Aqui no Brasil os sedãs executivos sempre foram um grande símbolo de status. Quantas vezes você não passou por um restaurante e um Mercedes-Benz Classe C ou um BMW Série 3 eram exibidos na porta como um troféu de requinte para o estabelecimento? O Audi A4 também, mas ele sempre correu por fora.
Apesar de ter tido seus momentos de destaque no mercado, a maior parte do tempo vendeu menos do que os rivais. E isso não é demérito do A4, já que a Audi mira com ele um público bem diferente. Testamos a versão topo de linha Performance Black de R$ 304.990 (R$ 332.490 com todos os opcionais da unidade testada) para desvendar seus segredos.
Serenidade no olhar
Enquanto Classe C e Série 3 são carros de condução reconhecidamente dura, esportiva e às vezes arisca por conta da tração traseira, o Audi A4 vai para o outro lado do prisma. Ele é um sedã voltado para o conforto e tem dirigibilidade mais serena e relaxada.
A Audi fez um bom trabalho de tropicalização com o sedã, tornando a suspensão pronta para a buraqueira brasileira. Mesmo com pneus 245/40 calçados em rodas de 18 polegadas, o A4 lida bem com as imperfeições, vencendo asfalto ruim sem transmitir incômodos àqueles que estão em sua cabine.
Já em uma ambiguidade está a direção. Até ¾ de volta ela é bastante leve e exige pouca força, mas dali em diante, apresenta uma firmeza extra. No trânsito, apesar de suas medidas embanheiradas (4,77 m de comprimento, 1,84 m de largura, 1,42 m de altura e 2,82 m de entre-eixos), o A4 é ágil.
Em curvas, o Audi surpreende pelo controle e neutralidade. Boa parte desse atributo pode ser creditado à excelente tração integral quattro, de série apenas na versão Performance Black – o restante das versões tem tração dianteira. Com ela, o sedã distribui igualmente a força entre as rodas, ou as envia sob demanda.
Degrau antes da RS 4
Como não temos o Audi S4 no Brasil, pois essa versão esportiva tem motor diesel, o A4 Performance Black é o último ponto para o sedã e um degrau abaixo da endiabrada perua RS 4 de R$ 585.990.
Debaixo do capô de todo A4 vendido por aqui reside um motor 2.0 TFSI quatro cilindros turbo, mas com dois ajustes diferentes de potência. As versões de entrada apresentam 190 cv e 32,6 kgfm de torque, enquanto o Performance Black testado vai a 249 cv e 37,7 kgfm.
Como a Audi reforçou o lado confortável do A4, ele não transmite tanto assim a potência que tem. Mesmo chegando aos 100 km/h em 5,8 segundos, o sedã não te gruda no banco com violência ou passa a ideia de Performance que tem em seu nome.
Sim, ele é um sedã rápido e bastante ágil, mas graças ao ótimo isolamento acústico e ao conjunto voltado para uma pegada mais serena, ele parece não andar o tanto que anda. A transmissão automatizada de dupla embreagem e sete marchas S-Tronic também ajuda nessa sensação.
A não ser que você faça uma arrancada segurando o acelerador e o freio ao mesmo tempo, o A4 tem um certo delay entre o pisar no acelerador e de fato sair andando. É um comportamento muito semelhante ao apresentado pelo Q3 que tem o mesmo câmbio.
Apesar disso, as trocas são imperceptíveis e bastante ágeis. Trancos, vez ou outra, são sentidos em reduções. Mas em ritmo forte, o A4 entrega tempero esportivo no câmbio. Ainda assim, ele tem a tendência de esquecer de ligar o assistente de partida em rampa, indo para trás involuntariamente.
Banho tecnológico
Um dos grandes trunfos da Audi perante seus rivais foi a adoção mais rápida de algumas tecnologias. Enquanto o antigo A4 já estava meio atrasadinho, a reestilização trouxe a ele alguns mimos interessantes, como estacionamento automático e belíssimos faróis e lanternas de LED que produzem um show de luz sempre que ele é ligado ou desligado.
Pena que para ter isso seja preciso desembolsar R$ 12.000 pelo kit de faróis LED-Matrix. Tecnologia, que vale ressaltar, cria zonas de iluminação e zonas escuras para não ofuscar outros motoristas, permitindo uma iluminação perfeita mesmo em ambientes com luz pública irregular ou total ausência de fontes aridificais de claridade.
