Todas as vezes que uma marca lança um SUV no Brasil, a caixa de comentários dos sites e vira um muro das lamentações para os que odeiam esse tipo de carroceria. Dizem não aguentar mais e afirmam que tudo virou SUV hoje em dia. Mas o brasileiro deseja por SUVs e compra cada vez mais modelos da categoria, como prova o Fiat Fastback.

Mal foi lançado no mercado e em um mês já é um dos SUVs mais vendidos do Brasil. Cada mês que passa, o top 10 de carros mais comercializados do país tem pelo menos três SUVs – chegamos a ter metade do ranking composto por esses modelos. Por isso fica claro que o Fastback está aqui para atender às aspirações do brasileiro e da Fiat.

Calma que eu explico. Há anos a Fiat tenta emplacar modelos mais caros do que os que pertencem à categoria de Uno, Palio e Argo. Ela sempre fracassou com modelos médios e de maior valor até a chegada da Toro. Ela foi a primeira a quebrar essa barreira. Com o Pulse, a Fiat atingiu um novo patamar, mas o que ela sempre quis é o mercado do Fastback.

Já em relação ao brasileiro, o povo por aqui ama comprar carros que parecem mais caros do que de fato são. Parecer mais rico para o vizinho é o sonho de 9 a cada 10 tupiniquins. Além disso, é um mercado que deseja avidamente por SUVs e está de olho nos SUVs cupê desde que essa categoria virou moda entre os modelos premium e agora desce para os generalistas.

X6 da Fiat

Prova de tudo isso que citei anteriormente é a constante comparação do Fiat Fastback com o BMW X6. Eles não são tão idênticos quanto comentaristas da internet dizem. Ambos são SUVs cupês e as coincidências param por aí. Seria como dizer que todo modelo com caçamba parece a Toyota Hilux. Mas é a questão da imagem que o modelo italiano passa.

A versão topo de linha Limited Edition Powered by Abarth tem um nome mais longo que seu preço: R$ 154.990. Considerando a percepção das pessoas nas ruas e nos comentários, ele passa a sensação de ser um carro bem mais caro do que é. De fato, ele entrega isso quando olhado pelo lado de fora.

O Fastback tem visual imponente o qual víamos somente em cifras de preço bem mais altas. A traseira com queda suave, lanternas afiladas e conjunto de luzes todo de LED faz com que o modelo ganhe status. Mas a traseira parece ter sido desenhada para um carro de proporções da Toro, não para um Pulse cupê.

Com isso, ele ficou desproporcional. Em alguns ângulos, é belíssimo, em outros, esquisito. Especialmente porque a traseira é longa demais, deixa muita lata exposta e cria a sensação que as rodas de 18 polegadas ficaram minúsculas para ele. E são rodas de 18 polegadas! Uma traseira com balanço menor seria suficiente para harmonizar o design.

A frente é igual à do Pulse, salvo alguns detalhes. O para-choque vem do esportivo Pulse Abarth e os faróis contam com iluminação full-LED (no irmão menos não há seta de LED). Na versão Limited Edition Powered by Abarth, ele traz teto e retrovisores em preto, além de detalhes em cromo escurecido e em preto brilhante que ajudam a dar destaque ao carro.

Compulse

A cabine traz elementos de Pulse com Compass. A cabine é 99% Pulse, ou seja, mesmo painel, mesmas portas e visual geral. Contudo, o console central é diferente e bastante parecido com o do Jeep. É alto, com acabamento preto brilhante e com muito espaço para cacarecos e até para uma garrafa abaixo do porta-copos removível.

Algumas soluções interessantes foram adotadas como freio de estacionamento eletrônico e uma saída de ar dedicada ao carregador de celular por indução, evitando que seu smartphone superaqueça durante a carga sem fio. Junto a isso, temos couro de qualidade superior no volante e nos bancos, que parecem, de fato, de um carro acima do Pulse.

Contudo, enquanto o acabamento é destaque no modelo menor, aqui ele fica só dentro da média. Considerando a faixa de preço do Fastback, ele tem que concorrer com modelos como Jeep Renegade e CAOA Chery Tiggo 5X, os quais não economizam em superfícies macias ao toque – algo que o Fiat não tem.

Tudo é de plástico duro, até a porta – exceto na região de apoio do cotovelo. A faixa em cor contrastante do painel tem aspecto frágil e, tal qual todo Pulse, o porta-luvas vem sempre desalinhado. Ainda assim, é um acabamento que deixa Chevrolet Tracker, Renault Captur e Volkswagen T-Cross passando vergonha.

Há de pontuar ainda a excelente central multimídia. Tela de boa definição, tamanho adequado (apesar do excesso de bordas) e funcionamento intuitivo. Tem Android Auto e Apple CarPlay sem fio. Junto a ela, o painel de instrumentos totalmente digital da Fiat também merece destaque por ser fácil de usar e completo em informações.

Alma de Cronos

Diferentemente do Pulse que te força a sentar muito alto na hora de dirigir, o Fastback é mais comedido. Ainda é um carro alto, com painel pensado para ser alto e dar a sensação de SUV, mas o banco desce mais. Na traseira, o espaço é prejudicado pelo teto arqueado e pelos bancos mais inclinados.

