Estar sozinho em um segmento tem vantagens e desvantagens. Sem rivais, a marca pode cobrar o que quiser do modelo e deixar de oferecer alguns itens. Afinal, não há contraponto ou concorrência. Contudo, se um modelo reina sozinho no segmento, quer dizer que a demanda pela categoria é preenchida por ele. E é nessa dicotomia que vive a Chevrolet Spin.
Carro de sete lugares mais barato do Brasil, ela não é somente a única minivan produzida no nosso país, mas a ultima representante dessa categoria engolida pelos SUVs. Rainha das famílias, queridinha dos taxistas e Chevrolet de passeio mais antigo à venda hoje: será que a Spin ainda tem o charme? Avaliamos a versão Activ 7 de R$ 111.890 para descobrir.
Ditado popular
Sabe aquela famosa frase: coração de mãe sempre cabe mais um? Dizem que o coração das tias também se faz caber mais gente, mas não tanto quanto o de uma mãe. E é assim com a Chevrolet Spin. Sim, ela leva sete pessoas, mas é preciso fazer alguns sacrifícios para isso.
Para que o banco traseiro seja utilizável, é preciso empurrar a fileira central para frente. Isso sacrifica o espaço para as pernas. Porém, é vantagem da Spin reestilizada ter bancos do meio ajustáveis, algo que facilita e muito a vida no dia-a-dia. Lá atrás, o piso alto obriga o passageiro a ficar com o joelho acima do quadril. Ou seja, só crianças ficarão confortáveis ali.
Entretanto, como o abraço apertado daquela sua tia favorita que mora longe, a Spin recebe os passageiros com bancos confortáveis. De certa forma, compensam a falta de espaço e tornam a viagem menos cansativa. Mesmo em passeios mais longos, os passageiros e o motorista não reclamarão de dores nas costas. A não ser os da última fileira por conta do piso alto.
Lá na frente a Spin mantém o mesmo defeito de todo Chevrolet com plataforma GSV. Modelos como antigos Onix e Prisma (hoje chamados de Joy e Joy Plus), Cobalt e o antigo Tracker eram feitos sobre a mesma base da Spin. E comum a eles está a posição de dirigir excessivamente alta. Na Spin isso é menos irritante que no Joy, afinal ela é uma minivan e combina com ela.
Agrada a área envidraçada ampla e o para-brisa grande, que ajudam na sensação de amplitude da cabine. Ela não é alta como um SUV, mas posiciona o motorista mais alto que em carros comuns. Mas há outro pênalti na ergonomia: nada de ajuste de profundidade no volante, só altura.
Acadêmicos de São Caetano
A cabine é recheada de plásticos de boa qualidade na hora do tato, mas montagem deixam a desejar. O painel da versão aventureira Activ traz textura na parte central que contrasta com a cor preta usada no restante. É nesse miolo que fica a central multimídia, que é ladeada por uma borda cromada e por dois práticos porta-objetos.
Com vasto espaço interno, a Chevrolet Spin aproveita os nichos disponíveis para abrigar tranqueiras. As portas dianteiras trazem bolsões enormes capazes de levar uma garrafa d’água de 1,5 litros e mais algumas coisas. Já a ultima fileira tem a disposição porta-copos e um porta-objetos suficiente para um celular e uma carteira.
A Spin soube trabalhar bem as mudanças de texturas e materiais na cabine. Tanto que a Activ mescla couro e tecido em seus bancos. Mas, há rebarbas afiadas na parte traseira do volante e o porta-luvas tende a não fechar direito. Além disso, em ruas levemente irregulares, a escola de samba Acadêmicos de São Caetano começa a tocar.
Toda parte traseira da Spin range, sendo evidente a mistura de som de acabamento das portas e do porta-malas com os pontos de fixação do banco traseiro. Este que, aliás, fica pendurado por uma cordinha quando os assentos traseiros não são usados. Artifício necessário para liberar os 553 litros de capacidade do porta-malas (162 litros com os 7 lugares).
Respiro aliviado
Enquanto o restante da linha nacional de compactos da Chevrolet aposta em motores tricilíndricos turbinados, a Spin ainda é a moda antiga. Ela carrega debaixo do capô o mesmo motor Família I dos tempos do Monza. Trata-se de um 1.8 quatro cilindros aspirado que foi modernizado exaustivamente nos últimos anos. Ainda assim, tem tanquinho de partida a frio.
A última mudança o deixou mais econômico verdadeiramente, além de mais espertinho. Lembro de quando meu pai passou alguns anos com um Cobalt LTZ 1.8 automático que não somente se arrastava como o fez virar amigo dos frentistas do posto de gasolina. Na Spin não é tão sofrido assim, pelo contrário.
