A Fórmula 1 voltou a viver neste fim de semana a estranha sensação de ver a dor e o luto se sobrepondo ao que o esporte se propõe a entregar: o entretenimento. No sábado, logo após o treino que definiu as posições de largada do GP da Bélgica, o francês Anthoine Hubert, de 22 anos, envolveu-se em um terrível acidente na Fórmula 2, na saída das curvas Eau Rouge e Raidillon.
O carro dele atingiu a barreira de pneus, ficou atravessado e foi acertado na lateral a toda velocidade pelo norte-americano Juan Manuel Correa, partindo-se ao meio. Os dois pilotos foram atendidos pela equipe médica e encaminhados aos hospitais locais, mas Hubert não resistiu aos ferimentos e teve a morte confirmada uma hora e meia depois do impacto.
O acidente chocou o mundo do esporte a motor, mas atingiu profundamente seus melhores amigos, que com ele formavam um quarteto inseparável, que se conhecia desde os tempos do kart: os também franceses Pierre Gasly e Esteban Ocon e o monegasco Charles Leclerc. Horas antes da morte de Hubert, Leclerc havia feito a pole position para a corrida da Fórmula 1.
Embora a Fórmula 2 tenha cancelado toda a sua programação em função do ocorrido, a Fórmula 1 manteve a corrida para o domingo. Saindo na frente, de luto pela perda do companheiro de tantas disputas, Leclerc abraçou a mãe de Hubert no grid de largada e recebeu do amigo Pierre Gasly um pedido que serviu como combustível para encarar aquele desafio.
“Eu falei para o Charles [Leclerc] antes da prova: ‘Por favor, ganhe essa corrida pelo Anthoine’”, disse Gasly. “Porque nós começamos a correr no mesmo ano, Charles, Anthoine e eu. Primeiro foi o Jules [Bianchi, morto em 2015] e agora o Anthoine, penso que são notícias terríveis para o automobilismo francês. Eram duas pessoas ótimas, incríveis. É muito difícil de entender”.
Mostrando-se focado e determinado desde a largada, Leclerc conseguiu realizar o desejo de Gasly e cruzou a linha de chegada na frente, apesar de intensa pressão de Lewis Hamilton na parte final da corrida (os dois terminaram separados por apenas 0s981). Foi a primeira vitória de Leclerc na Fórmula 1, depois das frustrações no Bahrein e na Áustria.
“É um sonho que se torna realidade. Mas é difícil curtir em um fim de semana como esse. Quero dedicar esta vitória ao Anthoine. Perdemos um amigo. Na minha primeira corrida, aos sete anos, ele estava na pista. É muito triste, mas é uma memória que vai me acompanhar para sempre”, destacou Leclerc, bastante emocionado.
Apesar do domínio de Leclerc, a corrida foi bastante movimentada no pelotão intermediário, incluindo uma trapalhada de Max Verstappen logo na primeira curva: o piloto holandês calculou mal a freada e atingiu o carro de Kimi Räikkönen, estragando sua própria corrida e frustrando a multidão de torcedores nas arquibancadas (a Bélgica faz fronteira com a Holanda).
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