Da família Argo, que compreende também o Cronos e os SUVs Fastback e Pulse, o sedã é o mais espaçoso. O SUV cupê não recebe bem na traseira. Já o porta-malas carrega 516 litros – a Stellantis divulga 600 litros, mas na medição diferente que magicamente dá espaço extra ao carro.

O espaço é ocupado por partes estruturais que não deixam o piso totalmente plano. Há de pontuar ainda um degrau entre o banco traseiro e uma coluna central antes de chegar ao piso do porta-malas – mostrando compartilhamentos com o Cronos. Contudo, a tampa que esconde as cargas tem funcionamento genial e ótimo acabamento.

Powered by Abarth

Parte de seu gigantesco nome se dá por conta do motor 1.3 quatro cilindros turbo flex de 185 cv e 27,5 kgfm de torque. É o mesmo coração de todas as versões do Jeep Renegade e das variantes flex de Fiat Toro, Jeep Compass e Commander. É também aquele que esta no esportivo Pulse Abarth.

Só que no Fastback a pegada é diferente. Ele casou bem com o motor, entregando performance a contento por conta da leveza maior do que os modelos com base Small Wide. É rápido, esperto e já se provou em modelos maiores, chegando aos 100 km/h em 8,1 segundos. O consumo que acaba prejudicado – não é beberrão, mas não tão econômico quanto poderia.

Durante nossos testes ao longo de exatos 900 km, o Fastback secou dois tanques. O primeiro, com etanol, durou 447 km, enquanto com gasolina pediu arrego aos 453 km. Isso revelou médias de consumo muito próximas: na gasolina chegou a marcar na estrada 15 km/l na melhor situação, mas ficava constantemente a 12,5 km/l. Já com etanol, a média ficou em 10,3 km/l na estrada e 8,7 km/l na cidade.

O veneno do escorpião também picou a direção e a suspensão do Fastback. Diferentemente da maioria dos Fiat, especialmente do Pulse, ele é um carro mais durinho. A direção é bem mais pesada que a média dos modelos da marca, que geralmente tendem a ser uma manteiga de tão leves na hora das manobras.

Isso tornou o SUV cupê mais dinâmico e ativo nas curvas, além de mais divertido. Só que a unidade testada apresentou um problema na caixa de direção. Ao final da semana de testes, o sistema apresentou folga, fazendo com que, em linha reta, o volante ficasse torto para a esquerda. Contudo, ao fazer curvas para a direita, ele voltava ao lugar.

Havia nitidamente um ponto de folga em curvas mais fortes, em que o volante girava em uma zona morta. Se não fosse por esse problema em específico, teria sido um dos melhores acertos de direção que a Fiat já fez nos últimos tempos. Já a suspensão merece muitos elogios. É bem acertada, robusta e feita para o Brasil.

O Fastback não reclama de encarar estradas de terra ou buraqueira. Ao mesmo tempo encara curvas como um hatch. A altura elevada do solo não atrapalha o modelo em contornar estradas sinuosas, com a vantagem de cantar pouco pneu. Tem modelo metido a esportivo que não anda tão bem quanto ele.

Tempra, Marea e Linea nunca sonharam em ter

Considerando a faixa de preço do Fiat Fastback, ele está bem equipado. Traz modernidades como frenagem autônoma de emergência, assistente de manutenção em faixa (irritantemente mais intrusivo do que deveria), monitoramento de pressão dos pneus, ar-condicionado digital de uma zona, chave presencial, vetorização de torque e controle de tração e estabilidade.

O SUV cupê ainda é equipado com sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, câmera de ré, faróis com acendimento automático e assistente de luz alta, partida remota, luz de neblina, freio de estacionamento eletrônico, retrovisores elétricos e start-stop (que desliga o motor antes da parada total, mas que resulta em uma irritante e brusca frenagem).

Fica devendo só airbags de cortina, já que só tem os frontais obrigatórios e os laterais. Além disso, um teto solar seria mais do que bem-vindo nessa categoria.

Veredicto

Com o Fiat Fastback, a Stellantis finalmente conseguirá colocar a marca italiana em uma faixa de preço a qual ela tentou muitas vezes e fracassou. Ela tentou com hatches e sedãs médios, mas nunca conseguiu fazer com que o público não a visse como marca de carros populares. A Toro já foi um passo nessa direção certa, mas uma picape não é para todos.

Junte isso ao fato de que ele entrega uma carroceria cupê para agradar ao brasileiro que ama SUVs e deseja por esses modelos a todo momento e entenderá onde a Fiat vai chegar com ele. O Fastback parece ser algo mais do que ele é e tem preço convidativo, junto a uma lista de itens de série condizente com a categoria.

Falta espaço interno, algo que o porta-malas tenta compensar, assim como o acabamento não é referência nessa categoria. Junto a isso, temos o motor que anda bem, mas gasta um pouco mais do que deveria. É um carro de contrastes nítidos, mas em que o conjunto final da obra agrada e mostra potencial para ser um dos SUVs mais vendidos do país. É questão de tempo.

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