Ao pé da letra, o GP Brasil não existe mais. Acontece que desde o ano passado a prova brasileira da Fórmula 1 foi renomeada como GP de São Paulo, mas convenhamos que informalmente todo mundo ainda se refere à corrida pelo nome antigo e mais clássico.

Presente no calendário da principal categoria do automobilismo desde 1973 (com uma prova extra-calendário em 1972), o grande prêmio brasileiro é um dos mais tradicionais da história. Nos primeiros anos, a prova foi realizada no traçado original de Interlagos e que tinha mais de 8 km de extensão. Entre 1980 e 1989, a prova foi transferida para o extinto circuito de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, voltando para SP em 1990, com o traçado atual – e encurtado.

São pouco mais de 4.300 metros e 11 curvas, além de 56 metros de elevação entre o ponto mais baixo e o mais alto do circuito, o que ajuda Interlagos a ser um dos traçados favoritos dos pilotos. E como amanhã começam as atividades na pista paulistana, confira a seguir um top 5 das maiores corridas de todos os tempos para já entrar no clima.

GP Brasil de 2003 – caos e vitória improvável 

Atualmente, a Haas tem um dos piores carros do grid, ficando constantemente fora dos pontos, mas longe de ser a lanterna como a Williams. Imagine, então, como seria se um dos carros do time vencesse a corrida do próximo domingo. Uma verdadeira zebra e que provavelmente quebraria casas de aposta em todo o planeta.

Voltemos para 2003 e foi basicamente isso que aconteceu. Aquele foi o último GP do Brasil realizado no começo do ano e a tradicional chuva de verão veio com peso, transformando alguns trechos da pista em rios. Schumacher foi uma das vítimas e bateu seu Ferrari na Curva do Sol. Barrichello, que também corria no time italiano e foi o pole, ficou sem combustível enquanto liderava, frustrando a torcida brasileira.

Porém, o final da prova guardaria o maior drama. Na volta 54, Mark Weber perde o controle do seu Jaguar e bate forte na Curva do Café. Fernando Alonso não conseguiu desviar dos destroços e também colidiu com violência, o que interrompeu a prova e fez com que ela acabasse sob bandeira vermelha. Naquele instante, o líder era Kimi Raikkonen, da McLaren, mas nessa situação o resultado que vale é o da volta anterior. E foi assim que Giancarlo Fisichella venceu a corrida, já que ele liderava de maneira improvável com o seu carro da Jordan na volta anterior. Essa foi a última vitória do time, que foi vendido em 2005.

GP Brasil 1975 – dobradinha à brasileira 

Ainda no traçado antigo de Interlagos, que era maior e até mais desafiador que o atual, a torcida brasileira pôde acompanhar de perto uma dobradinha brasileira nos primeiros lugares do pódio. 

Maior esperança de um triunfo naquela corrida, Emerson Fittipaldi tinha acabado de se sagrar bicampeão mundial no ano anterior, mas não conseguiu repetir o feito de 1973 e 1974, quando venceu em casa. O triunfo ficou com José Carlos Pace, que venceu uma corrida pela primeira e única vez, com Fittipaldi em segundo. Pace morreu em 1977, aos 32 anos, por conta de um acidente aéreo. Em sua homenagem, a pista de Interlagos tem o seu nome.

GP Brasil 2008 – vitória triste

É difícil falar dessa corrida sem se lamentar um pouco. Naquele ano, Felipe Massa, na Ferrari, e Lewis Hamilton, na McLaren e apenas em sua segunda temporada na F1, disputaram o título palmo a palmo. Quis o destino que a disputa durasse até a última corrida do ano, justamente em Interlagos, onde Massa poderia se tornar o primeiro brasileiro campeão do mundo em casa – além do primeiro desde 1991, quando Senna venceu seu terceiro título.

E isso chegou a acontecer, mas por apenas 30 segundos. Massa venceu a corrida e, nesse instante, era campeão do mundo, já que Hamilton estava em sexto e precisava ganhar pelo menos uma posição para garantir o título. E Lewis conseguiu na última curva, da última corrida, do último triunfo brasileiro em Interlagos. Uma vitória com sabor de derrota para Massa, que subiu no lugar mais alto do pódio pela última vez na carreira.

GP de São Paulo 2021 – Lewis é brasileiro 

A temporada de 2021 foi uma das mais disputadas da história. E o público brasileiro presenciou uma das maiores atuações de um piloto em Interlagos. Hamilton foi desclassificado após a classificação da sexta-feira, tendo que largar em último na corrida Sprint do sábado e que definiria a ordem da largada do domingo. Na corrida de classificação, Lewis saiu ultrapassando todo mundo e terminou em quinto, um desempenho já histórico.

Acontece que a magia aconteceu mesmo no domingo. Hamilton largou em 10º, por conta de uma outra puniçã;o, e era o terceiro já na volta 3. Era questão de tempo para o britânico alcançar o Red Bull de Max Verstappen para assumir a ponta. E isso aconteceu após algumas voltas com os dois disputando. Lewis venceu e ainda emocionou a todos quando pegou a bandeira do Brasil para comemorar, como seu ídolo, Ayrton Senna, fazia. Uma vitória histórica e que resultou no título de cidadão brasileiro honorário.

GP Brasil 1991 – enfim, Senna

Não tem como não colocar essa corrida no lugar mais alto do pódio. Em 1991, Senna já era bicampeão do mundo e conquistaria o título daquela temporada. Só que a vitória no Brasil insistia em não acontecer. O piloto era pole quase todo ano em seu país, mas nada do triunfo vir.

Em 1991, ele veio, mas com drama. Senna liderava com uma certa folga quando começou a perder as marchas de seu McLaren. Faltando seis voltas, apenas a sexta marcha funcionava. Para piorar, começou a chover. Ayrton precisou mudar o jeito de pilotar para manter o carro funcionando, chutando a embreagem na saída das curvas para elevar o giro do motor, de modo que seu carro não morresse.

Há quem duvide do milagre da sexta marcha, mas há vídeos que comprovam que Senna de fato estava usando a embreagem para manter o giro do motor alto, o que prova a façanha. Ao fim da prova, o brasileiro estava realizado, mas extremamente cansado, a ponto de mal conseguir levantar o troféu. Essa cena está imortalizada em Interlagos, em lindo mural assinado pelo artista brasileiro Kobra.

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