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Q8 é um Audi de múltiplas personalidades e fora do padrão | Avaliação

Para que ser igual a todos os outros quando você pode ser um Audi Q8 que ainda chama atenção mesmo depois de quatro anos do lançamento?

Audi Q8 [Auto+ / João Brigato]
Audi Q8 [Auto+ / João Brigato]

Desde que o Porsche Cayenne provou que dá para fazer um SUV gigantesco com pegada esportiva, todas as marcas de luxo foram atrás. A Audi há anos tem SUVs, mas só arriscou se intrometer no território do primo em 2018 com o lançamento do Q8. Ele assumiu o posto de topo de linha da marca, mas isso lhe causou múltiplas personalidades.

Tal qual o(s) personagem(s) de James McAvoy no filme Fragmentado, o Audi Q8 consegue se transformar em carros de comportamentos completamente diferentes ao apertar de um botão. Ao mesmo tempo em que cumpre diversos papéis dentro da linha Audi. Por R$ 699.990, a versão Performance Black mostra esse lado multifacetado do modelo.

Jamanta

O que mais impressiona no Audi Q8 é seu tamanho. Ele não parece tão grande nas fotos quanto verdadeiramente é ao vivo e ao volante. São proporções semelhantes aos salsichões alemães quando comparados às tímidas salsichas brasileiras que você encontra no açougue do supermercado no Brasil.

Audi Q8 [Auto+ / João Brigato]
Audi Q8 [Auto+ / João Brigato]
Com 4,99 m de comprimento, ele é só 25 cm mais curto que uma Volkswagen Amarok. Já os 1,99 m de largura o tornam 5 cm mais bojudo que sua prima caminhonete, mas a altura de 1,70 m o deixa só 9 cm mais alto que um Q3, o menor SUV da Audi. Ou seja, medidas de uma jamanta, mas proporções de um esportivo: longo, largo e baixo.

O disso é um visual estonteante. O Q8 parece um carro forte, não no sentido de robustez, mas no de cavalaria, potência e esportividade. A dianteira com grade frontal gigante integrada aos faróis dá um olhar agressivo que faz qualquer um abrir passagem ao ver o Audi pelo retrovisor. Mas a traseira truncada e com vidro bem inclinado trazem a ele uma pegada cupê bela.

Audi Q8 [Auto+ / João Brigato]
Audi Q8 [Auto+ / João Brigato]
Junte isso às elegantes lanternas conectadas e fica fácil entender o motivo pelo qual o Audi Q8 continua a chamar atenção nas ruas mesmo sendo um carro com quatro anos de lançamento. Ok que esse modelo testado no Laranja Dragão também ajudava um pouco a colocar os holofotes sobre ele. Um Porsche Cayenne não chama mais tanta atenção assim.

Paizão

Parte dessas proporções generosas criam dois efeitos no Q8: muito espaço interno e dinâmica de gente grande. Tudo bem que não terá os sete lugares como existe no Q7, mas os cinco passageiros que cabem no Q8 serão muito bem atendidos. O SUV é espaçoso nos quatro cantos e ninguém vai reclamar disso.

Audi Q8 [Auto+ / João Brigato]
Audi Q8 [Auto+ / João Brigato]
Na frente, ajustes elétricos para tudo, desde os bancos até o volante e retrovisores. Aliás, o banco e o volante se afastam para facilitar sua entrada. Só não tem memória para o banco dos passageiros. Atrás, os bancos deslizam sobre trilhos e contam com alavanca para regular a inclinação do encosto, mas que fica mal posicionada e é pouco visível.

O tamanho extra largo do Q8 fica claro ao perceber que o console central é tão largo que caberia facilmente uma pessoa sentada ali. Ele é alto e divide a cabine em duas zonas individuais para motorista e passageiro. A vantagem é que há bastante espaço para cacarecos variados por ali.

