Poucos carros são unanimidade no Brasil. Todo mundo ama o VW Fusca, enquanto entre as picapes pequenas a Fiat Strada é referência. Só que no segmento de hatches compactos é tanto concorrente, que cada um tem seu preferido. Mas o brasileiro sempre gostou do Hyundai HB20, por isso todos se enfureceram quando ele ficou parecido com um bagre.
Sempre foi o queridinho do segmento por ter um visual chamativo e parecer mais caro do que de fato é – sem contar o acabamento acima da média. Mas quando a segunda geração estreou em 2019 a Hyundai tentou misturar a identidade visual vigente com o estilo típico do HB20, resultando em um carro feio. E tudo isso foi corrigido na reestilização.
Basicamente o grande defeito que o HB20 tinha até então era o design e algumas pequenas coisas irritantes. Só que agora o modelo se recheou de tecnologia, teve seus defeitos corrigidos e é um dos hatches mais bonitos à venda no Brasil – ouso dizer que só não mais bonito que o Peugeot 208. Então ele agora imbatível?
Elefante na sala
Talvez só um elemento não o torne a escolha definitiva para todos os compradores de hatches compactos: o espaço interno. Defeito compartilhado com o Peugeot 208, o Hyundai HB20 é um carro de dimensões bem compactas na cabine. Quem senta atrás sofre com a falta de área para as pernas e três passageiros ali beira o impossível.
Como um hatch compacto precisa, muitas vezes, ser o único carro da família, esse pecado que sofre o HB20 pode ser derradeiro para muita gente deixa-lo de lado. O porta-malas de 300 litros é bom, mas nada extraordinário. Enquanto o espaço para quem senta na frente é bom, sendo o motorista agraciado por diversos tipos de regulagem para banco e volante.
Como a segunda geração usa a mesma plataforma do Hyundai HB20 original, ele não pode crescer a níveis de Chevrolet Onix e Renault Sandero. São 4,01 m de comprimento, 1,72 m de largura e 1,40 m de altura. O coreano é menor que seus rivais de maneira bem nítida quando o vê na rua.
i20 a brasileira
Nas ruas, aliás, o Hyundai HB20 chama bastante atenção. As pessoas reconhecem imediatamente que é um HB20, mas não esperavam tamanha mudança visual. A dianteira é quase igual à do i20 europeu, com faróis finos e grade frontal levemente exagerada. A seta agora fica no para-choque e os faróis só tem LED diurno nas versões Platinum e Platinum Plus.
Na traseira, as lanternas conectadas são o grande charme do carro e divisor de opiniões (eu gosto bastante). O HB20 começou com a moda das lanternas invadindo a tampa do porta-malas e agora pode fazer com que seus concorrentes queiram as conectar como ele. Pena que a Hyundai teve a péssima ideia de deixar a seta no para-choque.
Um ponto positivo é que o HB20 finalmente ganhou rodas maiores: os modelos de 16 polegadas da versão topo de linha Platinum Plus parecem preencher perfeitamente o espaço destinado a elas. Ele não aparenta mais ter rodas menores do que deveria, como antes. Se fosse uma polegada maior, talvez pareceria exagerado.
Por dentro, a cafona combinação de marrom com azul foi trocada por preto com cinza, deixando o ambiente bem mais agradável. Os bancos contam com revestimento que mistura laterais em couro com meio em tecido – o que ajuda no conforto térmico. Mas a grande mudança veio no ar-condicionado, que agora é digital de verdade. A qualidade dos plásticos continua acima da média da categoria, mas um pouco abaixo do Peugeot 208.
Por falar em digital, o painel de instrumentos que agora tenta ser algo que não é. A tela central é cheia de função e tem ótima definição, mas é só um computador de bordo inserido em uma placa com funções digitais tão modernas quanto o painel digital de um Chevrolet Kadett GSi. Uma tela de verdade seria bem melhor, Hyundai.
Destaque para a central multimídia que agora conta com mais brilho do que antes e pode ser enxergada no sol. Ela tem conexão com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, sendo acompanhada agora por carregador de celular por indução inteligentemente escondido em um nicho no painel que impede o celular de sair voando em curvas.
Pimentinha
O que não mudou no Hyundai HB20 (e ainda bem) foi seu conjunto mecânico. O motor 1.0 T-GDi três cilindros turbo de 120 cv e 17,5 kgfm de torque é um dos melhores do segmento. É bastante esperto, tem um ronquinho instigante e garante excelente performance ao HB20. Ele não nega fogo e acelera com vontade.
