Muito se questiona sobre o forte movimento hoje dos compradores de carros em preferir um SUV do que um modelo tradicional. Entendo que é por causa da sensação de robustez, do espaço interno farto e do status. Mas na semana que passei com o Audi A6, me questionei seriamente se é verdadeiramente isso que alguém precisa.
Ao contrário da maioria dos meus colegas jornalistas, eu gosto de SUVs. Eles têm sua razão de existir e sua usabilidade. Mas não são toda as pessoas que precisam deles, especialmente no segmento de luxo muito bem atendido pelos sedãs. E é no Audi A6 Performance Black que está meu ponto.
Por R$ 571.990, ele está na mesma faixa de preço de SUVs grandes como Volvo XC90 e de seu irmão Audi Q7, que são verdadeiros trambolhos de sete lugares. Quem usa sete lugares todos os dias? Pois é. Na linha brasileira o A6 fica meio apagado , que tem bom volume de vendas, e o A8, que é o sedã mais luxuoso da marca.
E ainda tem que dividir atenção com a rainha das peruas, a RS 6 Avant, que é a representante máxima da linha RS da Audi. Mas isso não significa que a versão Performance Black do sedã grande da Audi faça feio. Mas será que ele tem direito a um lugar no sol frente a tantos modelos a sua volta roubando o holofote?
Lorde germânico
A sisudez visual do Audi A6 combina e muito com sua entrega ao volante. O sobrenome Performance Black pode até evocar certo tempero esportivo, mas o sedã é suave, educado e cortês. São 340 cv e 51 kgfm de torque oferecidos pelo motor 3.0 V6 turbo a gasolina que levam esse Audi aos 100 km/h em 5,1 segundos.
Impressiona a maneira com a qual ele entrega essa performance de maneira suave e linear. O A6 não arranca bruscamente, ele vai ganhando velocidade progressivamente, mas com força para te grudar no banco e abrir um sorriso no rosto. O motor V6 trabalha de maneira extremamente linear e constante, com entregas de torque instantâneas e a contento.
Com sete marchas, a transmissão automatizada de dupla embreagem com sete marchas também segue por esse comportamento. Faz trocas imperceptíveis e ajuda o motor V6 a sempre trabalhar em ritmo mais baixo de rotação. Dado o silêncio interno, o A6 tem horas que se comporta como um carro elétrico.
Mas há certa dose de eletricidade ali. O Audi A6 Performance Black é equipado com sistema micro-híbrido que possibilita alguns truques para chegar aos 8,3 km/l na cidade e 10,3 km/l na estrada. Ele desliga o motor em velocidade de cruzeiro na estrada por alguns quilômetros, enquanto na cidade desativa o V6 quando se aproxima de uma parada em sinal já em 3ª marcha.
Todo religamento e desligamento do motor é feito de maneira imperceptível, salvo o conta-giros derrubado no painel de instrumentos totalmente digital. Outro truque da Audi é vibrar o pedal do acelerador quando ele entende que não há necessidade de acelerar naquele momento – mas todas as vezes ele só provocou sustos e fez a sugestão na hora errada.
Raiz forte
Não há como negar, no entanto, as raízes do Audi A6. Com tração nas quatro rodas, chamada de quattro, ele é um engolidor de curvas. Os pneus 255/40 R20 chegam ao limite antes do sedã, cantando enquanto a carroceria se mantém extremamente estável e engolindo o centro da curva.
É impressionante como esse sedã de 4,93 m de comprimento, 1,88 m de largura e entre-eixos de 2,92 m parece tão na mão quanto um hatch compacto. A direção tem peso preciso, pendendo levemente para o lado mais firme. Mas ela é rápida e com bom feedback do asfalto. Junte isso à posição baixa de dirigir e o Audi A6 o compensará com bom comportamento.
O interessante é que, em geral, modelos baixos como ele, que tem apenas 1,45 m de altura, tendem a não se comportar bem em asfalto ruim. A suspensão do A6 é voltada para um comportamento bom em curvas, mas sem penalizar os ocupantes com molas duras. Como resultado, se da bem nas ruas brasileiras que estão longe de ser um carpete.
Até mesmo uma estrada de terra o A6 teve de enfrentar durante o teste, pois foi com ele que me dirigi até o Haras Tuiutí, interior de São Paulo, para o lançamento do novo Hyundai Creta. Outros modelos premium já passaram por ali com muito mais sofrimento que ele, que lidou bem com a estrada ruim sem reclamar.
Tratamento de refinamento
Modelos da categoria do Audi A6, como Mercedes-Benz Classe E, Volvo S90 e BMW Série 5 costumam ser dirigidos por seus donos, mas vez ou outra também por motoristas particulares. Por conta disso, ele deve tratar bem tanto quem se senta na frente, quanto a turma da segunda fileira.
Por toda a cabine, o acabamento é esmerado, com materiais macios ao toque, metal e couro de ótima qualidade. Até mesmo o cheiro da cabine é sofisticado e muito agradável. A única exceção fica por conta do plástico na lateral do console central que é fino e tem aspecto barato. Os bancos dianteiros tem profusão de ajustes e são bastante confortáveis.
Já quem se senta atrás tem a disposição duas saídas de ar, controles individuais do ar-condicionado e muito espaço para pernas e cabeça. O A6 ainda é recheado de tecnologia, conta com duas telas no painel que exigem serem apertadas com força, como um botão, para realizarem as funções. É uma estratégia interessante e que adiciona mais segurança na operação.
As duas telas, junto do painel de instrumentos digital, têm excelente definição, são rápidas na execução de suas respectivas tarefas e tem utilização fácil. Tudo no A6 é intuitivo, mas até os truques de utilização são explicados pelo próprio carro em pop-ups expostos em alguns momentos específicos.
Destaque tecnológico ainda vai para a presença de sistema de visão noturna e piloto automático adaptativo com sistema de manutenção em faixa. Ou seja, o Audi A6 consegue andar praticamente de forma autônoma e, quando as luzes são escassas, ele te mostra o caminho à frente diretamente no painel e com nitidez surpreendente.
Veredicto
Em um mundo dominado pelos SUVs e dentro de uma concessionária onde outros modelos chamam muito mais atenção do que ele, o Audi A6 tem vida difícil. Mas na convivência ele se provou ser um modelo para todos os momentos e surpreendentemente competente.
Ele é grande de fato, mas não parece uma banheira sobre rodas. Tem boa condução para divertir o motorista, mas luxo suficiente para fazê-lo optar pelo banco traseiro vez ou outra. É uma aposta cara, na casa de meio milhão de reais. Mas o que mais alguém precisa em um carro hoje em dia que o A6 não é capaz de suprir?
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