Todo bom fã de carro adora um sedã médio e tem no Honda Civic a grande referência em dirigibilidade na categoria. Mas o mercado brasileiro está pouco se lixando para isso, sinceramente. Metade dos que compram um sedã médio nem pensam em outra coisa além do Toyota Corolla, enquanto a outra parcela quer um SUV. E é aí que o Honda City entra.
O brasileiro médio, que representa o maior volume da compra dos carros hoje, não liga para dirigibilidade apurada, posição de dirigir baixa e o status de um sedã médio que o Civic tinha. Ele quer conforto, muita bugiganga tecnológica e um visual que pareça que ele pagou mais do que de fato tirou da carteira.
Para esse público, o Honda City é sim um ótimo substituto para o Civic. Especialmente porque custa menos e entrega mais itens de série. Para nós que gostamos de dirigir por horas a fio e colocamos o prazer ao volante como prioridade número um, aí já não. Para esse público, ele é um ótimo City. Mas não um Civic.
Patamar de cima
Tirado o elefante da sala, é preciso entender onde o Honda City agora se posiciona. Segue um sedã compacto e só não é o mais caro da categoria por R$ 123.100 porque existe o Volkswagen Virtus GTS. Mas ele é o único do segmento sem nenhuma versão abaixo dos seis dígitos. A vantagem, frente ao Civic, é vir bem mais equipado e custando menos.
Tudo que o Civic Touring tinha de legal, o City Touring tem. Exceto vetorização de torque, teto solar, banco elétrico para o motorista, freio de estacionamento elétrico, carregador de celular por indução, sensor de chuva e ar-condicionado digital de duas zonas.
Ambos são equipados (ou eram no caso do Civic) com faróis full-LED, seis airbags, controle de tração e estabilidade, chave presencial com partida remota, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, câmera de ré, retrovisores eletrocrômicos, central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay.
A mais, o City traz sistemas de condução semiautônoma nunca presentes no Civic brasileiro tais como piloto automático adaptativo, sistema de manutenção em faixa, alerta de colisão frontal com detecção de pedestres, frenagem autônoma de emergência, assistente de farol alto. Só ele tem Android Auto e Apple CarPlay sem fio, vale destacar.
Influências do Accord
Mais equipado, o novo Honda City também ficou mais sofisticado. Ainda está muito longe do acabamento esmerado do Civic, que tinha diversas partes macias ao torque. As únicas partes macias do painel do sedã compacto são as revestidas em couro bege nas portas e painel. Está dentro da média para a categoria de compactos, sem nenhum ponto de grande destaque.
Os encaixes são bem feitos e os materiais usados tem qualidade ok – menos o couro do volante que é áspero e de qualidade bem aquém do esperado. Mas, como todo Honda, ele tem ergonomia excelente. O banco tem boa quantidade de ajustes, volante idem.
Botões são próximos de onde o motorista precisa e os comandos físicos do ar-condicionado vindos do Accord melhoraram muito a usabilidade frente ao sistema anterior em que uma placa de acrílico sensível ao toque era usada. Do sedã grande da Honda também veio o painel de instrumentos parcialmente digital com ótima legibilidade e funções vastar.
Pena que a central multimídia não acompanhou essa evolução. Tem Android Auto e Apple CarPlay sem fio, além de uma tela com bom tamanho. Mas a definição não é lá essas coisas e a interface da Honda parece de um tablet de 2006. Além disso, ela apresenta lentidão em algumas situações específicas.
No quesito espaço, o City continua referência, em especial na traseira. Por não ter teto com queda suave como o Civic e uma aura de minivan causada pelo parentesco com o Fit, ele tem teto alto e trata bem que se senta lá atrás. Porta-malas carrega 519 litros (dois a mais que o Civic), mas tem revestimento simples até demais.
Suficiente é suficiente?
A antiga geração do Honda City era conhecida por ser bastante econômica, mas não tão prazerosa ao volante. Em especial porque o motor 1.5 aspirado era apenas suficiente para ele e o câmbio CVT não conversava bem com o propulsor. A Honda fez mudanças para melhorar esses pontos e que mostraram resultados nítidos.
O 1.5 de 126 cv e 15,8 kgfm de torque tem potência na mesma média dos rivais 1.0 três cilindros turbo. Contudo, o torque fica abaixo. Como o City é leve, 1.170 kg na versão Touring, o motor da conta do recado, mas apenas suficientemente. Ele não inspira acelerações fortes e é mais voltado a uma condução pacata. Carregado, sofre um pouco com o peso extra.
A conversa com o câmbio CVT, no entanto, melhorou mas sem chegar a um consenso. O câmbio sabe os momentos de elevar a rotação e não faz o motor gritar sem necessidade enquanto não ganha velocidade. As respostas ficaram mais rápidas e a simulação de marchas em regimes mais fortes, mas ainda assim ele insiste em alguns momentos no efeito enceradeira.
Contudo, o câmbio ainda não é tão bem acertado quanto o CVT usado no Fiat Pulse ou no Renault Captur, especialmente porque o câmbio patina bastante nas saídas de sinal. Talvez com o tão desejado futuro motor 1.0 três cilindros turbo, o Honda City atinja seu ponto ideal. Em consumo, a Honda promete 9,2 km/l na cidade com etanol e 10,5 km/l na estrada com o mesmo combustível. Em nossos testes, marcou média de 9,7 km/l com trechos de cidade e estrada.
Toque Honda
Apesar de não ser tão prazeroso ao volante quanto o Civic, o novo Honda City não deixa de lado esse tão importante ponto. A Honda sabe que quem compra um carro da marca quer ao menos se divertir mais do que quem se senta no banco do passageiro. Por isso, deu ao sedã compacto uma direção bem direta e com peso ideal: nem molenga e boba, nem pesada.
É a medida ideal de força para balizas bem feitas sem esforço e para uma condução mais voraz sem grande medo. Contudo, a suspensão é mais macia e voltada para o conforto. Isso fez com que o City ficasse muito suscetível a ventos laterais. A estabilidade da carroceria em curvas é dentro do esperado para um carro sem vocação esportiva.
Aliás, o lado confortável do City é o que mais chama atenção. Ele é feito para rodar em silêncio e por vários quilômetros sem cansar. Trata bem seus ocupantes com bancos confortáveis e suspensão que absorve bem os impactos e imperfeições do solo lunar brasileiro. Já o fato de ter freio traseiro a tambor é uma desvantagem frente a rivais como o VW Virtus.
Veredicto
Se você busca um substituto para o Honda Civic no novo City, melhor olhar em outro lugar. A diferença entre os modelos é tamanha que o novato não consegue substituir seu antecessor. Agora, se você era um pretendente do Corolla e busca sedãs mais confortáveis, sem pagar tanto, talvez o City consiga conquistar seu coração.
Ele é bem recheado e completo, tem acabamento dentro do esperado e bom espaço interno. De fato, custa mais do que deveria e um motor turbo faz falta por aqui. Porém, ele pode entregar a experiência que o cliente de um sedã médio que não tem foco no prazer ao dirigir como CAOA Chery Arrizo 6 e Toyota Corolla. Isso com a vantagem de preço menor, mas com a penalidade de um acabamento inferior e menos status.
Em suma: o melhor City de todos os tempos, mas não é um substituto para o Civic. Mas uma alternativa para quem sonha com o Corolla e não tem dinheiro para isso.
>>Toyota sobe preços do Yaris 2023 e o aproxima do Honda City em preço
>>Pré-venda: Honda City Hatchback é o hatch compacto mais caro do Brasil
>>Honda confirma novo HR-V 2023 e Civic importado para o 2º semestre