Foi um GP do Brasil com todos os componentes que fazem dele uma corrida especial. Ou melhor, quase todos: desta vez, a chuva não deu as caras (exceto pelo primeiro treino de sexta-feira, realizado na pista molhada). Mas afinal de contas: quem precisa dela, não é mesmo? Interlagos proporcionou uma prova inesquecível mesmo sem cair uma gota do céu.
Convenhamos que a própria relação de forças já estava meio do avesso. Max Verstappen alcançou a pole position pela segunda vez na carreira – a primeira foi na Hungria, em agosto. E embora o piloto da Red Bull Racing tenha liderado praticamente toda a corrida, os duelos com Lewis Hamilton e os pegas e enroscos do pelotão intermediário já chamavam a atenção.
O desgaste excessivo dos pneus levou os líderes aos boxes mais cedo do que o previsto. Hamilton parou primeiro; e Verstappen entrou logo depois. Na hora de sair, ainda tomou uma fechada bruta de Robert Kubica, que renderia punição ao adversário pela manobra perigosa. Resumo da ópera: Verstappen acabou perdendo a posição para Hamilton.
Mas o moleque, ousado que é, retomou seu lugar de direito na unha uma volta depois, na freada do “S do Senna”. O que já vinha sendo uma corrida acima da média ganhou contorno dramáticos a partir da 52ª volta (de um total de 71) quando o motor de Valtteri Bottas abriu o bico. O problema surgiu antes do “Mergulho”, mas ele só parou meio circuito depois, na reta oposta.
Ali, o resgate seria bastante complexo e foi necessária a primeira intervenção do safety car. Verstappen e sua engenheira Hannah Schmitz entenderam que era o momento perfeito para um terceiro pit stop, já que o calor e o asfalto de Interlagos estavam mesmo derretendo os pneus. Hamilton fez a estratégia inversa e ficou na pista.
Tolinho: tão logo a relargada foi autorizada, Verstappen passou por ele como se o carro da Mercedes não existisse. Sete voltas depois, veio o desastre. Charles Leclerc ultrapassou Sebastian Vettel de forma limpa na freada do “S do Senna”, mas o companheiro de equipe não se deu por vencido e acionou a asa móvel na reta oposta.
Enquanto ultrapassava Leclerc, Vettel atropelou a roda dianteira direita do piloto monegasco, que imediatamente viu sua corrida destruída. O mesmo aconteceu com Vettel, que teve um furo no pneu traseiro esquerdo – o mesmo em que houve contato, claro. O que se seguiu foi uma sinfonia de xingamentos via rádio, por parte dos dois envolvidos.
A Ferrari nega problemas de relacionamento entre sua dupla, mas o chefe de equipe Mattia Binotto disse que ambos deviam desculpas à equipe. Para a equipe, certamente; mas com os fãs eles não precisam se desculpar. O enrosco entre dos carros da Ferrari trouxe mais um safety car a seis voltas do final e fez a corrida pegar fogo.
Hamilton percebeu que tinha a possibilidade de vencer se colocasse pneus novos – e foi o que fez. Cumprindo um pit stop na 66ª volta, colocou pneus macios e caiu de segundo para quarto, mas teria um ritmo muito mais forte que o dos rivais. Dito e feito: na relargada, partiu alucinado para cima dos adversários. Mas a verdade é que deu ruim.
Afobado, Hamilton atingiu o terceiro colocado, Alexander Albon, que brigava pelo primeiro pódio da vida dele. Albon ficou ao contrário e Hamilton seria punido pela rara barbeiragem. Só que antes, teve um duelo de tirar o fôlego com o segundo colocado, Pierre Gasly. Os dois cruzaram a linha de chegada separados por apenas 0s062, com Gasly em segundo.
Foi a redenção de Gasly, rebaixado para a Toro Rosso no meio do ano. Em função da punição a Hamilton, quem herdou o terceiro lugar foi Carlos Sainz, da McLaren, que havia largado em último em função dos problemas de motor da véspera. Foi o primeiro pódio dele na F-1 e o primeiro da McLaren desde 2014.
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