Audi Q8 [Auto+ / João Brigato]
Audi Q8 [Auto+ / João Brigato]
Atrás, mesmo quando há um motorista alto, o passageiro traseiro consegue cruzar as pernas. Eu tenho 1,87 m de altura e sentei atrás da minha posição para dirigir. Havia espaço de sobra para as pernas, mas também para a cabeça, apesar de o Q8 ter estilo cupê. Só é curioso um carro tão novo ter cinzeiros nas portas traseiras – talvez por conta do mercado chinês.

E tudo nele é grande: o volante é maior do que precisava, a manopla de câmbio também, as telas e até alguns botões. Aliás, as telas merecem grande destaque. O painel de instrumentos é bem completo, com ótima definição e mudanças rápidas de menus, algo que não acontece em todos os modelos com cluster digital.

Já a central multimídia é referência em facilidade de uso e velocidade de navegação. O mais legal é que ela e a tela do ar-condicionado precisam ser pressionadas como um botão físico para funcionar (fora do Android Auto e do Apple CarPlay). Isso ajuda a dar certeza sobre o local em que está clicando. Até o barulho é igual ao de um botão físico.

Na tela do ar-condicionado, o Q8 tem diversos atalhos e gestos que podem ser feitos para comandar mais rapidamente o sistema. Basta arrastar a barra de temperatura para um ponto exato para selecionar o grau ou juntar os dois dedos como se tirasse o zoom de uma foto para sincronizar as temperaturas. Genial.

[Auto+ / João Brigato]
[Auto+ / João Brigato]

Smartphone

Mas não é só sobre telas o Audi Q8. Ele é bem recheado de tecnologias e mimos para agradar aos passageiros. A mais interessante de todas é a visão noturna, a qual permite enxergar pessoas a noite pelo painel de instrumentos mesmo em regiões muito escuras e em áreas que o farol não alcança.

Ele tem piloto automático adaptativo que funciona com maestria e precisão, tal qual o sistema de manutenção em faixa. A lista de itens de série ainda agrega vetorização de torque, câmeras 360° com função 3D, controle de tração e estabilidade, seis airbags, frenagem autônoma de emergência, alerta de tráfego cruzado, ar digital de quatro zonas e chave presencial.

Audi Q8 [Auto+ / João Brigato]
Audi Q8 [Auto+ / João Brigato]
O porta-malas abre eletricamente, mas não somente a tampa: a cobertura que esconde suas compras e malas também é retrátil eletricamente e funciona em silêncio e de maneira tão sutil que você nem percebe que ela foi aberta ou fechada. Vale destaque ainda para itens como park assist, alerta de ponto cego e lavador de faróis.

Biblioteca

Se até agora algumas das personalidades do Audi Q8 convergem para uma mesma direção, ao volante tudo muda de acordo com o modo selecionado ou o estilo de condução. Debaixo do capô reside um motor 3.0 V6 de 340 cv e 51 kgfm de torque gerenciado por uma transmissão automática de oito marchas.

Audi Q8 [Auto+ / João Brigato]
Audi Q8 [Auto+ / João Brigato]
Em modo Efficiency, o Q8 é o lorde da economia e do silêncio. Engole as marchas como se fosse um jovem no McDonald’s após uma balada regada a muito álcool. A rotação vive baixa e o silêncio na cabine impera. Nesses momentos ele supera os 7 km/l, que foi a média obtida durante os testes que envolveram cidade, estrada e os outros modos.

Em Comfort, o Q8 fica um pouco mais comedido na hora de engolir marchas, mas segue silencioso, pacato e elegante, com trocas imperceptíveis. É essa a melhor combinação para passeios longos e estrada. Como o SUV é bem isolado acusticamente, terá um carro que roda como um tapete mágico de maneira serena previsível.

Audi Q8 [Auto+ / João Brigato]
Audi Q8 [Auto+ / João Brigato]
É um verdadeiro cruzador de quilômetros. Pena que a posição de dirigir seja um pouco esquisita. Ele é um SUV, então é mais alto que a média. Contudo, a construção da cabine e o volante grande te fazem sentar mais baixo que um utilitário. É um jogo de dois lados opostos brigando e que não produzem um resultado perfeito. Mas o banco é confortável, pelo menos.