Consumo fica dentro da média, mas confesso que esperava mais. Durante nossos testes, o pequeno Hyundai marcou 8,3 km/l de média com etanol, melhorando na gasolina, onde atingiu média de 11,7 km/l. Oficialmente a marca declara média de 9 km/l na cidade com etanol e 10 km/l na estrada. Já com gasolina são 12,7 km/l e 14 km/l.
O que há de novidade para a linha 2023 é o sistema start-stop, mas que inexplicavelmente a Hyundai deixou restrito somente à versão topo de linha. Os outros HB20 turbo não tem esses sistema – vai entender. Ele não é muito sutil na hora de ligar e desligar o motor, gerando bastante vibração dentro da cabine e só desativando o motor com o carro totalmente parado.
Isso combina com a boa aptidão para o HB20 em curvas. Ainda que a traseira tenda a dar uma leve sambada em altas velocidades, ele anda em estradas sinuosas muito bem e mostra potencial para uma versão N esportiva de verdade. A absorção de impactos melhorou, sem batidas secas na traseira ou sem o carro arriar quando tem passageiros na segunda fileira.
Lado suave
Em contraste a isso temos a direção e a transmissão. O câmbio automático de seis marchas é absolutamente desesperado. Como uma criança que termina a lição de casa rápido para poder ir ao parquinho, o Hyundai HB20 troca de marcha e tenta jogar a mais alta possível. É uma tentativa de salvar o consumo, mas isso deixa o carro sem fôlego em alguns momentos.
Aí é preciso apertar mais o acelerador, o câmbio reduzir a marcha e ai voltar ao ritmo desejado. A vantagem é que esse desespero em chegar à sexta faz com que as trocas sejam rápidas e as reduções também. É uma transmissão esperta, que entende rapidamente as pisadas mais fortes no acelerador e a hora de segurar marcha em uma decida.
O volante vai par o lado do conforto, sendo bem leve e exigindo pouquíssimo esforço do motorista. Ele tem peso bem calibrado, tendendo para o lado mais leve do segmento junto do Fiat Argo do que para o setor mais firminho onde estão Peugeot 208 e VW Polo. Ele só é mais anestesiado do que deveria, não passando nada do que ocorre no asfalto.
Gente grande
Se o Hyundai HB20 não tem o mesmo porte de seus rivais, a versão topo de linha Platinum Plus de R$ 114.390 trouxe itens de série que são inéditos na categoria – aliás, itens que só víamos em modelos premium. Entre eles está o alerta de tráfego cruzado que freia o hatch sozinho em manobras de ré caso um carro passe por sua traseira.
Outro item interessante é o alerta de saída segura, em que ele avisa com som se um carro está passando pela sua lateral ao abrir a porta. A linha 2023 trouxe ampliação do sistema de manutenção em faixa, em que agora corrige o volante e também consegue fazer curvas sozinho em alta velocidade. Mas não há piloto automático adaptativo.
O Platinum Plus ainda traz de série ar-condicionado digital, alerta de ponto cego, faróis com acendimento automático, luz diurna de LED, sensor de ré, câmera de ré, indicador de fadiga, monitoramento de pressão dos pneus, vidros elétricos nas quatro porta com função um toque, chave presencial, volante revestido em couro com ajuste de altura e profundidade.
Há ainda central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay, carregador de celular por indução, controle de tração e estabilidade, faróis de neblina, assistente de partida em rampa, frenagem autônoma de emergência, retrovisores elétricos com rebatimento automático, partida remota e trocas de marcha atrás do volante.
Veredicto
O Hyundai HB20 2023 conseguiu corrigir todos os defeitos do modelo antigo e ainda completar o pacote com um belo visual. A lista de itens de série da versão Platinum Plus por R$ 114.390 é bem recheada (ainda que o piloto automático adaptativo e sensor de chuva façam falta), surpreendendo para uma categoria que só agora têm recebido itens de tecnologia de verdade.
Tudo isso com o bônus de ter um carro verdadeiramente gostoso de dirigir e com consumo que não te fará sorrir o dia todo, mas não o tornará amigo do frentista, pelo menos. Falta espaço interno para dizer que esse é o hatch definitivo a se comprar. Mas se você não andará sempre abarrotado de gente dentro do carro, pode ir no Hyundai HB20 sem medo de ser feliz.
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