A versão testada ainda contava com alerta de ponto cego e de tráfego cruzado com frenagem automática (R$ 8.000), head-up display (R$ 7.500) e sistema de som premium Band&Olufsen (R$ 8.000) – itens que engordam a conta do A4 Performance Black em R$ 332.490, na faixa de rivais híbridos como BMW 330e M Sport e Volvo S60 Polestar.
De série ele traz alguns sistemas interessantes, como o piloto automático adaptativo com assistente de manutenção em faixa. Mas vale um adendo. Ainda que o piloto automático funcione muito bem, incluindo função de parada total, o assistente de manutenção em faixa do modelo testado era um tanto quanto sistemático.
Ele lia faixas somente em condições muito perfeitas em estradas bem iluminadas. Em ambiente urbano, durante a noite ou em velocidades baixas, não havia atuação. Além disso, entre 60 km/h e 80 km/h, o sistema funcionava e desligava constantemente. A correção do volante também é insuficiente, diferentemente dos sistemas da Mercedes e da Volvo que praticamente dirigem sozinhos.
Rejuvenescimento facial
Apesar de ter sido lançado no começo de 2019 na Europa, a reestilização do Audi A4 só chegou ao Brasil recentemente como linha 2021. O frescor foi mantido, ainda que ele use as mesmas rodas de 18 polegadas de antes, que parecem menores do que de fato são.
O A4 é um sedã elegante, com capô longo, linha de cintura média e perfil de sedã tradicional, com traseira bem marcada e vidro traseiro pouco inclinado. A reestilização trouxe faróis com pontos de LED individuais, grade frontal mais larga e uma quantidade generosa de falsas entradas de ar, incluindo a abertura debaixo do capô homenageando o Audi Quattro.
Atrás temos lanternas com a mesma temática de LEDs da dianteira e ligadas por um friso preto brilhante. O para-choque foi mudado e traz molduras para as saídas de escape, a fim de parecerem maiores.
A cabine é elegante, com acabamento de qualidade exemplar e facilidade de comandos. A Audi deixou tudo que é necessário operar muito próximo das mãos, incluindo um prático botão de volume próximo da manopla de câmbio.
Mas a mudança mais importante está na central multimídia. Finalmente o sistema controlado por um touchpad no console foi substituído por uma tela sensível ao toque, mais prática e intuitiva. Ela tem boa definição, fácil de usar e gráficos modernos, sendo uma das melhores do mercado.
A Audi ainda equipou o sedã com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, além de carregamento de celular por indução logo abaixo do descansa-braço central. O painel digital foi atualizado com novos gráficos e a inclusão do medidor de combustível e temperatura do motor em submenus do computador de bordo.
Questão espacial
Com medidas generosas, era de se esperar que o Audi A4 tratasse todos os passageiros com vastidão de espaço. Mas não é o que acontece. Motorista e passageiro dianteiro contam com muita área para as pernas, ajustes para todos os lados e possibilidade de dirigir bem baixo e com as pernas esticadas.
Contudo, quem senta atrás sofre. O espaço para a cabeça é apertado e piora por conta do teto solar elétrico, obrigado a Audi a escavar um buraco para que convidados mais altos possam ficar por ali. O teto preto não ajuda nessa sensação também.
O espaço é feito para duas pessoas atrás somente, já que um terceiro passageiro vai sofrer com a almofada central dura e o encosto para as costas ainda mais duro por conta do porta-objetos camuflado ali.
A compensação fica por conta do ar-condicionado de três zonas e dos bancos confortáveis revestidos com uma elegante mistura de couro e Alcântara. O acabamento replicado nas portas e que produz um belíssimo efeito durante a noite por conta da iluminação ambiente.
Veredicto
Apesar do pomposo nome Performance Black, o Audi A4 topo de linha é um sedã voltado para o conforto e quem aprecia tecnologia. Elegante e sereno, ele segue por um caminho diferente de Mercedes-Benz Classe C e BMW Série 3, se aproximando mais do Volvo S60.
Problema é o rival sueco ser mais barato, híbrido e ainda carregar mais tecnologia que o Audi A4. Além disso, dentro da própria Audi existem algumas opções mais interessantes pelo lado da esportividade como A3 Sedan e o A5 Sportback.
Ao contrário do seu farol com tecnologia Matrix, o Audi A4 é ofuscado e ao olhar para o lado na concorrência. Ainda assim, tem seu brilho próprio individual e atributos que o fazem ser até hoje um dos principais sedãs executivos no mundo.
>>Avaliação: Volvo S60 T8 R-Design é canivete sueco melhor que os rivais
>>Avaliação: Audi Q3 Black é prova que luxo não tem que ser esportivo
>>Audi RS 4 é a explicação do porquê peruas são tão legais – Impressões