Há também de pontuar que o acelerador tem um incômodo delay em qualquer modo de condução. Você pisa e o Q8 demora alguns segundos para processar que você quer sair. Fica aquele sentimento de: “vamos, meu filho”. Só que ele não nega fogo nunca, sendo um carro bastante forte nas acelerações.

Audi Q8 [Auto+ / João Brigato]
Audi Q8 [Auto+ / João Brigato]
Destaque também para o sistema start-stop o qual desliga o motor próximo da parada total. O Renault Kwid também faz isso, mas o Q8 tem uma sublime suavidade na qual torna o processo de ligar e desligar o motor tão imperceptível que esse é um dos primeiros start-stop que mesmo os motoristas mais chatos não vão desativar. Até porque nem perceberão ele atuando.

Rolo compressor

E é justamente no modo Dybamic que ele mostra sua veia esportiva. O V6 ronca alto, acelera forte e te faz grudar no banco. Consegue entender como um SUV enorme de duas toneladas (2.270 kg) chega aos 100 km/h em 5,9 segundos? Em linha reta, ele dispara com toda força e ímpeto de um hatch compacto.

Audi Q8 [Auto+ / João Brigato]
Audi Q8 [Auto+ / João Brigato]
A questão do peso reflete na hora das curvas. O Q8 tem muita massa para lidar e ele joga todo seu peso nas curvas fazendo a frente querer sambar um pouco em alta velocidade. Só que a tração quattro consegue fazer o Audi contornar curvas muito mais rápido do que deveria e sem fazer o pneu cantar. É bom de curva, mas chega ao limite fácil.

Ele só não é mais rápido e ágil em uma estrada sinuosa porque é um carro grande demais e pesado demais. Se fosse elétrico teria centro de gravidade mais baixo por conta das baterias e poderia lidar melhor com essa dinâmica. Nesse caso, o Porsche Cayenne ainda tem algumas lições para ensinar ao seu primo.

Audi Q8 [Auto+ / João Brigato]
Audi Q8 [Auto+ / João Brigato]
A direção é mais pesada que a média, pendendo para o lado esportivo, apesar de passar pouco feedback do asfalto. Contudo, por ser rápida e ágil, faz a manobrabilidade e a dinâmica em alta velocidade algo bastante apurado. Isso faz com que, mesmo sendo enorme, o Q8 consiga mudar de trajetória na mesma rapidez de um hatch compacto apimentado.

Outro ponto é a suspensão. Ela é confortável para estradas e ruas bem asfaltadas. Mas o Q8 é um SUV que não gosta de buraco ou off-road. Ele reclama de imperfeições, bate seco e faz barulho ao atingir um buraco. Se comporta da mesma maneira que um sedã alemão típico nos buracos, ainda que incline mais do que deveria nas curvas.

Audi Q8 [Auto+ / João Brigato]
Audi Q8 [Auto+ / João Brigato]

Veredicto

Grande demais, luxuoso e bonito, o Audi Q8 consegue ainda ter o fator Uau mesmo depois de quatro anos de estrada. Ele se propõe a ser esportivo, mas não está no mesmo nível do Porsche Cayenne. Só que não há problema nisso: afinal quem quer o Cayenne, que vá na Porsche – ou na Lamborghini atrá;s do Urus.

A pegada é outra: quer um carro confortável para dirigir muitos quilômetros sem cansar? O Audi é assim. Gosta de abusar da aceleração e fazer curvas sinuosas? O Q8 vai bem nessa tarefa também, apesar de não ser referência. São muitos modelos em um, muitos Audi em um. E ainda totalmente fora do típico padrão da marca de porte, já que parece um SUV americano.

Audi Q8 [Auto+ / João Brigato]
Audi Q8 [Auto+ / João Brigato]

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