Os 111 cv e 17,7 kgfm de torque dão conta do recado. A Chevrolet Spin é espertinha e anda bem para seu porte, entregando bom torque em baixa rotação. O engraçado é que ela sempre parece estar andando mais rápido do que de fato está. Essa agilidade em baixas rotações e em ambiente urbano não se traduz tanto na estrada.
Em altas velocidades e rotação mais alta, ela perde um pouco do fôlego e sofre para fazer ultrapassagens. Carregada com sete pessoas, ela começa a sentir o peso do público e tende a manter o motor em giro mais alto, além de começar a se arrastar. Dá para dizer que esse 1.8 é suficiente para a Spin, mas o 1.0 três cilindros turbo seria mais que bem-vindo aqui.
O consumo, que sempre foi problema desse 1.8, está melhor. Em nossos testes abastecida com gasolina, a Spin manteve média de 10 km/l com trechos de cidade e estrada alternados. Segundo o INMETRO, ela faz 10,2 km/l na cidade com gasolina e 11,8 km/l na estrada. Já com etanol, são 7,1 km/l na cidade e 8,3 km/l na estrada.
Aventura urbana
Voltada ao conforto, a Chevrolet Spin tem direção macia e que filtra muito do que se passa no asfalto. Ela é leve em todas as situações, mas sem ser boba. Deixa evidente o comportamento nada esportivo da minivan. Assim com a suspensão. Ela tende para a neutralidade: ou seja, não é molenga, nem dura.
O problema é a barulheira vinda do conjunto da suspensão. A cada buraco enfrentado, a suspensão produz excessivo ruído, em especial na traseira. É um problema enfrentado também pelos seus irmãos mais novos com plataforma GEM, como Onix Plus, Onix e o novo Tracker. E por conta da carroceria alta, ela ainda tende a inclinar nas curvas.
Mas a questão é que a Spin ficou um tanto quanto baixa para o ambiente urbano brasileiro em relação ao solo. Em especial se considerada que essa versão aventureira Activ raspa a dianteira mais do que deveria. Mais até que o Camaro. A saia aerodinâmica na dianteira raspa em valetas, saídas de garagem e guias um pouco mais altas.
Além disso, encarar uma estrada de terra com a Spin não será uma aventura divertida. Ela vibra excessivamente e se mostra completamente desconfortável nessa situação. A carroceria trepida e a suspensão não lida bem com as imperfeições. Assim, a versão Activ deixa bem claro que é feita para o ambiente urbano, apesar do traje aventureiro.
Na pegada confortável também está a transmissão automática de seis marchas. Ela faz troca suaves a maior parte do tempo. Mas vez ou outra surpreende com um tranco forte. Ela sobe de marcha cedo para aproveitar o torque em baixa da Spin e é esperta suficiente para entender a hora de fazer reduções para acelerar.
Pacote enxuto
Por R$ 111.890, a Chevrolet Spin Activ só se diferencia da versão Premier automática de R$ 109.690 pelo visual aventureiro. Ela tem um pacote de itens de série que era interessante há alguns anos, mas que já se faz perceber que na faixa dos R$ 100 mil, alguns itens estão faltando.
Não há, por exemplo, ar-condicionado digital ou chave presencial – itens que o Onix tem em uma faixa de preço inferior. Contudo, ela traz retrovisores elétricos, vidros elétricos nas quatro portas, sensor e câmera de ré, faróis com acendimento automático, sensor de chuva, controle de tração e estabilidade, assistente de partida em rampa e OnStar.
A central multimídia tem Android Auto e Apple CarPlay, mas está uma geração atrasada em relação aos outros Chevrolet. Tem tela com definição apenas ok e velocidade de processamento boa. Mas os menus são levemente bagunçados e com visual datado. Wi-fi à bordo como nos irmãos? Nem pensar.
Veredicto
A Chevrolet Spin é a última minivan vendida no Brasil e carro de sete lugares mais barato do país. Ela cumpre sua proposta familiar com louvor ao entregar bom espaço interno, lugar para sete pessoas e bastante conforto. O conjunto mecânico não é um destaque, mas também passa longe de ser um demérito, atendendo às expectativas.
No caso da Spin, os seus pecados são a suspensão barulhenta, o acabamento simples e a falta de tecnologia na faixa de preço acima dos R$ 100 mil. A ausência de concorrentes faz com que fique difícil cobrar da minivan esses itens e um acabamento mais refinado. Mas basta olhar para a mesma faixa de preço, mesmo fora da categoria.
Em suma, a Chevrolet Spin é o melhor carro para a família que precisa de espaço e quer algo bem mais moderno que um . Existem pontos de melhora? Sim. Mas como ela não tem concorrentes, pode até ter seus pecados que não deixa de ser uma ótima opção para quem realmente necessita de uma minivan.
>>Chevrolet Onix RS mira esportividade, acerta no conforto – Avaliação
>>Equinox mostra como é o Onix nos EUA – Avaliação
>>Onix Plus Midnight: sem erro como uma camiseta preta – Avaliação