapalham o conjunto da obra, fazendo com que rivais como Volkswagen Nivus, Renault Duster e Nissan Kicks sejam mais interessantes, mesmo menos equipados.
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